Recentemente tive a honra de participar no Congresso Nacional de ESG, realizado na Amcham-Brasil, em um painel sobre Sustentabilidade e Advocacia. Junto aos colegas Luciana Lanna, especialista em advocacia ambiental (mediadora), Marina Maciel, advogada sênior de meio ambiente e clima na BMA Advogados e André Blotta Laza, sócio na Machado Associados, desenvolvemos um debate muito rico e produtivo acerca do assunto.
Um dos pontos centrais da nossa discussão foi como percebemos a evolução do papel do advogado diante da crescente demanda por práticas de sustentabilidade, saindo de uma visão puramente reativa e focada em compliance regulatório tradicional para um papel mais proativo e estratégico na gestão de riscos neste tema. Na minha visão eu acredito que tecnologias como análise de dados, gestão documental e inteligência artificial desempenham um papel crucial ao fornecer estes insights preditivos, permitindo uma abordagem mais estratégica na gestão de riscos.
Ainda durante o painel, ao concordamos com a premissa de que a Governança é o pilar que realmente viabiliza e dá sustentação ao ‘E’ e ao ‘S’ no ambiente corporativo, exploramos o fato de que os departamentos jurídicos e escritórios de advocacia atuam para garantir que as iniciativas ambientais e sociais estejam efetivamente ancoradas em estruturas de governança sólidas, transformando-as em compliance efetivo e mitigação de riscos, e não apenas em ‘boas intenções’ ou ações isoladas. No setor jurídico, vejo que ferramentas de gestão de contratos inteligentes e compliance digital fazem a diferença, ajudando as empresas e escritórios a garantirem que as práticas de sustentabilidade sejam documentadas, auditáveis e verificáveis, tornando-as ações concretas e não apenas intenções.
Durante o bate papo, também discutimos quais os maiores desafios enfrentados pelos advogados ao atuar com sustentabilidade dentro das empresas ou assessorando os seus clientes nas questões jurídicas. Abordamos tópicos como o desafio de “integração” com outras áreas (RI, Operações etc.), a mensuração de resultados e impactos, a gestão de expectativas da alta administração, ou ainda, a adaptação a um cenário de ‘soft law’ e regulações ainda em desenvolvimento.
Neste contexto, aproveito para destacar que a adoção de plataformas colaborativas de gestão de sustentabilidade auxilia bastante nessa integração, ao facilitar a mensuração de impacto e o monitoramento contínuo, deixando as informações e os dados centralizados e disponíveis para quaisquer áreas da empresa.
Por fim, refletimos sobre qual será a próxima fronteira ou a principal tendência da advocacia em relação à sustentabilidade e onde o jurídico poderá agregar ainda mais valor estratégico. Mais uma vez com o olhar de tecnologia auxiliando a advocacia, eu vejo como uma próxima fronteira a automatização da governança de sustentabilidade, onde teremos softwares mais inteligentes, machine learning aplicada ao compliance e contratos autogerenciáveis que tratem das questões de desenvolvimento sustentável. Entendo que o jurídico pode agregar valor ao estruturar frameworks regulatórios, promovendo transparência e rastreabilidade nas operações empresariais.
Carlos Manino, diretor de Soluções e Negócios TOTVS JuriTIs.