A 15ª reunião anual da Força-Tarefa de Governadores pelo Clima e Florestas (GCF Task Force), a maior rede governamental subnacional do mundo focada em florestas e clima, terminou em Rio Branco, Acre, nessa sexta-‘feira, 23. Durante o encontro, a Força-Tarefa GCF se envolveu em robustas trocas técnicas e apresentou uma visão comum de apoio e engajamento à Ministra Marina Silva para aumentar a participação e implementação subnacional, visando à COP30 em Belém, Pará, Brasil, em novembro de 2025.
A Força-Tarefa GCF também anunciou a adição de dois novos membros plenos e sete novos observadores, além de uma série de medidas para continuar a implementação da Nova Economia Florestal. Com representantes de 11 países diferentes presentes, a Força-Tarefa GCF agora conta com 45 governos subnacionais, abrangendo a Amazônia brasileira e peruana, bem como 60% das florestas do México e da Indonésia e 75% da Amazônia boliviana.
O evento contou com a presença de quase 20 governadores e vice-governadores, além da Ministra do Meio Ambiente do Brasil, Marina Silva, bem como a Diretora Socioambiental do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Tereza Campello, e autoridades de secretarias estaduais de meio ambiente, líderes indígenas e comunitários locais, e parceiros de cooperação internacional.
“Nós já vivemos os efeitos das mudanças climáticas. Precisamos liderar pelo exemplo, porque o Brasil vai sediar a COP30 e os signatários também. Agora, é o momento para implementar as medidas, que demandam investimentos de US$ 1,3 trilhão. Precisamos dobrar as fontes de energia renovável, descarbonização, entre outros. Precisamos reduzir a emissão de carbono. Portanto, estar hoje no Acre, na Universidade Federal do Acre, me traz muitas lembranças, porque eu me graduei aqui. E essas lembranças me levam a alguns pontos, como os necessários cuidados que precisamos ter em direção às florestas. A bioeconomia é um fato e a colocamos em prática. Guiada pelo Fundo da Amazônia e Fundo Clima, estabelecemos diálogo genuíno, que vão desde manejo e outras iniciativas. E esses investimentos anunciados hoje, em parceria com o BNDES, por meio do Fundo Amazônia e Fundo Clima, continuarão nos ajudando a reduzir em 43%, por exemplo, o desmatamento na floresta amazônica como ocorreu em 2024. E todos esses mecanismos, somados ao REDD+ e ao TFFF, quando bem utilizados, contribuem para a redução do desmatamento e também fomentam a economia local e regional”, afirma Marina Silva, Ministra do Meio Ambiente do e Mudança do Clima do Brasil.
“Se a Nova Economia Florestal vem da terra e de seus elementos, é necessário que cada um de nós assuma seu papel de liderança e, assim, promova os pilares da bioeconomia, restauração de áreas degradadas, infraestrutura nacional e intensificação produtiva, posicionando-nos na vanguarda de um modelo inovador, próspero e permanente”, afirmou Gladson Cameli, Governador do Acre e anfitrião da reunião. O Acre é um estado florestal chave localizado no sudoeste da Amazônia, com 85% de sua floresta preservada.
“O Acre é um dos estados que mais visitei ultimamente. A agenda ambiental tem se tornado parte cada vez mais central nas operações diárias da instituição. A Nova Economia Florestal já está em pleno funcionamento no banco. Não é uma promessa, não é o futuro — está acontecendo hoje -, especialmente quando olhamos para esses dois anúncios que temos em mãos”, disse Campello, que anunciou R$ 67 milhões para a Amazônia, em parceria com o Ministério do Meio Ambiente e Mudança do Clima, canalizados por meio do Fundo Amazônia e do Fundo Clima.
O projeto da Madeflona fortalece a preservação de 141 mil hectares de floresta amazônica. Com essa nova tecnologia, há redução de custos, agregando valor e proporcionando ganhos de qualidade e durabilidade, tudo de forma sustentável. Esse projeto se insere na agenda estratégica de restauração e conservação florestal do Banco, que já acumula R$ 1,16 bilhão em apoio financeiro desde 2023.
Enquanto isso, o projeto de Agricultura Familiar é uma iniciativa recentemente aprovada que beneficia populações indígenas, famílias rurais, comunidades assentadas, extrativistas, ribeirinhos, estudantes e a comunidade escolar. Desde 2010, o Fundo Amazônia já destinou R$ 236 milhões ao Acre. E as operações contratadas a partir de 2023 somam R$ 131 milhões.Clique Para Download
“O mundo continua a enfrentar uma emergência climática, com os recentes números de desmatamento mostrando um cenário muito sombrio. Esta reunião da Força-Tarefa GCF tem sido extremamente importante porque ajuda a construir a visão e a implementação de abordagens subnacionais para enfrentar essa emergência com base em expertise e soluções reais no terreno. O que isso significa é que a comunidade internacional, governos nacionais e parceiros devem se unir aos nossos Governadores e suas equipes para construir a Nova Economia Florestal. Estamos especialmente entusiasmados em dar as boas-vindas a dois novos estados membros efetivos, a província equatoriana de Orellana e Beni, do Departamento da Bolívia”, disse William Boyd, Líder de Projeto da Força-Tarefa GCF. Os governos subnacionais de Amazonas, Guainia, Guaviare, Putumayo e Vaupés na Colômbia, bem como Michoacán, México, e Tumbes, Peru, são os novos membros observadores da Força-Tarefa GCF, aprovados por votação realizada na reunião do Acre.
