sábado, abril 26, 2025

O papel estratégico das empresas na formação de profissionais de TI para o futuro

Compartilhar

Até o início de 2023, o mercado de Tecnologia da Informação (TI) havia sofrido um período de crise, entre reestruturações e demissões. Contudo, o setor cresceu cerca de 11% no mesmo ano e, desde então, tem permanecido em constante evolução, superando as expectativas para o período. A pesquisa da Advance Consulting, de janeiro de 2025, aponta que o segundo trimestre de 2024 fechou com 22% de crescimento. No entanto, a mão de obra ainda é um desafio para as empresas.

Mesmo com o aquecimento desse mercado, as projeções para o ano de 2025 se demonstraram alarmantes. Estima-se que o Brasil terá um déficit aproximado de 530 mil profissionais de TI no mercado, de acordo com o relatório da Google for Startups. Como essa lacuna não pode ser facilmente preenchida em um curto período, as organizações que dependem dessa mão de obra passam a assumir um papel estratégico na formação dos profissionais do futuro.

Esse processo já está em discussão, visto que a crescente demanda por implantação de novas tecnologias, como a Inteligência Artificial (IA), exige mão de obra qualificada num momento em que ela está escassa. É aí que as empresas têm a oportunidade para participar da personalização da capacitação, de acordo com a demanda da transformação digital. Apenas a formação profissional tradicional não é mais suficiente para adequar os universitários egressos ao mercado de trabalho. Nesse sentido, é fundamental implementar outros modelos de suporte para inseri-los no ambiente corporativo.

Adaptações ao mercado

Uma das maneiras de suprir essa necessidade do mercado de profissionais de TI seria com parcerias entre empresas do meio e instituições de ensino. Essa estratégia tem o potencial de abranger um número maior de pessoas, permitindo que as companhias consigam aplicar na prática os conteúdos da formação universitária de acordo com as necessidades do segmento.

Por outro lado, é essencial a criação de programas de estágio pelas empresas com adaptações conforme a área de atuação. Os estagiários, por exemplo, podem se certificar nas tecnologias e desenvolver projetos apoiados diretamente nos especialistas atuantes. Acompanhar o dia a dia de trabalho é fundamental para a compreensão diante de adversidades e a construção profissional. Essa vivência faz parte da jornada de desenvolvimento, principalmente quando aplicada na prática.

Em muitos casos, principalmente no mercado de TI, o novo profissional da área não é necessariamente um colaborador jovem, mas alguém que migrou de setor. Em situações como essa, não há a necessidade de seguir a mesma trilha de quem está se inserindo no ambiente empresarial, porém a dinâmica entre mercados é diferente. É nesse sentido que o apoio das empresas deve ir além de programas de capacitação teóricos e abordar questões práticas específicas, criando, assim, uma jornada de formação de um profissional completo.

Skills desejadas em TI

O setor de Recursos Humanos e os Gerentes das áreas com vagas de TI abertas têm exigido dois tipos de habilidades no recrutamento desses profissionais. Atualmente, esses requisitos se dividem em duas partes, as chamadas Hard Skills, habilidades e conhecimentos técnicos de cada área de atuação, e as Soft Skills, habilidades interpessoais e comportamentais voltadas à sociabilidade.

Atualmente, entre as Hard Skills, exige-se conhecimento de IA e cibersegurança, ambos os casos vinculados à jornada de dados. No entanto, mesmo esses temas estando em alta, é preciso compreender a base por trás das tendências do mercado. A aplicação prática de IA precisa passar pelo conhecimento prévio de fundamentos como integração, APIs, aplicação e análise de dados, middleware e infraestrutura. A atuação da Tecnologia da Informação precisa ser trabalhada de maneira contínua e isso só se dá com a união dos conhecimentos de base com as tendências de mercado

As Soft Skills, por outro lado, acompanham a ideia de inserção do dia a dia nos projetos. A vivência, aliada ao desenvolvimento dessas habilidades, auxilia a determinar o grau de importância das tarefas e demonstrar resiliência e capacidades comunicativas em grupo. Para além da atuação prática, o candidato precisa ter inteligência emocional e aptidão para se adaptar e ser flexível diante de mudanças na rotina, sem abrir mão da organização e senso de prioridade.

Os novos profissionais de TI

A nova geração está extremamente capacitada do ponto de vista técnico. O fácil e rápido acesso a informações e cursos torna os novos profissionais de TI candidatos com Hard Skills robustas. Contudo, essa agilidade, ao mesmo tempo que possibilita conhecimento teórico, impacta diretamente as Soft Skills.

O público mais jovem, devido à reestruturação social e uma dinâmica acelerada de mudanças das últimas décadas, tem sofrido transtornos, como a ansiedade. Apesar deste ser um sintoma natural do aumento da inserção de tecnologia no cotidiano, ele exerce influência na atuação dos profissionais. Prova disso é que, em 2024, foram registrados mais de 440 mil afastamentos em razão de transtornos mentais e comportamentais, recorde da série histórica, como aponta o Ministério da Previdência Social.

Para os profissionais de TI que chegam ao mercado de trabalho, a maior Soft Skill para se apresentar é a resiliência. Já do ponto de vista das Hard Skills, essa adaptação a constantes mudanças traz consigo uma geração que está muito mais aberta a novas tecnologias. A flexibilidade de entender novos processos e executá-los de forma rápida é vista no mercado como uma habilidade de extrema importância, principalmente em setores que estão em transformação.

Panorama para o futuro

A criação de uma nova geração de profissionais de TI capacitados ainda depende, principalmente, da integração entre instituições de ensino e programas de aprendizado prático geridos pelas empresas do setor. No entanto, alternativas que não necessitam de investimentos financeiros muito onerosos, como organizar eventos, palestras, workshops ou até encontros virtuais de debates ou apresentação de casos reais, são ferramentas valiosas para a compreensão do core business do segmento.

Já as trilhas de desenvolvimento representam uma oportunidade de crescimento de carreira, disseminando conhecimento para outras áreas sobre os possíveis caminhos de especialização. Iniciativas como essa auxiliam o profissional a escolher um setor de atuação e, inclusive, diversificar seu portfólio.

O futuro do profissional de TI depende da integração entre o conhecimento prático e teórico, não apenas generalizando as áreas específicas, mas também disponibilizando uma gama de opções para que a expertise seja difundida entre os diferentes níveis de carreira.

Walter Rodrigues, COO da CXP Brasil, consultoria em tecnologia da informação.

Leia Mais

Outras Notícias