A urgência climática e a pressão dos consumidores por escolhas mais sustentáveis têm levado diferentes setores da indústria a reverem seus processos. No caso da indústria de colchões — que produz cerca de 25 milhões de unidades por ano no Brasil, segundo a Abicol (Associação Brasileira da Indústria de Colchões) — o desafio vai além da produção, está também no descarte.
No Brasil, segundo dados de 2022 da Associação Brasileira de Empresas de Limpeza Pública e Resíduos Especiais (Abrelpe), apenas 4% dos resíduos sólidos que podem ser reciclados são enviados para este processo, índice baixo em comparação a outros países em desenvolvimento, como Chile, Argentina, África do Sul e Turquia, que apresentam média de 16% de reciclagem.
Diante deste cenário, a reciclagem de materiais que fazem parte do colchão, como a espuma e o tecido, ainda é um desafio, mas iniciativas que têm apoio da indústria do setor têm ajudado a mudar esse quadro.
Uma das alternativas é o uso de materiais biodegradáveis, que se decompõem com mais facilidade na natureza, além de iniciativas como a desfabricação — termo que define o desmanche de um produto ao final da sua vida útil para dar destinação aos seus componentes.
Países europeus como a Bélgica – onde a reciclagem é obrigatória – já possuem planos para garantir que produtos como os colchões sejam inseridos na economia circular, alcançando cerca de 50% dos descartes anuais, e com capacidade para processar até 500 mil unidades por ano.
Outro exemplo são os Países Baixos, onde esse número chega a 1,5 milhão de colchões ao ano, cobrindo 80% da demanda. França e Reino Unido também adotam modelos semelhantes, e projetos específicos visam ampliar a taxa de reciclagem para até 80% em toda a União Europeia.
Segundo a diretora-executiva da Abicol, Adriana Pierini, no Brasil os consumidores têm optado cada vez mais pela sustentabilidade, e a indústria brasileira do setor busca se espelhar em outros países para encontrar soluções e reduzir o impacto ambiental.
“Fora do Brasil é unânime: eles valorizam mais, e até pagam mais caro, quando um colchão é produzido com esse olhar, de produtos sustentáveis, biodegradáveis, ou com uma composição de produtos reciclados maior do que de um colchão tradicional”, disse Adriana.
A diretora destacou que a Política Nacional de Resíduos Sólidos brasileira não inclui os colchões, o que desobriga os fabricantes a realizarem a logística reversa dos produtos. Mas, apesar disso, Adriana afirmou que a indústria tem se esforçado para encontrar soluções viáveis para o descarte ambientalmente adequado dos produtos.
“Estivemos nos Estados Unidos, na Europa, na Turquia, para ver essas tecnologias que estão em desenvolvimento, para trazer para o Brasil algo que possa ser um modelo para que a desfabricação de colchões seja efetiva e que ela represente um resultado favorável para o meio-ambiente, para a indústria e para todos”, disse Adriana Pierini.
De acordo com ela, a indústria brasileira tem obtido avanços em direção a práticas mais sustentáveis, e as empresas líderes em inovação estão saindo na frente no desenvolvimento deste mercado.
A fabricante brasileira Castor apresentou em 2024 o primeiro travesseiro com tecnologia biodegradável do mundo, produzido com matéria-prima vegetal (BIOVISCO™️), que se decompõe de forma mais rápida e limpa do que os modelos tradicionais. O investimento em pesquisa foi de mais de R$ 2 milhões.
Em 2025, a empresa ampliou seu portfólio sustentável com uma linha de colchões que segue o mesmo princípio. Composta também de espumas com a nova tecnologia que não utiliza o poliol de origem fóssil, com tecido OrganiCotton – que é uma malha Belga premium com algodão orgânico e ventilação inteligente.
Segundo o CEO da Castor, Hélio Silva, o objetivo é oferecer produtos de qualidade que gerem menos impacto ambiental. “Diferente dos produtos tradicionais, que podem levar centenas de anos para se decompor, o BioComfort se desintegra de maneira sustentável, retornando ao ciclo natural sem deixar resíduos nocivos, o desafio no processo industrial é equalizar custos e benefícios dentro dessas novos propostas ao mercado”, afirma Hélio Silva.
Os novos produtos ainda reduzem toda a emissão de carbono no processo produtivo — uma meta cada vez mais perseguida por empresas de diversos setores e que está alinhada ao comportamento do consumidor brasileiro.