sexta-feira, agosto 8, 2025

Eólica, solar e microgeração devem responder por 42% da energia elétrica gerada no país em menos de dez anos

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A capacidade instalada de geração de energia elétrica no país deverá atingir 320 GW até dezembro de 2034.  Desse total 42% caberão às fontes eólicas, solares e de microgeração distribuída, contra os 48% gerados a partir de fontes hidroelétricas e termoelétricas.

A informação foi divulgada por Thiago Ivanosky, diretor de Estudos Econômico-Energéticos e Ambientais da Empresa de Pesquisa Energética (EPE) no painel de abertura do Fórum Latino-Americano de Smart Grid, que teve início nesta segunda-feira, 4, em São Paulo. “Já estamos vendo a expansão maciça da geração eólica e solar, em particular da microgeração distribuída, e isso ocorre porque essas plantas são mais baratas”, disse Ivanosky. De acordo com o diretor de Estudos Econômico-Energéticos e Ambientais da EPE, é mais barato expandir a geração por meio das fontes solar e eólica e implantar hidroelétricas, termoelétricas e baterias para estabilizar o sistema.

No entanto, alertou Ivanosky, em função da variação de carga, intrínseca às energias renováveis, elas embutem o risco de desarmar o sistema elétrico nacional e contribuir para interrupções no fornecimento de energia.

Intermitência

Marcelo Prais, assessor da Diretoria de Planejamento do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS), chamou a atenção para o fato do crescimento das fontes renováveis intermitentes, as quais, até 2029, contribuirão para que apenas 42% da geração esteja sob controle efetivo do operador. O restante será gerado por fontes intermitentes, cuja geração não pode ser controlada. “Entre 2025 e 2029, praticamente metade do crescimento da capacidade de geração será de microgeração distribuída. O problema é que, quando o sol se põe, e cessa a produção solar, são necessárias outras fontes para atender essa demanda, basicamente hidroelétrica e termoelétrica, com possibilidade também de uso de baterias”, explicou.

Uma alternativa para minimizar esse problema, em discussão no primeiro painel do Fórum Latino-Americano de Smart Grid, é a modernização e a digitalização das redes. Essa inovação também torna as redes mais resilientes aos eventos climáticos mais intensos, decorrentes do aquecimento global.

Novo papel das distribuidoras

De acordo com Prais, a ONS, em conjunto com a Aneel, preparam nova regulamentação que deve mudar o papel das distribuidoras. “O modelo que estamos preparando cria a figura do DSO (Distribuition Sistem Operator) que se relaciona com o ONS. Ele atua com os recursos energéticos distribuídos, com os agregadores, e fornece a demanda de energia solicitada na ponta ao operador”, explicou Prais, que complementou: “Esse modelo, que contou com a participação das operadoras e da Aneel, faz com que a geração distribuída deixe de ser um problema e se torne solução. Ele também abre a possibilidade de uso de baterias, carros elétricos e uma série de novos serviços”. O assessor da diretoria de Planejamento da ONS disse, ainda, que o modelo deverá ser regulamentado em breve.

O debate esquentou com a participação de Marcos Madureira, presidente da Associação Brasileira de Distribuidores de Energia Elétrica (Abradee). Ele questionou o fato de apenas 42% da energia do país ser controlada pelo Operador, o que provocaria um desequilíbrio no sistema. “Temos hoje um cenário que distribui subsídios para a geração distribuída e as distribuidoras não têm controle sobre essa geração”, afirmou. Madureira também lembrou da preemente necessidade de investimentos para tornar as redes elétricas do País mais resilientes. Contudo, pontuou, as distribuidoras não têm o poder de mexer nas tarifas para endereçar a questão.

Renovação das concessões

Para Agnes Maria de Aragão da Costa, diretora da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), na renovação das novas concessões está sendo incluída uma cláusula que prevê que as empresas que assinarem esse novo contrato poderão optar por novos modelos econômicos, que já estão em estudo pela Aneel. “Esses novos modelos econômicos implicam em revisão dos modelos tarifários, mas para isso precisamos de dados e informações, que as novas tecnologias podem fornecer”, explicou ela no primeiro painel do Fórum.

Menos burocracia

Adriana Aoki, representante da Câmara de Comercialização de Energia Elétrica (CCEE) da área de Engenharia e Medição, informou que a Câmara está de olho na abertura do mercado para os consumidores do grupo B (baixa tensão – residencial) e que já implementou um novo sistema que facilita o cadastramento de novos consumidores. “O novo sistema é simplificado e facilita o cadastramento de quem migra para o mercado livre de energia. Hoje basta registrar a unidade consumidora e o CNPJ, sendo que o CPF não é uma informação obrigatória”, garantiu.

Já Frederico de Araújo Teles, diretor de Planejamento de Políticas Setoriais do Ministério de Minas e Energia (MME), destacou a recente portaria 111/25, de junho passado, que estabelece os critérios para a digitalização gradual das redes. O foco do Ministério, segundo Teles, está na qualidade dos serviços prestados ao consumidor. “A portaria visa criar critérios de digitalização que tornem tornar as redes mais confiáveis, além de reduzir as interrupções em quantidade e, também, em duração”, destacou.

Visão internacional

Reji Kumar Pilai, chairman do Fórum de Smart Grid da Índia (ISGF) e da Federação Global de Smart Energy (GSEF), relatou algumas tecnologias que têm sido adotadas pela Índia. Entre elas, um novo medidor inteligente que permite aos proprietários de veículos elétricos programarem a recarga das baterias nos horários de maior fornecimento. O sistema, informou o palestrante indiano, também permite que o proprietário disponibilize a carga da bateria para o sistema nos horários de maior demanda, ou seja, os veículos elétricos também podem ser utilizados na estabilidade do fornecimento pela rede. “Os proprietários também podem obter um certificado que o carregamento de seus veículos foi realizado com energia de fontes limpas e renováveis”, destacou.

Para Cyro Boccuzzi, engenheiro e consultor, CEO da ECOee (Engenharia Energética) e organizador da 17ª edição do Fórum Latino-Americano de Smart Grid, o momento atual urge por soluções de digitalização. “No entanto”, frisou ele, “estamos falando de inovação sustentável. Ou seja, precisa ter custo-benefício. Não pode ser a qualquer preço.”

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