A telemetria florestal no Brasil tem se mostrado um dos vetores mais inovadores e estratégicos para grandes players do setor, permitindo um nível de controle, eficiência e sustentabilidade nunca antes alcançados. Empresas líderes em produção de celulose e papel, por exemplo, estão investindo pesadamente em tecnologia embarcada com equipamentos como sensores, módulos de comunicação via satélite ou rádio e plataformas de análise em nuvem, que capturam dados, variáveis ambientais e produtividade em tempo real.
Uma dessas empresas, referência nacional no setor de celulose, iniciou em agosto de 2024 a instalação de computadores de bordo em sua frota florestal e, mesmo com cerca de 200 máquinas equipadas inicialmente, já representava mais de 50 % do total previsto, visando abranger 100 % da operação até o final daquele ano. Ou seja, aproximadamente 350 máquinas, entre tratores, caminhões-pipa, equipamentos de carregamento e outros. Essa digitalização permite o monitoramento remoto de status de operação, horários, paradas não-programadas e alertas automáticos que favorecem intervenções pró-ativas e elevam a segurança dos colaboradores.
Outra organização de grande porte no setor, com atuação integrada do plantio à indústria, foi pioneira no Brasil ao implantar, ainda em 2021, uma “Torre de Controle Florestal”, plataforma que integra telemetria de máquinas, inteligência artificial, monitoramento via rádio e satélite, com acompanhamento 24 horas por dia de atividades como colheita, carregamento, pátios e alimentação de fábricas. Esse sistema traz transparência operacional inédita, permitindo tomar decisões mais rápidas, detectar desvios como tempo ocioso, excesso de paradas, vias de acesso inadequadas e, em consequência, reduzir custos e ampliar produtividade.
Em paralelo, fabricantes globais de maquinário pesado têm oferecido soluções de telemetria dedicadas ao setor florestal. Um desses fabricantes oferece um sistema de gerenciamento de frota com monitoramento de localização, alertas de falhas, dados de horas de operação, consumo de combustível e manutenção preventiva automatizada, com conectividade por satélite, acesso remoto ao diagnóstico e funcionalidades que reduzem roubos ou ociosidade. Outro fornecedor, igualmente reconhecido internacionalmente, introduziu no Brasil uma suíte de serviços com monitoramento de frota, visão operacional e precisão geográfica, reunindo dados de uso, padrões operacionais, localização e condições dos equipamentos com posicionamento de alta precisão, auxiliando no planejamento prévio, na eficiência do corte, no menor impacto ambiental e na garantia de restrições geográficas.
Os dados coletados por esses sistemas, como horas de uso, falhas, consumo, custos, volumes colhidos, condições geográficas e até postura dos operadores, são integrados em plataformas avançadas na nuvem. As análises são feitas em dashboards e algoritmos de IA ou machine learning, que identificam padrões, reforçam a manutenção preditiva, exageros no consumo ou ociosidade, permitindo tomadas de decisão em tempo real.
Já não se trata apenas de “aparelhos conectados”, mas de um ecossistema digital florestal: com maior sustentabilidade, preservação de recursos, redução de emissões e melhoria contínua nos processos. Os ganhos reais em termos de produtividade e economia ainda estão sendo medidos, mas operadores do setor relataram quedas significativas no tempo de máquina parada, consumo reduzido de combustível e aumento na taxa de utilização operacional.
Além das operações diretas, essas tecnologias favorecem as boas práticas ambientais: o monitoramento milimétrico das rotas, a demarcação de áreas sensíveis, a prevenção de desvios que possam causar erosão ou dano à fauna e flora, resultam em um setor mais responsável do ponto de vista socioambiental. O processo de digitalização também impacta positivamente a relação com investidores, certificações internacionais e a imagem pública.
Em resumo, a digitalização florestal promovida por grandes operadores nacionais, somada às tecnologias embarcadas dos fabricantes e às inovações de startups e institutos, formam um ecossistema de telemetria que revoluciona a gestão florestal. O controle em tempo real, aliado à análise inteligente de dados alimentados por sensores, resulta em decisões mais rápidas, operações mais seguras e sustentáveis, e ganhos expressivos em produtividade e conformidade socioambiental. Essa transformação mostra que, no Brasil, os grandes players florestais estão deixando de gerir “florestas físicas” para administrar verdadeiros “ativos digitais”, capazes de gerar valor sob controle e com responsabilidade.
Vinicius Callegari. Co-Fundador da GaussFleet.