“Os governos subnacionais precisam se sentir apoiados em suas ações. E, nesse sentido, temos procurado apoiá-los de todas as formas possíveis, especialmente no desenvolvimento de ações que resultem em medidas eficazes para combater os impulsionadores do desmatamento e do aquecimento global”, afirmou Colleen Lyons, Diretora de Projeto da Força-Tarefa GCF.
Um elemento chave da reunião foi a parceria estreita com os Povos Indígenas e líderes comunitários locais. Francisca Arara, Secretária de Estado dos Povos Indígenas do Acre, observou que “garantir parcerias colaborativas com os povos indígenas é essencial para fortalecer a economia baseada na floresta, a gestão ambiental e as medidas para cumprir os compromissos climáticos e florestais subnacionais”.
Ao longo desses cinco dias da reunião anual, a maior rede governamental subnacional do mundo definiu os temas prioritários que devem ser abordados pelos estados membros antes da COP30. A estruturação contínua da Nova Economia Florestal esteve no centro das discussões.
Medidas como o combate aos danos crescentes de incêndios florestais, parcerias com povos indígenas, redução da pobreza, preocupações com a disseminação do crime organizado em áreas florestais e a necessária manutenção das florestas em pé estiveram presentes tanto em reuniões fechadas quanto em sessões de trabalho públicas.
Entre as iniciativas avançadas durante a reunião estão uma Carta do Acre, que defende a integração de programas subnacionais jurisdicionais com estratégias nacionais; a implementação da Rede Global de Parceria para a Bioeconomia, que deverá apresentar parcerias público-privadas pioneiras em toda a Amazônia e estabelecer apoio durante a COP30; e uma parceria entre a Força-Tarefa GCF e a Amazonia+, com financiamento da União Europeia para fomentar o intercâmbio transnacional de experiências locais inovadoras no combate ao desmatamento.
Carta do Acre
Dentro de uma agenda global para a proteção da Amazônia, o Governador do Acre, Gladson Cameli, leu a Carta do Acre. O texto defende que o sucesso do fundo Tropical Forest Forever Facility (TFFF) depende de ações subnacionais e do reconhecimento dos Povos Indígenas e Comunidades Locais (PICLs) como guardiões da floresta. O fundo será lançado na COP30 em Belém para estabelecer financiamento de longo prazo baseado em desempenho para a proteção de florestas tropicais intactas, acelerar a restauração de terras degradadas e construir novas economias florestais duradouras
O documento também defende a integração de mecanismos como os programas REDD+ Subnacionais Jurisdicionais nas estratégias nacionais de REDD+ como um tema prioritário para a COP30. Isso inclui debates aprofundados sobre regulamentação, aumento de recursos financeiros e compreensão do papel dos órgãos de fiscalização e do poder judiciário para promover uma mudança nos métodos de uso da terra e, consequentemente, reduzir as emissões de gases de efeito estufa.
Força-Tarefa GCF e Bioeconomia
Em outra iniciativa global, a Força-Tarefa GCF defendeu a criação de uma rede de centros de ciência, tecnologia e inovação para a Amazônia por meio de parcerias entre governos subnacionais e setores privados, governos nacionais, sociedade civil e atores técnicos e financeiros.
Em relação às parcerias, cada setor assume um papel dentro de suas competências. Assim, os governos nacionais estabeleceriam políticas públicas e estruturas duradouras para reduzir o risco de investimento na bioeconomia; o setor privado forneceria os investimentos e a expertise técnica necessários para escalar a nova economia florestal; bancos, instituições multilaterais e fundações ofereceriam apoio por meio de programas e iniciativas para integrar as regiões; e a sociedade civil e as instituições de pesquisa e ensino se concentrariam na inclusão e engajamento dos Povos Indígenas e Comunidades Locais.
Nos próximos meses, a força-tarefa identificará projetos-piloto de prova de conceito e centros pioneiros de bioeconomia na Amazônia, com o objetivo de anunciar apoio a esses centros na COP30.
Mecanismo de Intercâmbio Técnico Amazonia+ & Força-Tarefa GCF
Durante a reunião anual, a Força-Tarefa GCF anunciou uma iniciativa de parceria com o Programa Amazonia+, financiado pela União Europeia e implementado pela AICS, FIAP e Expertise France. Este programa Amazonia+ visa fortalecer as ações de mitigação de emissões de CO2 nos oito países da bacia amazônica: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela.
O mecanismo de intercâmbio técnico envolve a troca de experiências, conhecimentos e práticas inovadoras entre estados, departamentos e províncias amazônicas por meio da plataforma da Força-Tarefa GCF. Atenção especial será dada à capacitação local, governança participativa e soluções baseadas na natureza.
A parceria também se concentra no combate ao desmatamento, particularmente na prevenção, monitoramento, controle e combate a incêndios florestais. Para isso, trabalha para desenvolver e implementar políticas e mecanismos de governança ambiental e florestal, com a participação ativa das comunidades locais e povos indígenas da bacia amazônica.