domingo, agosto 10, 2025

Economia circular e reciclagem de PET: o Brasil não pode desperdiçar o que já conquistou

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O Brasil é, hoje, um dos líderes na reciclagem de embalagens pós-consumo na América Latina, especialmente quando falamos em garrafas PET. Esse avanço é fruto de investimentos, inovação tecnológica, parcerias com cooperativas e pressão da sociedade por práticas mais sustentáveis. No entanto, esse progresso corre risco de ser estagnado se não enfrentarmos os gargalos estruturais e conjunturais que limitam o crescimento da economia circular.

Nos últimos meses, observamos uma desaceleração no consumo de resinas recicladas no país. A conjuntura econômica mais restritiva e mudanças de estratégia por parte de grandes indústrias têm postergado projetos que estavam em curso, afetando diretamente a cadeia de valor da reciclagem. Esse movimento é ainda agravado pela ausência de uma política pública robusta, estável e comprometida com as questões ambientais — o que permite que o discurso de sustentabilidade perca força diante de variações de custo ou conveniências de mercado.

A verdade é que ainda operamos em um cenário onde falta infraestrutura básica de coleta seletiva, os custos logísticos são altos e a competitividade da resina reciclada é constantemente ameaçada pela oscilação do preço do material virgem. Além disso, muitas marcas seguem relutantes em adaptar seus processos e aceitar a presença de conteúdo reciclado em suas embalagens, seja por preconceito técnico, estético ou por desconhecimento regulatório.

Mesmo com todos esses desafios, temos motivos para seguir apostando na reciclagem de PET como uma solução real e escalável frente à crise ambiental. Tecnologias de alto desempenho vêm permitindo misturas eficientes entre resinas recicladas e virgens. Certificações de qualidade têm garantido segurança e rastreabilidade. E há uma pressão legítima, tanto da sociedade quanto dos reguladores, por metas ESG que não sejam apenas simbólicas.

É nesse contexto que os investimentos em inovação e estrutura tornam-se essenciais. A expansão da capacidade produtiva, a integração de novas plantas regionais, o fortalecimento de parcerias com cooperativas e o uso de instrumentos financeiros sustentáveis — como os títulos verdes — são caminhos possíveis para ampliar a oferta de resina reciclada de qualidade e, ao mesmo tempo, gerar impacto social.

A criação de redes de formação técnica também contribui para disseminar conhecimento e fortalecer o ecossistema da reciclagem, conectando fabricantes, pesquisadores e atores da cadeia produtiva e isso precisa estar entre os esforços do segmento.

Mas o setor não pode caminhar sozinho. O engajamento do consumidor final na separação correta dos resíduos, o compromisso das marcas com metas ambientais reais e duradouras, e o apoio decisivo do poder público — tanto no âmbito regulatório quanto no incentivo tributário — são fatores indispensáveis para destravar o potencial de crescimento da reciclagem no Brasil.

A economia circular é uma das respostas mais eficientes à emergência climática. Ignorar esse caminho é andar na contramão de uma tendência irreversível. O Brasil já provou que pode liderar esse movimento. Agora, precisamos garantir que os avanços conquistados não se percam e que o setor da reciclagem de PET seja, de fato, prioridade estratégica para a indústria, o governo e a sociedade.

Irineu Bueno Barbosa Júnior, CEO da Cirklo.

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