O Brasil tem um grande potencial no mercado de créditos de carbono e já é reconhecido como um dos principais protagonistas na agenda climática global. No entanto, as recentes tarifas impostas pelos Estados Unidos podem frear esse avanço e trazer impactos econômicos significativos para o país nos próximos anos.
As decisões anunciadas pelo presidente norte-americano Donald Trump geraram mudanças rápidas nas cadeias de produção globais. Muitos países já estão reconsiderando suas relações comerciais, especialmente com a China, e reestruturando suas cadeias produtivas. O desafio é incerto, pois as empresas buscam reduzir custos enquanto tentam manter sua competitividade. E é justamente neste ponto de convergência, em que o foco está na eficiência, que as empresas podem deixar de lado as práticas sustentáveis.
Esse movimento, infelizmente, está associado a uma visão de que a sustentabilidade é um “luxo” em tempos de crise econômica. Um exemplo claro desse efeito é a situação do Canadá, que recentemente abandonou seu plano de imposto sobre carbono. As tarifas dos EUA tornaram os produtos importados mais caros, e o Canadá preferiu não adicionar um custo extra sobre esses produtos, optando por manter a competitividade. Assim, a sustentabilidade, que antes era vista como prioridade, agora ocupa um segundo plano.
O aumento das tarifas também torna difícil convencer as empresas a investir mais em práticas sustentáveis. A iminência de enfrentar aumentos nos custos sem poder repassá-los diretamente ao consumidor dificulta a inclusão de ações como a compra de créditos de carbono no custo final. O caso do Reino Unido, que desistiu de novas metas para carros elétricos devido ao aumento no custo das baterias de lítio, também ilustra esse desafio.
Apesar desses desafios globais, o Brasil possui uma vantagem estratégica considerável. O país, com sua imensa biodiversidade, incluindo a Amazônia e os rios, tem um potencial natural que o coloca em uma posição única para liderar a transição para uma economia mais verde. O país pode se destacar no mercado global de créditos de carbono e tem a capacidade de suprir até 50% da demanda, especialmente se o governo tomar medidas para fortalecer o mercado voluntário de créditos, que ainda está subutilizado.
Embora os Estados Unidos sejam um dos principais compradores de créditos de carbono do Brasil, países europeus, como os da União Europeia, e nações do Oriente Médio, como os Emirados Árabes Unidos, Qatar e Arábia Saudita, também têm mostrado interesse significativo na compra de créditos brasileiros. Esses países não só compram créditos relacionados a florestas, mas também créditos de transição energética, como os de metano e energia renovável.
Por outro lado, a China, embora participe das discussões globais sobre mudanças climáticas, não é um grande comprador de créditos de carbono brasileiros.
Esse mercado funciona no país por meio de parcerias entre proprietários de terras e empresas de créditos de carbono. Um exemplo típico é o projeto de desmatamento evitado na Amazônia, onde as árvores são preservadas e, assim, geram créditos de carbono. Esses projetos são submetidos a certificadoras globais, que validam o cumprimento das metas de preservação. Após a certificação, os créditos podem ser vendidos para empresas globalmente.
Pedro Plastino, executivo de Negócios Climáticos.