quarta-feira, julho 16, 2025

Sustentabilidade Digital: a nova fronteira da competitividade de longo prazo

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As empresas que adotam práticas sustentáveis são, em média, 20% mais eficientes do que aquelas que não integram critérios ESG às suas operações, segundo estudos recentes da OCDE. Sem surpresas. A integração entre sustentabilidade e transformação digital deixou de ser uma vantagem reputacional para se tornar um diferencial competitivo — e uma exigência para a sobrevivência dos negócios.

Essa lógica ganha força diante de um cenário de riscos interconectados. Mudanças climáticas, escassez de recursos naturais, instabilidade geopolítica, aumento no custo de energia e exigências regulatórias mais rígidas estão pressionando as organizações a repensar seus modelos operacionais. É nesse contexto que a sustentabilidade digital emerge como uma estratégia para construir resiliência econômica em meio à complexidade crescente do mercado.

Longe de ser um conceito abstrato ou restrito a setores específicos, a sustentabilidade digital é uma abordagem sistêmica que articula tecnologias emergentes, governança de dados e inovação sustentável para maximizar o desempenho das organizações e minimizar impactos negativos ao meio ambiente e à sociedade. Trata-se de projetar operações, produtos e serviços que sejam não apenas eficientes, mas regenerativos. Que reduzam emissões, otimizem recursos e criem valor compartilhado.

Na prática, isso significa explorar tecnologias como redes inteligentes e sensores IoT, capazes de identificar anomalias no consumo energético, prever falhas e garantir uma operação mais limpa e inteligente. Ou gêmeos digitais, que permitem simular processos e ambientes físicos em tempo real, otimizando desde linhas de produção até sistemas urbanos inteiros — como ocorre em Las Vegas, onde a cidade adotou essa tecnologia para gerenciar infraestrutura e energia de forma mais eficiente.

A inteligência artificial generativa é outro componente fundamental. Ao antecipar padrões de consumo e comportamento, ela não só reduz desperdícios como também aprimora a tomada de decisão. Combinada a plataformas de analytics com métricas ESG integradas, viabiliza uma governança mais transparente e orientada por dados. Já o blockchain, por sua vez, amplia a rastreabilidade e confiança em cadeias de valor, especialmente em setores como o de alimentos e fármacos — onde sustentabilidade e segurança caminham juntas.

Segundo o relatório NTT DATA Technology Foresight 2025, organizações que adotam tecnologias verdes integradas a estratégias ESG já colhem resultados. Entre os benefícios observados estão a redução no consumo de energia (de 10% a 40% em determinados processos), aumento da vida útil de ativos industriais e melhora na previsibilidade de demanda. Além disso, há um impulso à inovação, com o surgimento de modelos de negócio baseados em economia circular, energia descentralizada e neutralidade de carbono.

Porém, é necessário reconhecer os paradoxos dessa transformação. A tecnologia é, ao mesmo tempo, parte da solução e do problema. A infraestrutura digital global — que inclui data centers, dispositivos conectados e redes de comunicação — é responsável por cerca de 3,5% das emissões globais de gases de efeito estufa. Esse número pode dobrar até 2030, caso o crescimento exponencial da digitalização não venha acompanhado de práticas conscientes, como uso de energia renovável, design sustentável de hardware e otimização de código para eficiência energética.

Dessa forma, a sustentabilidade digital não deve ser vista como uma etapa posterior à transformação digital, mas como um pilar estrutural. A diferenciação virá não apenas da capacidade de inovar, mas da habilidade de criar com responsabilidade e saber utilizar as novas tecnologias em favor de um bem maior — conciliando crescimento econômico com regeneração ambiental e inclusão social. Essa transição exige comprometimento estratégico de lideranças, requalificação de talentos, investimentos em tecnologias verdes e, acima de tudo, uma mudança cultural profunda.

O futuro dos negócios será moldado por empresas que compreenderem que competitividade e sustentabilidade não são forças opostas, mas complementares. E que a transformação digital só será plena se estiver a serviço de um planeta mais viável, de uma sociedade mais justa e de uma economia mais resiliente. O momento de agir é agora — e as decisões tomadas hoje definirão o legado (e a existência) das próximas décadas.

Roberto Celestino, CSO da NTT DATA.

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