Criado em 2020, o Selo iImpact, iniciativa da Fundação Dom Cabral (FDC), chegou ao fim de seu ciclo após quatro edições, consolidando-se como uma das mais relevantes iniciativas de avaliação de impacto socioambiental da América Latina. Ao longo de sua trajetória, o projeto avaliou mais de 2.400 startups de impacto, provenientes de 25 países, reconhecendo 326 negócios alinhados aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU e às práticas ESG.
Durante as quatro edições, o Selo iImpact acompanhou a evolução do ecossistema de inovação socioambiental na região. No último levantamento, 62% das startups avaliadas estavam em estágio de tração ou escala, enquanto apenas 26% tinham até dois anos de fundação, uma mudança significativa em relação a 2020, quando esse percentual era de 63%.
“As startups brasileiras lideraram a participação em 2024, representando 84% das inscritas, enquanto o número de países participantes diminuiu de 25 para 19, refletindo desequilíbrios regionais exacerbados pela pandemia e crises econômicas”, comenta Fabian Salum, professor da FDC.
A metodologia, desenvolvida por professores da FDC, contemplou um processo em duas etapas: aplicação de um questionário estruturado e elaboração de narrativas de impacto baseadas em sete componentes interligados, que vão da definição clara do problema até a mensuração dos impactos de longo prazo. As startups com as melhores avaliações foram reconhecidas com o Selo iImpact após análise criteriosa de uma banca externa especializada.
Apesar dos avanços, os desafios persistem. Inflação elevada, instabilidade política e tensões sociais continuam relegando o empreendedorismo de impacto a um segundo plano diante de agendas imediatistas. Além disso, o ESG ainda é, por vezes, negligenciado por governos e agentes econômicos.
“Por outro lado, a crescente colaboração entre grandes empresas e startups abre novas oportunidades para inovação com propósito. O legado do Selo iImpact reforça que o desenvolvimento sustentável é não apenas possível, mas urgente e necessário para o futuro da América Latina”, diz Salum.
Modelos de negócio e cenário de investimentos
A preferência por modelos B2B e B2B2C ficou ainda mais forte, correspondendo a 80% dos negócios avaliados em 2024, acompanhando a tendência global de escalabilidade e eficiência em parcerias comerciais. Por outro lado, a taxa de startups com investimentos recuou de 31% para 23% ao longo de quatro anos, em sintonia com o cenário macroeconômico mais cauteloso, marcado por inflação alta, juros elevados e retração do capital de risco.
ODS em transformação: foco renovado em educação, saúde e redução das desigualdades
O alinhamento das startups aos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável também evoluiu. O ODS 8 (Trabalho Decente e Crescimento Econômico) manteve-se como prioridade, enquanto os ODS 4 (Educação de Qualidade) e 3 (Saúde e Bem-Estar) ganharam destaque em 2024, substituindo temas como Cidades Sustentáveis (ODS 11). Essa mudança reflete os impactos da pandemia e a crescente valorização do capital humano nas estratégias de impacto.
Setores em destaque: agritechs, edutechs, greentechs e socialtechs
A análise dos dados permitiu identificar perfis promissores em vários segmentos:
Agritechs: 86% atuam na redução do desperdício e uso eficiente de recursos; 63% atendem pequenos produtores; mais da metade está em estágio de tração ou escala.
Edutechs: 100% focadas no ODS 4, com forte presença em regiões vulneráveis; muitas já faturam acima de R$ 500 mil anuais.
Energytechs: 100% alinhadas aos 5Ps da Agenda 2030; 65% focam no ODS 12 (Consumo Responsável); metade opera no modelo B2B.
Greentechs: Quase 80% sediadas no Brasil, com forte foco nos ODS 13 (Clima) e 15 (Ecossistemas); 78% impactam mais de 100 pessoas.
Socialtechs: 60% no Brasil, destacam-se na redução das desigualdades (ODS 10) e atuação em centros urbanos.