Um recente estudo do Boston Consulting Group (BCG) sobre o cenário em transformação da agricultura brasileira revela as necessidades, desafios e prioridades dos produtores rurais em 2025. Intitulado “The Pulse of Brazilian Farmers”, o levantamento entrevistou mais de 1.350 agricultores, cobrindo 84% das terras agrícolas do Brasil em mais de 15 estados. A pesquisa abrangeu culturas como soja, milho e pecuária, oferecendo uma visão abrangente do agronegócio nacional.
A análise do BCG identificou sete arquétipos distintos de produtores rurais definidos a partir da combinação de cinco dimensões (sistema produtivo, idade, visão sobre sustentabilidade, perfil tecnológico e preferências de investimento):
- Performance-First. Jovens produtores focados em resultados, eficiência e decisões orientadas para o negócio, priorizando o lucro.
- Steady-Hand Explorer. Produtores experientes, mas flexíveis, que buscam soluções confiáveis e acessíveis, considerando novas oportunidades com cautela.
- Stress-Free. Produtores mais velhos que priorizam a facilidade no trabalho, a segurança e a satisfação pessoal em vez de retornos financeiros ou inovações de ponta.
- Smart-Ranch Ops. Pecuaristas orientados pela tecnologia, que adotam a inovação para aumentar a eficiência, simplificar o trabalho e expandir suas operações de gado.
- Legacy and Trust. Pecuaristas focados na tradição, que valorizam a confiabilidade, as decisões familiares e uma abordagem constante e confiável para a agricultura.
- Future-Fit. Jovens produtores que priorizam resultados, eficiência e decisões orientadas para o negócio, mas também valorizam a sustentabilidade.
- Eco-Vision. Empreendedores que buscam escalar as operações, mantendo a responsabilidade ambiental e o reconhecimento externo.
“Essa diversidade de perfis reflete a complexidade do setor e a necessidade de abordagens personalizadas. Por exemplo, a maioria tende a ser mais cautelosa sobre a adoção de novas tecnologias, com apenas 18% considerando estar entre primeiros a adotar. Por essa razão, precisamos mostrar a eficácia da solução para então despertar o interesse desse público”, afirma Lucas Moino, sócio do BCG.
A pesquisa também mostra uma mudança de mentalidade impulsionada por fatores como o aumento dos custos da terra, refletindo uma tendência crescente em direção à otimização da produção. Segundo o estudo, quase metade dos agricultores (49%) expressou o desejo de aumentar a produtividade, enquanto 42% combinaram essa meta com a expansão e apenas 9% se concentraram exclusivamente na conquista de novas áreas.
“Observamos uma crescente priorização do investimento em produtividade em detrimento da expansão da área cultivada. Essa mudança de mentalidade reflete a busca por maior eficiência no uso da terra, impulsionada pelo aumento dos custos e pelas restrições legais à abertura de novas áreas. Essa tendência impacta significativamente as estratégias de fornecedores de insumos, tecnologia e maquinário, bem como de quem compra dos produtores”, explica Moino.
Essa busca por eficiência, no entanto, enfrenta adversidades significativas. Os desafios externos continuam sendo uma fonte significativa de preocupação, com 94% deles citando as secas prolongadas como o principal receio e 50% reconhecendo a instabilidade climática como o maior risco para seus negócios.
Diante desse contexto, a sustentabilidade também emerge como um tema central para o futuro da agricultura brasileira, com 80% dos respondentes entendendo a sua importância. Porém, apenas 14% dos produtores a consideram um fator-chave para o sucesso, o que indica a necessidade de incentivos e políticas que conectem a sustentabilidade com o resultado prático, traduzindo em valor tangível para o produtor.
O BCG aponta ainda que a jornada de adoção tecnológica também não é homogênea. Canais de compra e influenciadores tem papel relevante na adoção, assim como critérios funcionais e emocionais dos perfis de produtores, trazendo diferentes dinâmicas de compra para tecnologias de insumos, equipamentos e serviços. A mecanização segue sendo o motor do crescimento do agronegócio brasileiro e é peça-chave para que o país mantenha protagonismo na segurança alimentar global e no seu próprio desenvolvimento econômico.
No campo da sustentabilidade, práticas como plantio direto, rotação de culturas e pastagem são amplamente adotadas. Por outro lado, técnicas como manejo de resíduos animais e rastreabilidade da produção ainda enfrentam baixa penetração e conhecimento, abrindo espaço para políticas de assistência técnica e financiamento mais direcionadas
Por essa razão, o acesso ao crédito surge como um elemento crucial para impulsionar a inovação e a sustentabilidade na agricultura brasileira, fortalecendo a mecanização e promovendo um agronegócio mais resiliente diante das mudanças climáticas e novas exigências de mercado. O estudo revela que 80% dos agricultores já utilizaram ou utilizam crédito, mas o acesso varia significativamente. Agricultores maiores (67%) têm mais facilidade em obter crédito do que os menores (52%). No entanto, muitos produtores ainda enfrentam dificuldades para acessar esse recurso, como custo elevado e complexidade nas exigências de garantias, especialmente os pequenos e médios agricultores
“Entender as motivações reais de cada perfil é o primeiro passo para destravar crescimento. Soluções replicáveis não funcionam em um setor com tamanha diversidade. A agenda do agronegócio será fortemente beneficiada com uma abordagem genuinamente centrada no produtor”, conclui Moino.
O estudo completo está disponível, em inglês, no site do BCG.