A capacidade instalada por novas minas de carvão em 2024 caiu para o menor patamar em uma década, mas esse recuo pode ser apenas temporário, segundo relatório publicado nesta terça-feira (29) pelo Global Energy Monitor (GEM). A retomada de mais de 850 projetos planejados, incluindo novas minas, expansões e reativações, em ao menos 30 países, representa uma ameaça às metas globais de redução de emissões de gases de efeito estufa.
Segundo dados do Global Coal Mine Tracker, as minas que começaram a operar em 2024 somaram 105 milhões de toneladas (Mt) em capacidade de produção, uma queda de 46% em relação a 2023, quando o total foi de 193 Mt. Trata-se do menor volume desde 2014.

O declínio é atribuído, principalmente, à Índia e à China, onde houve atrasos na aprovação de expansões e um arrefecimento das pressões de oferta após um crescimento acelerado nos dois anos anteriores. O desenvolvimento de minas de carvão também possui um processo naturalmente lento, o que contribuiu para a queda no ritmo.
Apesar disso, o levantamento mostra que projetos de expansão voltaram a ganhar força. Ao todo, estão em andamento mais de 850 novos empreendimentos ou reativações, além de 35 projetos de ampliação em avaliação.
Quase 90% dessa nova capacidade proposta está concentrada em poucos países. A China lidera com ampla vantagem, somando 1.350 Mt por ano (Mtpa) em capacidade projetada, com foco nas regiões norte e noroeste. Em segundo lugar está a Índia, com 329 Mtpa, sendo quase metade dos projetos desenvolvidos pela estatal Coal India. Austrália aparece em seguida, com 165 Mtpa, e Rússia e África do Sul completam a lista com 98 Mtpa e 73 Mtpa, respectivamente.

No total, 2.270 Mtpa de capacidade mineradora estão sendo desenvolvidos globalmente, o que representa um risco elevado de aumento nas emissões de metano, gás de efeito estufa que possui mais de 80 vezes o potencial de aquecimento do dióxido de carbono (CO₂) em um horizonte de 20 anos.
O relatório estima que, se todos os projetos forem implementados, podem ser liberadas 15,7 Mt de metano por ano — número superior ao das emissões anuais totais de gases de efeito estufa do Japão, uma das dez maiores economias do mundo.
Sem medidas de mitigação, essas emissões se somariam às já elevad as 58,9 Mt de metano por ano emitidas pelas minas de carvão em operação atualmente, segundo o GEM. Isso elevaria as emissões a um nível comparável ao das emissões anuais dos Estados Unidos, o segundo maior emissor global.
A expansão também contradiz os cenários traçados por organismos internacionais para reduzir a produção de carvão a fim de cumprir as metas do Acordo de Paris sobremudança climática. A Agência Internacional de Energia (IEA) e as Nações Unidas recomendam cortes entre 39% e 75% na produção de carvão até 2030, tomando como base os 7.607 Mt produzidos em 2020. O atual ritmo de expansão ampliaria a distância em relação a essas metas.
“O canário está literal e figurativamente na mina de carvão. Sem uma redução drástica nos planos de novas minas, o mundo pode testemunhar uma disparada nas emissões de metano, o que tornaria praticamente impossível cumprir as metas do Acordo de Paris”, afirmou Dorothy Mei, gerente do projeto Global Coal Mine Tracker no GEM.

Sobre os dados
O Global Coal Mine Tracker reúne informações detalhadas sobre minas de carvão e projetos propostos ao redor do mundo. São incluídos dados sobre estrutura acionária, estágio de desenvolvimento, tipo de carvão, capacidade de produção, número de trabalhadores, reservas e emissões de metano, entre outros mais de 30 indicadores. A atualização mais recente, de julho de 2025, inclui todas as minas operacionais com produção igual ou superior a 1 Mtpa, além de projetos de menor escala selecionados.