domingo, agosto 17, 2025

A inovação que importa é inclusiva, e começa pelas pessoas

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Muito se fala sobre inovação, mas pouco se discute sobre quem, de fato, tem acesso a ela. A Inteligência Artificial (IA), uma das maiores transformações do nosso tempo, já está presente na educação, no trabalho e na saúde, especialmente em países desenvolvidos. Para milhões em situação de vulnerabilidade, essa tecnologia segue sendo apenas uma promessa.

E é justamente aí que mora o desafio: inovar não significa apenas avançar tecnicamente, mas garantir que o avanço esteja a serviço da inclusão. A IA pode ser uma ponte para o futuro, desde que todos tenham condições de atravessá-la.

Na educação, seu potencial é evidente. Sistemas inteligentes conseguem identificar, por exemplo, que um estudante tem dificuldade em frações e adaptar conteúdo e ritmo de ensino até que o domínio seja alcançado, ajustando o nível de dificuldade e o tipo de conteúdo para estudantes com diferentes ritmos de aprendizagem. Esse tipo de personalização, impossível de ser replicada em larga escala apenas com métodos tradicionais, tem força para melhorar o aprendizado de quem mais precisa.

Mas para que funcione, é preciso que o estudante tenha acesso básico à tecnologia. E a realidade é que isso ainda está longe de ser universal: segundo o Banco Interamericano de Desenvolvimento, um em cada cinco alunos na América Latina não tem internet em casa. Em muitas escolas públicas, a falta de equipamentos e a dificuldade de formação dos professores para o uso pedagógico das ferramentas digitais limitam qualquer avanço. Sem resolver esse gargalo, a IA pode acabar ampliando a distância entre os que têm e os que não têm oportunidades.

Esse risco não se restringe às salas de aula. No mercado de trabalho, estudo da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Banco Mundial mostra que até 38% dos empregos formais na região estão expostos à IA generativa, com 2% a 5% sob risco de automação total e até 14% com potencial de aumento de produtividade. Mulheres jovens em funções administrativas e de serviços aparecem entre as mais vulneráveis, o que reforça a necessidade de políticas públicas para proteção e capacitação.

A tecnologia, sozinha, não corrige desigualdades. Mas, orientada por princípios de equidade, pode ser poderosa aliada. Um estudo do Journal of Interdisciplinary Global Studies com universitários do México, Argentina, Peru e Equador revela que, mesmo sem domínio técnico sobre IA, os jovens querem participar das decisões sobre o futuro digital. Eles não querem ser apenas espectadores, querem ser protagonistas e terem acesso às inovações globais..

Na Demà, essa é a base do trabalho. Já atendemos mais de 40 mil jovens aprendizes em todo o Brasil, oferecendo não só formação técnica, mas também escuta, orientação e experiências que abrem caminhos pessoais e profissionais. Neste contexto, incorporamos IA para personalizar trilhas de aprendizagem, diagnosticar habilidades e oferecer apoio psicossocial, sempre com a convicção de que a tecnologia só tem valor quando amplia o acesso, e não quando substitui o cuidado humano.

O Brasil, jovem, criativo e diverso, tem uma oportunidade histórica: conectar inovação e inclusão para formar cidadãos digitais conscientes, éticos e protagonistas. A integração da Inteligência Artificial na Demà representa uma oportunidade transformadora para personalizar o aprendizado, aumentar a eficiência e preparar os alunos para os desafios do século XXI. Mas para que essa transformação seja real, é essencial enfrentar os desafios éticos e garantir que a tecnologia seja utilizada de forma equitativa, centrada no ser humano e capaz de ampliar oportunidades. Porque toda inovação que importa começa e termina nas pessoas.

Juan Carlos Moreno Lozano, diretor da Demà no Brasil. Bacharel em Administração pela Universidade de Berna (Suiça) com MBA internacional em Finanças e Ciências Políticas com mais de 20 anos de experiência em gestão de empresas internacionais e educação com foco nas áreas de Finanças, Tecnologia, Investimento de Capital de Risco, Consultoria estratégica de empresas e auditoria.

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