Com o negócio associado muitas vezes a impactos na natureza, as empresas do setor extrativo e de minerais aparecem com o melhor desempenho, no recorte de setores econômicos, em termos de cobertura das recomendações da TNFD (Taskforce on Nature-related Financial Disclosures) nos seus relatórios corporativos. O índice é de 91%, de acordo com o estudo Nature Risk Barometer, elaborado pela EY, que analisou as divulgações de 369 empresas atuantes nos EUA, Canadá e América Latina provenientes dos dez setores a seguir: bens de consumo; extração e processamento de minerais; financeiro; alimentos e bebidas; saúde; infraestrutura; transformação de recursos; serviços; tecnologia e comunicações; e transporte.
“Isso pode ser resultado de o setor enfrentar maior pressão para tomar medidas proativas sobre a natureza e promover a transparência, em comparação com outras atividades econômicas”, observa Ricardo Assumpção, líder de Sustentabilidade e CSO (Chief Sustainability Officer) da EY para América Latina. Nos esforços para atender às demandas dos stakeholders, o setor tem caminhado cada vez mais para a adoção de relatórios voluntários sobre a natureza (em conjunto com requisitos obrigatórios de divulgação). “Esse movimento deu impulso para que as empresas extrativas e de processamento de minerais chegassem a uma posição de liderança”, completa.
Ainda segundo o estudo, as empresas estão estabelecendo comitês para ir além do clima e se concentrar em questões de natureza e biodiversidade. Esses comitês estão desempenhando papel crítico na gestão e na supervisão de riscos e oportunidades relacionados à natureza. Em alguns casos, conforme destaca o levantamento, eles também se reúnem trimestralmente para revisar os riscos e definir metas. Esses comitês concentrados na natureza e na biodiversidade contam com a gestão de nível executivo, incluindo o CEO, o CFO e o CSO, que trabalham integrados. “Isso significa que as questões relacionadas à natureza estão ganhando a atenção necessária da liderança, o que define um tom claro para o restante da organização”, explica Ricardo.
Por fim, o levantamento da EY constatou que a maioria das empresas extrativas e processadoras de minerais está focada na água, que é historicamente um dos maiores riscos do setor. Essas organizações estão divulgando, por exemplo, que contam com mecanismos para monitorar e implementar medidas relacionadas a esse recurso.
Qualidade das informações
Ainda que as empresas pesquisadas apresentem alto índice para o aspecto cobertura, ainda há espaço para melhora na conformidade com a TNFD. Isso porque o estudo também mensurou o chamado alinhamento, que representa uma análise qualitativa sobre as divulgações de cada empresa analisada. Enquanto a cobertura verifica se a empresa forneceu informações para uma ou mais das 14 recomendações da TNFD, o alinhamento avalia a qualidade dessas divulgações, considerando o nível de detalhamento e o quão bem os reportes atendem às recomendações.
“Nesse índice, o setor extrativo e de minerais também se destacou, aparecendo na liderança, com 27%, o que demonstra que, de forma geral, ainda há muito a avançar por parte de todos os setores em relação à qualidade das divulgações”, diz Leonardo Dutra, sócio-líder de serviços de Mudanças Climáticas e Sustentabilidade EY Brasil.