quinta-feira, julho 3, 2025

COP 30: Industria brasileira debate avanços da economia circular

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A indústria brasileira se mobiliza rumo à COP30 com um chamado claro: é preciso acelerar a integração da economia circular às políticas públicas, às estratégias de negócios e ao comportamento de consumo. Durante a live “Economia Circular na Indústria: Caminhos para Inovação e Competitividade no Brasil”, promovida nesta segunda (30) pelo Instituto Brasileiro de Economia Circular (Ibec) e pela Exchange 4 Change Brasil (E4CB), lideranças do setor industrial, especialistas e representantes de empresas de diversos segmentos debateram os gargalos e avanços da transição para um novo modelo econômico, com um senso de urgência para fortalecer o protagonismo da circularidade na agenda climática internacional.

“Existe um trabalho de letramento muito importante em todos os níveis, da indústria ao governo visando estimular novas habilidades e competências para o redesenho de produtos e serviços, além de diretrizes governamentais para garantir o ganho de competitividade e escala.  Precisamos criar uma agenda comum, com ações estruturantes de financiamento, apoio a redes de colaboração e campanhas regionais de conscientização estimulando novos valores, atitudes e comportamentos dos consumidores. Esta será a COP da implementação, e a indústria precisa estar pronta para liderar a transformação do mercado”, destacou Beatriz Luz, diretora da E4CB e presidente do Ibec, que mediou a conversa.

Foram destacados os exemplos das federações das indústrias  de Pernambuco e Pará, que vêm desenvolvendo projetos estruturantes e pioneiros para integrar a circularidade na indústria  alinhada à pauta climática e ao desenvolvimento urbano. A live contou com a participação de Anísio Bezerra (diretor-vice-presidente da FIEPE), Deryck Martins (diretor-presidente da FIEPA) e do advogado ambiental André Castilho (Cipriano & Castilho). Também participaram representantes da Electrolux, Flextronics, Ideal Work e Purcom Química — empresas-membro do Hub de Economia Circular Brasil —, que compartilharam suas experiências na adoção de práticas circulares em operações industriais e na atuação .

O encontro reforçou a importância de acelerar a implementação da economia circular por meio de uma visão sistêmica, da integração de atores e de ações estruturantes. Beatriz Luz apresentou o recém-lançado relatório Brazil State of Circularity, que traça um raio X da circularidade no país e destaca os 3 gargalos e as 7 ações estruturantes para o avanço da economia circular no país. A análise resulta de 10 anos de trajetória da Exchange 4 Change Brasil e na interação com mais de 82 empresas nacionais, 19 especialistas internacionais de 8 países demonstrando a intensidade e o alcance das trocas num extenso processo de colaboração multissetorial e multidisciplinar

“A transição começa com um propósito compartilhado. Os principais aprendizados que extraímos dessa jornada são: a necessidade de uma visão comum, a força do engajamento coletivo com dados e lideranças comprometidas, e a urgência de redefinir papéis e responsabilidades para uma nova lógica econômica “, disse Luz.

Para a especialista, as ações prioritárias até a COP30 envolvem movimentos de apoio à liderança empresarial, colaboração multisetorial e inovação sistêmica. Beatriz reforçou ainda que a COP30 deve ser vista como um momento-chave para apresentar casos práticos e fortalecer o diferencial do Brasil.

Indústrias do Pará e de Pernambuco se posicionam pela circularidade

Representando a Federação das Indústrias do Estado de Pernambuco (FIEPE), o diretor-vice-presidente Anísio Bezerra Coelho defendeu que a economia circular precisa ser encarada como uma ferramenta estratégica para o setor produtivo, capaz de gerar não só ganhos ambientais e sociais, mas também econômicos:

“Os desafios são grandes, mas as oportunidades são proporcionais. É fundamental que a circularidade seja compreendida pelo setor industrial como um caminho real de competitividade. Em Pernambuco, zeramos os lixões a céu aberto e já temos projetos como a purificação do biogás e a produção de biometano integrados à rede estadual de distribuição. É um avanço que precisa de escala, regulação e cultura para se manter”.

Anísio também destacou o memorando de entendimento firmado entre a FIEPE, o Governo do Estado de Pernambuco e o Ibec, a fim de elaborar um Plano Regionalizado de Economia Circular para o estado. Isso contará com uma construção participativa junto à população pernambucana, representantes da indústria e do governo.

Diretamente de Belém, cidade-sede da COP30, o diretor-presidente da Federação das Indústrias do Pará, Deryck Martins, trouxe atualizações sobre o movimento Jornada COP30+, com foco em transição energética, economia circular, socioeconomia e rastreabilidade de cadeias de valor e uma visão que vai além da COP30:

“Estamos falando de 46% da indústria instalada da Amazônia concentrada no Pará. Nosso desafio é conciliar floresta em pé, valorização da biodiversidade e uma economia de baixo carbono. Para isso, estruturamos comitês setoriais e iniciativas como o uso sustentável da madeira e reciclagem com cooperativas — práticas que serão apresentadas como entregas da indústria para a COP30”.

Deryck frisou ainda a necessidade de conectar a indústria amazônica aos desafios globais, com destaque para pequenas e médias empresas.

Atualizações internacionais

O advogado ambiental André Castilho trouxe uma análise das recentes reuniões da SB62 — os órgãos subsidiários da Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, realizadas em Bonn, na Alemanha —, que preparam o terreno para os acordos da COP30:

“Há uma movimentação global em torno de três palavras-chave: sinergia, implementação e mutirão. Discutimos formas de alinhar as convenções do clima, biodiversidade e combate à desertificação, e a indústria tem papel central nessa transição. A economia circular surge como uma oportunidade de reorganizar essa lógica com impactos reais”.

O encontro reafirmou o compromisso do Hub-EC em construir uma agenda prática, colaborativa e tecnicamente sólida para a economia circular no Brasil. O trabalho nos últimos cinco anos mobilizou 121 representantes de empresas-membro e contou com 90 especialistas convidados de diferentes setores e países. As próximas entregas incluem o fortalecimento de roadmaps regionais, ferramentas para implementação em cadeias produtivas e novos modelos de financiamento para viabilizar a transição.

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