quinta-feira, agosto 7, 2025

Como a IA na nuvem pode transformar a gestão de redes elétricas inteligentes

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A transformação digital no setor elétrico está remodelando profundamente a maneira como a energia é gerada, distribuída e consumida. Esse avanço, impulsionado por tecnologias como inteligência artificial (IA), computação em nuvem e automação, vem possibilitando o surgimento de redes elétricas inteligentes – as chamadas smart grids. Mais do que um conceito futurista, trata-se de uma realidade com potencial de gerar US$ 125 bilhões em economia global até 2027, segundo a consultoria Juniper Research.

Historicamente associadas ao fornecimento em áreas remotas, essas redes encontram hoje terreno fértil para expansão nos grandes centros industriais, onde operam múltiplas fontes elétricas – desde concessionárias tradicionais até usinas próprias renováveis. Nessas localidades, a IA hospedada na nuvem desponta como peça-chave para gerenciar um sistema elétrico complexo, dinâmico e cada vez mais descentralizado.

O uso da nuvem permite que algoritmos de IA processem grandes volumes de dados em tempo real, otimizando o consumo e garantindo segurança operacional. Isso significa que, com base em análises contínuas, a rede possa decidir automaticamente qual fonte utilizar em determinado momento – seja a mais econômica, a mais limpa ou a mais estável – e realizar o chaveamento sem intervenção humana. Essa capacidade é especialmente crítica para indústrias cuja produção não tolera interrupções energéticas, sob pena de perda total de insumos e produtividade.

Ao mesmo tempo, a integração entre IA e smart grids contribui diretamente para a eficiência energética, pois segundo estimativas observadas em aplicações industriais com uso de IA e automação, é possível alcançar reduções superiores a 40% no consumo de energia. Isso não apenas alivia a carga sobre as redes, como também favorece a sustentabilidade ao priorizar fontes renováveis e minimizar as emissões de carbono.

Nesse cenário, a computação em nuvem proporciona a escalabilidade necessária para o treinamento e a operação de modelos de aprendizado profundo, enquanto a computação de borda – edge computing – atua de forma complementar, permitindo decisões rápidas próximas ao ponto de consumo. Essa combinação oferece um ecossistema energético inteligente, capaz de antecipar demandas, prever falhas e ajustar-se automaticamente a variáveis externas.

Essa infraestrutura, porém, ainda enfrenta alguns desafios. O aumento da complexidade operacional demanda maior capacidade computacional, soluções avançadas de automação e sistemas de gerenciamento energético integrados. Além disso, o crescimento acelerado das cargas de IA exige eficiência térmica e elétrica nas instalações, sobretudo quando operam em ambientes com múltiplos fornecedores de energia.

Para enfrentar esses obstáculos, é fundamental adotar plataformas que ofereçam total visibilidade da rede e suporte à tomada de decisão preditiva. Gêmeos digitais, análise de dados em nuvem e IA embarcada são recursos que viabilizam a automação do sistema elétrico com segurança, eficiência e sustentabilidade.

Com o crescimento da geração distribuída, o surgimento dos chamados prosumers – consumidores que também produzem sua própria eletricidade, geralmente a partir de fontes renováveis como solar ou eólica – e o avanço da transição energética, as redes inteligentes representam mais que uma tendência tecnológica. Passam a ser uma estratégia essencial para garantir energia segura, limpa e eficiente.

Por isso, construir o futuro dos sistemas de distribuição inteligente depende de uma abordagem que una IA, nuvem, automação e compromisso ambiental. Indústrias e profissionais do setor precisam enxergar essa convergência como uma alavanca de produtividade e competitividade – e não apenas como uma promessa distante.

Luis Cuevas , diretor da Secure Power e Negócios de Data Centers da Schneider Electric no Brasil.

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