Tenho visto uma movimentação preocupante no cenário corporativo global: diversas empresas norte-americanas passaram a encerrar ou reduzir seus departamentos de diversidade, equidade e inclusão. Esse movimento contraria uma tendência que, nos últimos anos, havia ganhado força, justamente pelo reconhecimento de que diversidade não é apenas uma questão moral ou social, mas também estratégica para os negócios.
Ao olhar para esse fenômeno lá fora, vale refletirmos sobre o quanto ainda temos a avançar no Brasil, um país marcado por profundas desigualdades, e como as políticas ESG (ambiental, social e governança) podem e devem ter um papel transformador no mercado de trabalho.
No Brasil, os números escancaram a exclusão histórica. Segundo levantamento do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as pessoas negras representam cerca de 56% da população brasileira, mas, no mercado de trabalho, elas ocupam apenas 6,3% dos cargos de liderança, de acordo com estudo do Instituto Ethos. Além disso, a diferença salarial entre brancos e negros ainda ultrapassa 40% em diversas áreas. Esses dados evidenciam que, apesar dos avanços pontuais, ainda há um longo caminho a ser percorrido para garantir igualdade de oportunidades e acesso.
Na MMF Projetos de Infraestrutura, temos buscado fazer a nossa parte para mudar esse cenário. Quando fundamos a empresa, em 2014, o objetivo era atender demandas de infraestrutura pendentes das obras da Copa do Mundo no Brasil. Logo após a nossa constituição, no meio daquele ano, fomos surpreendidos pela deflagração da Operação Lava Jato, que abalou profundamente o setor de infraestrutura no país.
Desde o princípio, ficou nítido para nós que a governança seria um pilar inegociável, mesmo sem, na época, termos consciência do que as três letras ESG representavam. Já sentíamos na prática a importância de estruturar uma empresa ética e resiliente em um mercado fragilizado.
Como CEO negro de uma empresa de engenharia para infraestrutura, sei que ocupo uma posição rara nesse setor. Desde o início, trouxemos a governança e o social como compromissos centrais. Ao longo da nossa história, fomos reforçando esse propósito com lideranças femininas e de mulheres negras. Hoje, podemos dizer com orgulho que a MMF é proporcionalmente uma das empresas de engenharia mais diversas do Brasil em termos raciais — e não apenas por política, mas porque nos tornamos uma referência natural para jovens talentos negros e negras que buscam oportunidades. Eles nos procuram, porque aqui se sentem representados e acolhidos.
Quando há o investimento em ESG, um dos retornos de cultura e financeiro que pouco se fala é sobre a baixa rotatividade. Muitas empresas enfrentam dificuldades para reter profissionais qualificados, mas temos que optar por assumir nosso papel como formadores e abraçar jovens recém-formados ou ainda na faculdade, principalmente com foco na diversidade, e oferecer a eles sua primeira grande chance na vida profissional. Esse compromisso não só fortalece a equipe, como também contribui para o desenvolvimento do mercado nacional.
Manter as políticas de diversidade nas empresas não é apenas um ato de responsabilidade social é uma decisão inteligente de negócios. Equipes diversas são mais criativas, inovadoras e preparadas para lidar com um mundo complexo. Além disso, empresas inclusivas tendem a apresentar melhores resultados financeiros e reputacionais. Ao renunciar a esses compromissos, as organizações não apenas desperdiçam talentos valiosos, como também perdem competitividade.
O mercado de trabalho do futuro será cada vez mais exigente em termos de propósito e impacto social, e quem não compreender isso corre o risco de ficar para trás. Temos que entender que o ESG não é uma obrigação e sim uma escolha consciente de crescimento sustentável é um pilar essencial para construir um país mais justo.
Luciano Machado, CEO da MMF Projetos de Infraestrutura.