Empresas que apoiam iniciativas de impacto viabilizadas por meio de projetos culturais, sociais e esportivos não devem ser vistas apenas como impulsionadoras de ações com foco em responsabilidade social. Na verdade, devem ser reconhecidas como instituições que realizam investimentos estratégicos em reputação, reforçando seus compromissos com a agenda ESG.
Investir em projetos socioculturais e em práticas ESG gera conexões autênticas com o público, promovendo valor e impacto positivo. Soluções de impacto bem conduzidas geram engajamento orgânico, fortalecem a imagem institucional e criam valor reputacional mensurável para as empresas. Com rastreabilidade, é possível monitorar percepção de marca, associação espontânea e impacto social – elementos que, no longo prazo, sustentam vantagem competitiva em ambientes altamente sensíveis à coerência.
Embora exista a intangibilidade relacionada à fruição cultural – nada mais prazeroso do que assistir a um filme ou escutar o novo álbum do seu artista preferido -, investir em soluções de impacto na tríade cultura, esporte e social proporciona retornos financeiros para os ecossistemas envolvidos, além de ganhos reputacionais consistentes.
No final de julho e início de agosto deste ano, estive como público mais uma vez na Festa Literária Internacional de Paraty (FLIP). Na cidade fluminense, tive a oportunidade de me reconectar com pautas do mercado editorial e relembrar suas complexidades; conheci novas escritoras como Dahlia de la Cerda e Dolores Reyes na programação principal; descobri diversos outros nomes na programação paralela; e pude assistir a mesas de nomes como Valter Hugo Mãe e Rosa Montero, com destaque especial para o poeta Sérgio Vaz, que promoveu uma enorme salva de palmas a professoras e professores no encerramento da feira.
Trata-se de um projeto de grande porte que, segundo seus dados oficiais, tem levado anualmente mais de 30 mil pessoas à Paraty, além de movimentar dezenas de milhões de reais. Isso nos faz pensar que as empresas que estiveram presentes com posicionamento estratégico e presença qualificada colheram muito mais do que uma simples exposição de marca: realizaram um investimento efetivo em reputação.
Extrapolando o contexto da reputação e falando sobre negócios, a cultura em específico é uma força motriz da economia brasileira: segundo dados do Observatório Itaú Cultural, a economia da cultura e das indústrias criativas (ECIC) do Brasil movimentou R$ 230,14 bilhões no ano de 2020, equivalente a 3,11% do Produto Interno Bruto (PIB), superando a contribuição da indústria automobilística. Já a Lei Rouanet, que é o mecanismo mais relevante para a realização de atividades culturais no país, gera retorno de R$ 1,59 à economia para cada real investido, com impacto sobre 68 setores, de acordo com estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) de 2018.
Para que o ciclo virtuoso de impacto em iniciativas socioculturais se concretize, é fundamental que as empresas adotem uma abordagem estratégica que inclua o uso estruturado das leis de incentivo — não apenas à cultura, mas também ao esporte e à área social.
Nesse contexto, a implementação do uso de relatórios de impacto e de ferramentas que promovam a rastreabilidade e a transparência dos dados contribui para a consolidação de uma cultura organizacional orientada por evidências e propósito.
O momento de planejamento estratégico das empresas torna-se, portanto, determinante para o estabelecimento de indicadores de desempenho (KPIs) específicos para cada iniciativa, alinhados aos objetivos da empresa patrocinadora e voltados à mensuração precisa dos resultados gerados.
Além do monitoramento contínuo por parte dos incentivadores, também é responsabilidade dos organizadores dos projetos a prestação de contas aos órgãos competentes, comprovando as execuções previstas. Relatórios são, portanto, instrumentos fundamentais para demonstrar a ampliação do impacto social, cultural e ambiental das iniciativas, fortalecendo, consequentemente, as marcas patrocinadoras.
Há quem prefira falar de soluções de impacto ou simplesmente em projetos, mas o essencial é garantir a transformação de propósito em ações concretas. Essa transformação pressupõe engajamento genuíno e posiciona empresas como agentes de mudança sociocultural, alinhando valores a resultados.
Ítalo Azevedo é sócio-fundador da Muda Cultural.