Futebol e sustentabilidade nunca estiveram tão conectados como nos dias atuais. Essas duas palavras, inclusive, viraram quase sinônimos nas discussões sobre como melhorar o espetáculo como um todo. Seja qual for o campeonato ou nível da competição, tenho observado um número crescente de iniciativas voltadas à preservação do meio ambiente. E essa movimentação é extremamente necessária, afinal, o esporte também é uma forma de se comunicar com a sociedade.
Apesar da relevância cultural e dos inúmeros pontos positivos, que poderíamos ficar horas debatendo e citando, temos que admitir que o futebol também impõe algumas barreiras que precisam ser superadas. Dados inéditos do Instituto The New Weather, por exemplo, mostram que o esporte é responsável por emitir entre 64 e 66 milhões de toneladas de CO₂ equivalente por ano, um volume comparável às emissões anuais da Áustria, país com 9,1 milhões de habitantes. Ainda segundo a pesquisa, uma única partida da fase final da Copa do Mundo masculina pode gerar de 44 mil a 72 mil toneladas de CO₂, o que equivale ao uso anual de até 51 mil carros.
Nós amamos o futebol e não conseguimos imaginar nosso cotidiano sem os times que somos apaixonados. Por isso, é fundamental discutirmos a relevância da sustentabilidade na modalidade. E o lado positivo disso tudo é que os estádios estão se adaptando com algumas medidas.
Antes de olhar para fora, quero começar fazendo a lição de casa e falando sobre o nosso projeto. Como Presidente Executivo da Cristalcopo, costumo dizer que, se o atacante tem o talento para marcar gols, a nossa vocação é a sustentabilidade — e o nosso grande golaço é o Recicla Junto. Lançamos a iniciativa em 2019, no estádio Heriberto Hülse, casa do Criciúma, e só no último Campeonato Brasileiro conseguimos retirar mais de 15 mil toneladas de resíduos, entre plástico, papel e vidro. Contamos com uma cooperativa de catadores para recolher o lixo gerado dentro e nos arredores do estádio, e a própria torcida do clube vem sendo peça-chave nessa missão, participando de forma voluntária com o uso de sacolas plásticas distribuídas nas arquibancadas.
Acredito que projetos como o nosso têm o poder de transformar o jogo,não só dentro de campo, mas fora dele também, e servir de inspiração para ampliar cada vez mais a mentalidade sobre práticas sustentáveis no futebol. No Brasil, ainda colhemos frutos do legado deixado pela Copa do Mundo de 2014. Alguns dos estádios reformados para o torneio têm se destacado por inovações. O Maracanã, por exemplo, conta com um sistema de captação de água da chuva e placas solares. O Mineirão abriga uma usina solar no telhado e aproveita a água da chuva para abastecer descargas e irrigar o gramado. Já o Beira-Rio se destaca com ações como a coleta de resíduos, entre outros exemplos positivos
Olhar para o presente com responsabilidade é um dever de todos, mas é pensando no futuro que conseguimos evoluir na transformação social e coletiva. É de suma importância a execução de mais projetos sustentáveis, principalmente nos próximos anos, que deixem de ser exceção e passem a fazer parte da rotina dos estádios em todo o território brasileiro. Cada jogo é uma oportunidade de celebrar o esporte e promover a consciência de mudança. Cabe a nós, gestores e líderes, continuarmos abrindo portas para a sustentabilidade.
Augusto Freitas, Presidente Executivo da Cristalcopo, idealizadora do projeto Recicla Junto, que atua há cinco anos no estádio Heriberto Hülse.