Cem trilhões de dólares. A cifra, equivalente a 12 vezes o Produto Interno Bruto (PIB) global, foi apresentada por Amar Bhattacharya no painel mediado pelo Instituto Clima e Sociedade (iCS) no II Fórum de Finanças Climáticas e de Natureza, realizado no dia 26 de maio no Rio de Janeiro. Segundo Amar – co-chair do Grupo de Especialistas de Alto Nível sobre Financiamento Climático – esse é o custo mundial da falta de ação em relação às mudanças no clima.
“É a diferença entre agir e não agir. Se agirmos diante das oportunidades, os benefícios serão imensos. É o momento de dar um salto à frente, e é o que vai acontecer no Sul. As oportunidades de investimento estão aqui”, disse Amar, que participou do painel “Roteiro de Baku a Belém: o papel da COP 30 nas metas de financiamento climático e financiamento da natureza”.
Mediado por Maria Netto, diretora-executiva do iCS, o painel também contou com a participação de Tatiana Rosito, secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, e Haje Schütte, chefe da Divisão de Financiamento para o Desenvolvimento Sustentável da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). Todos foram unânimes em destacar a importância de construir confiança para o alcance da meta de US$ 1,3 trilhão em financiamento climático nos países em desenvolvimento até 2035.
“Ainda temos muito a fazer, e essa mensagem de confiança é necessária para o trabalho conjunto”, destacou Maria. Nesse sentido, o Brasil vem dando um passo importante. Em abril, lançou o Círculo de Ministros das Finanças da COP 30, reunindo representantes de cerca de 30 países. Tatiana Rosito destacou o trabalho do grupo, alinhado com o Ministério do Meio Ambiente, com o objetivo principal de mobilizar recursos para o financiamento climático. Para ela, confiança é fundamental para atrair capital.
“As soluções para a natureza são essenciais para nós também. Nosso objetivo é construir confiança, e para isso temos que exercitar o que fazemos de melhor. Tentar ouvir todos, ouvir prioridades, mobilizando várias partes. Precisamos ter solidariedade, equidade. É a única forma de destravar essa roda política até novembro”, afirmou. O Círculo de Ministros trabalha com cinco prioridades – entre elas, a reforma de bancos multilaterais e as country platforms (plataformas de cada país para atrair investimentos privados para o desenvolvimento sustentável) – para o alcance da meta de US$ 1,3 trilhão.
A secretária acrescentou que os bancos multilaterais já abraçaram o compromisso com a agenda climática. No entanto, segundo ela, é preciso envolver outros atores do setor privado – como, por exemplo, as seguradoras – e trabalhar sobre mecanismos de regulação, o que vem sendo debatido com o Banco Central.
“Estamos criando instrumentos. O Brasil está construindo sua plataforma de investimentos no BNDES, tentando conectar investidores. O modelo da plataforma está funcionando. Já são mais de US$ 20 bilhões em projetos. O objetivo é que consigam sair da plataforma e tenham suas estruturas específicas. Isso pode ser útil para a maioria dos países”, afirmou Tatiana, referindo-se à Plataforma Brasil de Investimentos Climáticos e para a Transformação Ecológica (BIP), lançada em outubro de 2024.
Para Haje Schütte, o Brasil está no caminho certo na liderança para mobilizar o US$ 1,3 trilhão necessário ao financiamento climático. Ele apontou, no entanto, alguns pontos que ainda precisam melhorar: as políticas regulatórias e a forma de atuação dos bancos multilaterais;
“Os bancos de desenvolvimento, as instituições multilaterais e o setor privado precisam ser trazidos ao palco para participar das oportunidades de investimento. Se não forem tomadas ações, haverá muitos prejuízos, e as pessoas verão que nada foi feito pelo setor financeiro”, afirmou o especialista.