O Acordo Global dos Plásticos emerge como uma resposta global ao desafio do enfrentamento da poluição plástica. Com 160 nações envolvidas, as discussões estão avançando rumo a uma decisão até o fim do ano. E o objetivo é claro: estabelecer um conjunto de provisões que abranjam governos, empresas e organizações civis, em busca de soluções para o problema da poluição plástica que afeta o nosso meio ambiente. Isso significa eliminar, principalmente, o vazamento de qualquer resíduo plástico para o meio ambiente e transformá-lo em recurso, promovendo o desenvolvimento sustentável por meio da economia circular.
O acordo teve origem em 2021 e as discussões só começaram efetivamente em 2022. Atualmente, o grupo de discussões está na quarta rodada de negociações, com uma reunião final programada para o fim do ano. As discussões estão progredindo de forma positiva e os participantes têm criado maior clareza sobre a viabilidade de um acordo, ou seja, uma orientação geral e pontos mais específicos para cada país.
O Brasil, assim como os outros países, enfrenta desafios na gestão de resíduos sólidos, mesmo com a existência de leis como a do Meio Ambiente e a Política Nacional de Resíduos Sólidos em vigor. E, do ponto de vista da indústria, a viabilização da economia circular, com o fortalecimento dos sistemas de gestão de resíduos, é algo que surge como solução promissora. No entanto, apesar da Política Nacional de Resíduos Sólidos, o descarte inadequado em lixões e o desperdício de materiais que vão os para aterros sanitários ainda fazem parte da nossa realidade.
As negociações internacionais para combater a poluição por plásticos são desafiadoras e exigem soluções abrangentes e inovadoras. Países como Peru e Holanda clamam por medidas imediatas: limitar a produção de plástico com o objetivo de minimizar a produção. Já China, Índia e Arábia Saudita defendem a gestão eficiente dos resíduos existentes, em busca de soluções para o plástico já presente no meio ambiente. Enquanto isso, o Brasil se encontra em posição intermediária em busca do equilíbrio entre as diferentes perspectivas.
A cada ano, mais de 400 milhões de toneladas de plástico são produzidas em todo o mundo, o que equivale a média de 57 kg por habitante, conforme dados do Credit Suisse (2023). No entanto, é fundamental reconhecer que apenas uma pequena fração desse volume é reciclada, de 9% a 12%, e o restante é descartado em aterros sanitários ou lixões, conforme o relatório “Plastic Waste Management”, da UNEP (2021). E vale ressaltar que, na transição de economia linear para a circular, cerca de 1 milhão de pessoas dependem hoje da coleta de resíduos para a subsistência, isso no Brasil.
Em busca de soluções sustentáveis
A Braskem, como empresa do setor químico, participa ativamente das discussões no âmbito do International Council of Chemical Associations (ICCA), um conselho global que reúne entidades e empresas do ramo. Acreditamos que a indústria e os governos devem trabalhar em conjunto para estabelecer iniciativas e políticas públicas que considerem os desafios estruturais e socioeconômicos. Neste sentido, a companhia assume a responsabilidade de buscar soluções inovadoras e sustentáveis para lidar com os desafios da poluição plástica.
A companhia já está envolvida em 15 iniciativas globais e, por meio de parcerias e patrocínios, já recuperou mais de 370 toneladas de resíduos. Através da reciclagem, busca atingir 1 milhão de toneladas de produtos com conteúdo reciclado até 2030. E vamos além. Há ainda a presença do Cazoolo, um laboratório de design de embalagens circulares, que funciona como um elo na cadeia da economia circular reversa do plástico, conectando a concepção de embalagens inovadoras e sustentáveis à recuperação e reinserção do material pós-consumo.
Mas há muitos desafios até a conclusão do acordo. A próxima rodada de negociações está marcada para 25 de novembro em Busan, na Coreia do Sul, com a meta de finalizar o tratado até dezembro. Este marco não só representará um avanço significativo na luta contra a poluição plástica, mas também simbolizará um compromisso global com a preservação do nosso planeta.
Reconhecemos que esta é uma longa jornada, onde a concorrência é bem-vinda, pois envolve todos os atores do nosso mercado e impacta a sociedade como um todo. Exige colaboração, inovação e compromisso contínuo de todas as partes envolvidas. Juntos, daremos um passo decisivo rumo a um futuro mais sustentável e equilibrado para as próximas gerações.
Jorge Soto, diretor de desenvolvimento sustentável da Braskem, com mais de 30 anos na empresa, é formado em Engenharia Química pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), possui mestrado em engenharia química e doutorado em planejamento ambiental ambos pela COPPE – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Atualmente, Soto é membro da Rede Brasil do Pacto Global, órgão do qual foi presidente em 2013 e 2014, do Grupo de Líderes em Energia e Mudanças Climáticas do ICCA (Conselho Internacional das Associações da Indústria Química), e co-lider do grupo que está desenvolvendo a futura Norma Internacional Economia Circular – Princípios e Arcabouço para Implementação.