O Boston Consulting Group (BCG), em colaboração com o climaTRACES Lab da Universidade de Cambridge e a Cambridge Judge Business School, produziu um estudo com projeções sobre os impactos econômicos das mudanças climáticas, indicando que o Brasil pode enfrentar uma perda de até 18% do seu Produto Interno Bruto (PIB) até 2050.4
Utilizando modelos e dados para projetar as consequências financeiras da inação climática, o relatório, intitulado “Landing the Economic Case for Climate Action with Decision Makers”, também revela que a América Latina como um todo está em risco, com projeções de perdas econômicas de 14% do PIB no mesmo período.
“A ação climática é essencial não apenas para proteger o meio ambiente, mas para evitar danos econômicos severos. Parafraseando a primeira carta do presidente da COP30: ‘a mudança é inevitável – seja por escolha ou por catástrofe’. Neste estudo, quantificamos o impacto no PIB mundial em um cenário de 3oC de aquecimento global em comparação a um cenário de 2oC, até 2100”, explica Ricardo Pierozzi, diretor executivo e sócio do BCG. “Essa diferença se traduz numa perda acumulada de 11% a 27% do PIB mundial até 2100. Para evitá-la, será necessário investir entre 1% e 2% do PIB global em mitigação e adaptação, o que deixa claro que é melhor prevenir os efeitos do que lidar com eles posteriormente. Precisamos ver o gasto climático como um investimento atrativo para a economia e os negócios e, com isso, vencer as barreiras e encontrar soluções efetivas que gerem retorno adequado para a alocação de capital de longo prazo”, complementa o executivo.
A pesquisa também enfatiza que a inação climática gera uma despesa significativa. Ao calcular o custo líquido, os pesquisadores consideraram não apenas os danos causados pelas mudanças climáticas, mas também o investimento que seria necessário em medidas de mitigação (redução de emissões) e adaptação (preparação para os impactos). Essa análise revelou que o valor de não agir é equivalente a uma perda de 11% a 27% da produção econômica total acumulada ao longo do tempo.
Contudo, embora o investimento em soluções climáticas seja crucial, o levantamento aponta que, globalmente, apenas 1% do PIB (US$ 1,2 trilhão) é investido anualmente em mitigação. Além disso, o estudo alerta para o risco de um aquecimento global ainda mais extremo, com as projeções indicando que há mais de 10% de chance de a temperatura global aumentar mais de 6°C até 2100, caso as emissões de gases de efeito estufa continuem sem controle.
Barreiras para o combate das mudanças climáticas
A análise identificou ainda cinco barreiras que dificultam ou atrasam a implementação de ações efetivas para combater as mudanças climáticas:
Falta de consenso. Os líderes globais são mais propensos a enquadrar a ação climática em termos sociais e morais, enquanto as implicações econômicas não são enfatizadas ou mesmo mencionadas.
Custos iniciais vs. benefícios futuros. Os líderes precisam se preparar para colher os frutos de seus investimentos em décadas, o que prejudica a ação climática, pois um retorno tão distante está além dos horizontes de tempo da maioria das organizações.
Distribuição desigual de custos e benefícios. Algumas regiões se mostram relutantes em fazer investimentos por acreditar que os benefícios não seriam sentidos por elas e sim por países de outros continentes, o que acaba gerando impasses e atraso na mitigação dos impactos das mudanças climáticas.
Ameaças e oportunidades da transição. Espera-se que a transição crie 14 milhões de novos empregos globalmente no fornecimento de energia até 2030 e 16 milhões de funções em setores existentes. Contudo, 5 milhões de empregos em indústrias legadas, como as de combustíveis fósseis, podem desaparecer. Uma transição justa é necessária para apoiar trabalhadores e comunidades afetadas por meio de iniciativas de requalificação, realocação e diversificação econômica.
Falta de compreensão dos danos. Há uma ampla gama de estimativas e metodologias que não conseguem construir um consenso sobre os danos econômicos ocasionados pelas mudanças climáticas. Isso pode levar a uma subestimação dos riscos e a uma falta de urgência na ação.
O BCG propõe que, para superar essas barreiras, seja criada uma abordagem abrangente que envolva a construção de consenso, o gerenciamento de custos e benefícios, a garantia de justiça social e o aprimoramento da compreensão dos riscos.
O estudo completo está disponível, em inglês, no site do BCG.