Nos últimos anos, o mercado de créditos de plástico tem ganhado cada vez mais relevância no cenário global. Inspirado no modelo dos créditos de carbono, esse sistema surge como uma solução concreta para enfrentar um dos maiores desafios ambientais da atualidade: o excesso de resíduos plásticos no meio ambiente.
Mas, afinal, o que são os créditos de plástico? Trata-se de um instrumento que permite às empresas compensarem sua pegada plástica por meio da compra de créditos vinculados à coleta de plástico do meio ambiente ou à sua reciclagem, sendo cada tonelada de resíduo plástico devidamente coletado ou reciclado equivalente a um crédito de plástico. Na prática, funciona como um incentivo financeiro para projetos que atuam diretamente na cadeia de reciclagem, aperfeiçoando a gestão de resíduos e fomentando a sua circularidade.
A compensação da pegada plástica tem aplicação direta em diversos setores, especialmente em empresas que utilizam plástico em seus produtos ou embalagens, como indústrias de alimentos, bebidas, cosméticos, automotivo, moda e logística. Ao adquirir créditos de plástico, essas organizações conseguem compensar parte do impacto ambiental que geram, alinhando-se às metas ESG cada vez mais exigidas por investidores e consumidores e reduzindo a poluição plástica.
De acordo com estimativas da Plastic Credit Exchange (PCX), nos últimos três anos, o setor movimentou mais de US$ 500 milhões globalmente. A tendência é de crescimento acelerado, impulsionado tanto por legislações mais rigorosas quanto pela crescente pressão de consumidores por responsabilidade socioambiental.
Os créditos podem ser comercializados pelas organizações responsáveis pelo projeto de crédito de plástico ou empresas que realizam as operações de trading neste mercado. Para os compradores, o processo é semelhante ao mercado de créditos de carbono: empresas fazem aquisições conforme seus inventários, neste caso de plástico dos seus produtos e embalagens, e suas metas de compensação.
Primeiros passos no mercado brasileiro
No Brasil, o mercado ainda é novo, mas tem avançado rapidamente. Contudo, no mundo, já existem créditos de plástico comercializados, tanto do Standard Verra, quanto PCX. Como uma iniciativa no Brasil, destaca-se o projeto “Agentes de Mudança”, que tem por objetivo reduzir o desperdício de plástico no Brasil e com instalações em Minas Gerais, Rio de Janeiro e Pernambuco, por meio da inclusão e valorização dos agentes das cadeias de coleta e reciclagem, com potencialização da capacidade de recuperar resíduos plásticos, reduzindo a poluição plástica.
Desenvolvido pela OMA Ativos Ambientais, em parceria com a Valgroup e Fênix Reciclagem, a iniciativa se estenderá até 2036 e foi elaborada de acordo com a metodologia Plastic Waste Recycling Standard, da Verra
Entre 2016 e 2022, esse Projeto já contabilizou mais de 84 mil toneladas de plásticos reciclados e retirou do meio ambiente mais de 17 mil toneladas de plástico. Os mais de 100 mil créditos já obtidos por meio desta iniciativa irão financiar investimentos em infraestrutura para as instalações proponentes e a cadeia de suprimentos, com a disponibilidade de equipamentos de trabalho e segurança e melhoria das ações de qualificação de diversos agentes da cadeia de coleta e reciclagem, além de motivar a conscientização ambiental.
Mercado Internacional
Segundo as informações da Plastic Credit Exchange (PCX), o mercado internacional, especialmente na Europa e na Ásia, está mais amadurecido. Grandes marcas globais como Nestlé, Unilever e PepsiCo já adotam créditos de plástico como parte de suas estratégias de sustentabilidade. Além de mitigar impactos ambientais, esses créditos são uma ferramenta poderosa para gerar impacto social positivo, apoiando catadores, cooperativas e comunidades envolvidas na cadeia da reciclagem.
Olhando para o futuro, o mercado de créditos de plástico não deve ser visto como solução única, mas como uma ponte importante na transição para uma economia mais circular e de impacto socioambiental. Além de reduzir o volume de resíduos, esse mercado fomenta investimentos em infraestrutura de coleta e reciclagem, gera empregos e promove educação ambiental.
Empresas que desejam se destacar no mercado global e atender às demandas ambientais têm nesse modelo uma oportunidade concreta de agir de forma responsável, transparente e alinhada aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS). O futuro dos negócios passa, sem dúvida, pela sustentabilidade e pela circularidade dos resíduos, e o mercado de créditos de plástico é uma das ferramentas mais eficazes nessa jornada.
Juliana Rolla, CEO e fundadora da Oma Ativos Ambientais.