Estamos vivendo um momento em que as empresas ao redor do mundo estão ressignificando seus papéis na sociedade. A agenda ESG, sigla para Environmental, Social and Governance (Ambiental, Social e Governança), deixou de ser uma escolha para se tornar uma obrigação e um imperativo estratégico. Hoje, mais do que gerar lucro, é preciso trazer impacto positivo de dentro para fora, envolvendo o cuidado com a natureza e a responsabilidade com o próximo.
Como exemplo da importância do ESG nos negócios e de como o público está atento aos movimentos empresariais, segundo pesquisa da Nexus, companhia de pesquisa e inteligência de dados, realizada em 2024, seis em cada 10 brasileiros deixaram de comprar produtos nos últimos dois anos por pelo menos um dos seguintes motivos: (47%) desrespeito ou discriminação, (42%) corrupção ou fraude, (32%) impacto ambiental negativo e (21%) xenofobia. Além disso, de acordo com o estudo, o ESG está entre as categorias mais importantes para um negócio ser visto de forma positiva ou não pelas pessoas.
Assim, a área de recursos humanos das empresas hoje, tem um papel crucial na aplicação de ótimas práticas ESG, já que é responsável por tarefas como a promoção da saúde mental e física, estimulação de relações saudáveis entre os colaboradores, impulsionamento do desenvolvimento humano e intelectual, entre outras. Atualmente, a área de RH e o ESG devem andar juntos a fim de seguir os novos padrões exigidos pela sociedade e suprir as necessidades sociais e ambientais.
Ações na prática
Porém, hoje são exigidos mais do que discursos. Os profissionais de RH têm o papel de transformar intenções e ideias em ações concretas. O ESG só se torna realidade quando é vivido no dia a dia da organização e essa transformação começa pela cultura organizacional.
Mas, como promover essa mudança na prática? Entre as iniciativas com impacto mais imediato, podemos destacar o reforço dos valores dos colaboradores e a revisão das práticas de recrutamento e seleção, fazendo contratações com base em critérios alinhados ao ESG. Também se destacam os treinamentos corporativos sobre ética, inclusão, mudanças climáticas, economia circular, consumo consciente, entre outros, além da promoção de ações práticas como programas de voluntariado, carona solidária e redução de uso de papéis e plásticos.
Profissionais de RH, portanto, possuem a missão de pesquisar, criar e colocar em prática diferentes ações, demonstrando a importância que estas possuem e estimulando colaboradores a agirem da forma correta. Quanto mais atividades forem sendo realizadas pelas companhias, mais os funcionários terão uma consciência ESG, facilitando a adesão de novas campanhas, atividades, entre outras.
Vantagens a longo prazo
Os benefícios destes processos são reais e mensuráveis para as organizações. Entre as principais vantagens, destaca-se a atração e retenção de grandes talentos, já que equipes engajadas tendem a apresentar menor rotatividade e maior produtividade. Também há o fortalecimento da cultura organizacional, promovendo um ambiente de trabalho mais ético, justo e saudável. Quando há um incentivo ao desenvolvimento humano contínuo, por meio de capacitações, planos de carreira e um cuidado genuíno com o crescimento pessoal e profissional dos colaboradores, é criado um ambiente de funcionários fortes e que pensam fora da caixa.
Desafios para o avanço do ESG
Claro que a implementação do ESG ainda enfrenta barreiras. Segundo a pesquisa “Panorama ESG 2024” da Amcham Brasil, instituição voltada para a promoção do comércio e investimento entre o Brasil e os Estados Unidos, entre os desafios das empresas para alcançarem avanços consistentes na agenda ESG estão a dificuldade em medir resultados (40%), a ausência de uma cultura corporativa forte de sustentabilidade (32%) e a falta de recursos financeiros e de uma metodologia eficiente de implementação (30%).
Porém, obstáculos como estes podem ser superados com estudos e pesquisas constantes, o que exige que empresas invistam no aprimoramento profissional dos especialistas da área de gestão de pessoas. Há diferentes caminhos para atingir os mesmos objetivos, bastando para isso, apenas olhares estratégicos. A elaboração de um planejamento assertivo e a realização de parcerias com instituições que ofereçam suporte, são ações importantes.
O setor de RH é um dos principais responsáveis por colocar o ESG em movimento nas empresas, integrando todos os colaboradores e os guiando para o mesmo caminho. Quando essa agenda é incorporada à gestão de pessoas, as organizações não só melhoram os resultados internos, como também fortalecem o papel social e ambiental. Lucro e impacto positivo não precisam andar em caminhos opostos; podem, e devem, caminhar lado a lado.
Samantha Salese, Diretora de Gente e Gestão na Propay.