Durante um processo de coaching em grupo para mulheres executivas, uma delas confessou que gostaria de ser expatriada para trabalhar na matriz da companhia, na Itália. Falei que aquela era uma excelente projeção para a carreira dela e perguntei: “E quem na empresa sabe disso?”. Ela ficou me olhando em silêncio. Se ninguém mais sabe dos seus planos de carreira, como você chegará onde deseja? Você quer ser expatriada, ganhar uma promoção, assumir um cargo de liderança? Vá conversar com quem já passou por isso. Pergunte os caminhos. Comunique sua liderança e, por favor, inclua no seu plano de desenvolvimento.
Muitas passam anos na mesma posição, acumulando responsabilidades, sem nunca solicitar um aumento ou uma promoção, pois acreditam que seu esforço será notado e recompensado naturalmente. A dificuldade de negociar salários e benefícios é um obstáculo para a ascensão profissional das mulheres. Mulheres, vocês precisam assumir o controle de suas próprias carreiras. Se você não falar o que quer, outra pessoa vai falar e ficar com os benefícios. Afinal, no ambiente corporativo, quem não pede, não recebe.
Uma das diferenças mais marcantes entre homens e mulheres no ambiente profissional está na forma como lidam com promoções e oportunidades. Dados mostram que homens se candidatam a vagas mesmo cumprindo apenas 60% dos requisitos, enquanto mulheres só se consideram aptas quando atendem a quase 100% das exigências.
Muitas ainda acreditam que o crescimento profissional virá apenas por meio do reconhecimento natural pelo bom desempenho. Como se bastasse ser competente para crescer na carreira – afinal, o discurso da meritocracia segue muito forte. Se isso fosse verdade, por que mulheres altamente qualificadas continuam enfrentando tantas barreiras para alcançar cargos de liderança? Essas diferenças de mentalidade e comportamento não são inatas, mas fruto da criação das pessoas – o que se reflete em estereótipos e vieses inconscientes. Meninos aprendem desde cedo a competir e não mostrar medo; já as meninas, costumam ser tratadas como frágeis e indefesas.
Isso impacta a forma como as mulheres se expressam e se comunicam. Hábitos como pedir desculpas excessivamente, inferiorizar as próprias opiniões ou usar um tom de voz inseguro, podem influenciar a forma como elas são percebidas no ambiente corporativo. Em outro momento, durante um treinamento, fiz uma participante perceber que sempre iniciava suas falas com “desculpa, mas…”. Ela fazia isso no piloto automático, sem imaginar o efeito desse hábito na percepção da equipe em relação à sua autoridade.
Isso me levou a questionar: por que nós mulheres temos este comportamento? Isso acontece porque muitas vezes não nos sentimos confortáveis. Me lembrei da época que trabalhava no setor metroferroviário, quando chegava em uma reunião repleta de homens, a primeira coisa que o meu cérebro me falava era: você está no lugar errado. Muitas vezes eu não era escutada quando dava uma ideia ou quando questionava algum ponto.
Comece a prestar atenção nas reuniões. Você percebe que as mulheres são mais questionadas do que os homens costumam ser. Elas costumam ouvir perguntas recorrentes: “Você tem certeza? Como você chegou a essa informação?”. Afinal, como são raras as mulheres em cargos de média e alta liderança, a tendência é achar que elas não são aptas e desconfiar do que estão dizendo.
Naquele mesmo treinamento, passei alguns exercícios para a profissional reformular a própria comunicação, sem pedidos de desculpas ou hesitações. Com isso, ela notou como sua postura se tornou muito mais firme e respeitada. Foi um choque perceber o quanto sua forma de falar estava, inconscientemente, minando sua própria credibilidade. O receio de parecer arrogante ou estar se autopromovendo impede muitas profissionais de exigirem o que é justo. Se os homens não hesitam em negociar, por que nós mulheres deveríamos?
Sabemos que muito dessa dificuldade em negociar e as diferenças de comportamento entre homens e mulheres têm raízes culturais. Mas as empresas também exercem um papel fundamental para acelerar a igualdade de oportunidades. Nesse sentido, as metas de diversidade são um dos poucos mecanismos a que temos acesso para impulsionar essa mudança nas empresas. Sem políticas afirmativas, a equidade de gênero pode levar mais de cem anos para chegar, o que é tempo demais. Segundo dados do Global Gender Gap Index, precisamos de pelo menos 134 anos para alcançar a plena paridade entre os gêneros.
Mesmo assim, muitas mulheres resistem a essas iniciativas por medo de ter a competência questionada. Esse receio é compreensível, mas é preciso lembrar: carreira quer dizer caminho. Lembre-se que você é a protagonista da sua carreira. Seja mais explícita, fale sobre onde você quer chegar. Por tudo isso, vale aproveitarmos o intenso calendário de eventos e campanhas do Mês da Mulher para insistir em um tema pouco falado: a importância de uma comunicação confiante para que as mulheres assumam o controle das próprias carreiras.
Cris Kerr, CEO e fundadora da CKZ Diversidade, consultoria especializada em Inclusão & Diversidade, professora da Fundação Dom Cabral, mestre em Sustentabilidade e idealizadora do Super Fórum Diversidade & Inclusão. Além de autora de dois livros “Viés inconsciente” e “Cultura organizacional livre de assédio”