quinta-feira, junho 19, 2025

O desafio das cidades sustentáveis é a conservação do solo

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À medida que as cidades crescem, um dos maiores desafios que enfrentamos é a conservação do solo. Em áreas urbanas, ele não é apenas um recurso para construção, mas um componente vital para a saúde ambiental e a qualidade de vida. Contudo, com o aumento da impermeabilização do solo e a expansão desordenada das cidades, o terreno sofre impactos significativos que comprometem sua capacidade em sustentar a biodiversidade local.

A impermeabilização do solo, provocada pela construção de ruas, calçadas e edifícios, impede que a água da chuva seja naturalmente infiltrada. Isso não apenas aumenta o risco de enchentes, mas também reduz a qualidade da água, dificulta a regeneração da vegetação urbana e aumenta o potencial de erosão quando essa água chega a vias não pavimentadas. Solos com suas superfícies cobertas por concreto ou asfalto não conseguem realizar suas funções de infiltração, percolação e retenção de água, e o escoamento rápido sobrecarrega os sistemas de drenagem.

Felizmente, existem soluções que podem reverter esse quadro e trazer benefícios tanto para a saúde do solo quanto para a qualidade de vida nas cidades. A drenagem sustentável é uma dessas soluções. Tecnologias como telhados verdes, jardins de chuva e calçadas permeáveis ajudam a manter, mesmo que parcialmente, a capacidade do solo em realizar suas funções essenciais no ciclo da água, reduzindo o risco de enchentes e promovendo um ambiente mais saudável. Essas soluções permitem que as cidades se tornem mais verdes e resilientes, ao mesmo tempo em que contribuem para a recuperação da biodiversidade.

Estudos realizados em diversas cidades brasileiras têm demonstrado a eficácia de soluções sustentáveis na conservação do solo urbano. Em Pato Branco (PR), a adoção de pavimentos permeáveis resultou em significativa redução do escoamento superficial das águas pluviais, evidenciando a importância de materiais que favoreçam a infiltração da água. Em Porto Velho (RO), a análise da compactação do solo revelou que áreas com menor compactação apresentam melhor capacidade de infiltração da água no solo, contribuindo para a prevenção de alagamentos.

Já em Recife (PE), pesquisas indicaram que a impermeabilização excessiva do solo está diretamente relacionada ao aumento da frequência e intensidade das enchentes, reforçando a necessidade de planejamento urbano que priorize a permeabilidade do solo. Esses dados reforçam a urgência de práticas que promovam a saúde do solo nas áreas urbanas, visando cidades mais resilientes e sustentáveis.

Além disso, práticas como a recuperação de áreas degradadas por meio de hortas urbanas e jardins comunitários têm mostrado resultados positivos. Esses espaços não apenas ajudam a regenerar o terreno, mas também fornecem alimentos frescos, promovem a convivência comunitária e reduzem a pegada de carbono das cidades. Quando bem implementados, esses projetos criam uma rede de espaços verdes que melhoram a qualidade do ar, reduzem o calor urbano e aumentam o bem-estar dos habitantes.

Quando a zona urbana possui corpos de água, como rios, é essencial desenvolver áreas de preservação permanente para proteger a população de áreas com risco de enchentes e evitar que sujidades cheguem ao leito. Além disso, as áreas mais altas da cidade deveriam ser consideradas como reservas legais, uma vez que apresentam alta capacidade de infiltração da água e abastecimento de nascentes. As encostas, definidas pelo grau de declividade do terreno, também seriam reservas legais urbanas, preservadas em função do grande risco de deslizamentos e acidentes.

As políticas públicas desempenham um papel essencial na promoção da conservação do solo e, por consequência, da vida. Para isso, é necessário que as cidades adotem planejamento e estratégias sustentáveis que incentivem o uso de práticas de manejo ecológicas. Iniciativas como o planejamento de áreas verdes e a implementação de códigos ambientais são fundamentais para garantir que as cidades cresçam de forma equilibrada e sem comprometer os recursos naturais.

A conservação nas áreas urbanas é também uma questão de adaptação às mudanças climáticas. Terrenos saudáveis ajudam a mitigar os efeitos de eventos climáticos extremos, como secas e tempestades intensas, e promovem a retenção de carbono. Ao melhorar a saúde do solo, as cidades se tornam mais resilientes, capazes de enfrentar as adversidades climáticas com mais eficácia.

Adotar soluções para conservar o solo nas áreas urbanas não é apenas uma questão ambiental, mas também social e econômica. Com um planejamento adequado e práticas sustentáveis, podemos transformar nossas cidades em locais mais verdes, saudáveis e preparados para o futuro. O solo, muitas vezes negligenciado, é a base que sustenta a qualidade da água, do ar e da vida nas cidades, sua preservação deve ser uma prioridade.

Henrique Maluf,  Engenheiro Agrônomo e doutor em Ciência do Solo, gerente técnico da Galvani Fertilizantes.

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