quarta-feira, março 12, 2025

São Paulo, mesmo com o maior PIB da América Latina, ainda patina nas questões climáticas

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A cidade de São Paulo, um dos maiores centros urbanos do mundo, enfrenta sérios desafios decorrentes das mudanças climáticas, especialmente no que diz respeito às fortes chuvas que têm se tornado cada vez mais frequentes e intensas. A infraestrutura da cidade, projetada para um clima mais estável, mostra-se insuficiente para lidar com os novos padrões climáticos, resultando em inundações, alagamentos, deslizamentos de terra e uma série de transtornos para a população.

Para se ter uma ideia da gravidade do problema, somente no início de fevereiro, segundo o Centro de Gerenciamento de Emergências Climáticas (CGE) da Prefeitura de São Paulo, em dois dias, choveu 65% dos 246 milímetros esperados para o mês inteiro na capital. Diversas regiões ainda seguem extremamente afetadas por conta das intensas chuvas, como o Jardim Pantanal, Parelheiros, Capela do Socorro e Mooca. Até mesmo a Marginal Tietê ficou alagada, o que provocou um enorme congestionamento.

A catástrofe que atingiu o Rio Grande do Sul em 2024, marcada por chuvas torrenciais, inundações devastadoras e deslizamentos de terra, serve como um alerta para outras regiões do Brasil, incluindo a cidade de São Paulo. A tragédia no Sul expôs a vulnerabilidade das áreas urbanas frente a eventos climáticos extremos, que tendem a se tornar mais frequentes.

O sistema de drenagem de São Paulo foi projetado há décadas, quando os padrões climáticos eram diferentes e a cidade era menos urbanizada. Com o aumento da impermeabilização do solo devido à expansão urbana, a capacidade de infiltração da água diminuiu drasticamente. Os sistemas de drenagem existentes não conseguem dar conta do volume de água gerado pelas chuvas intensas, resultando em alagamentos frequentes em diversas áreas da cidade.

A expansão urbana desordenada levou à ocupação de áreas de risco, como encostas de morros e margens de rios e córregos. Essas áreas são particularmente vulneráveis a deslizamentos de terra e inundações durante períodos de chuvas intensas. A falta de planejamento e fiscalização permitiu que milhares de famílias se estabelecessem em locais inadequados, aumentando o risco de tragédias.

A redução das áreas verdes na cidade, substituídas por construções e asfalto, diminui a capacidade natural de absorção da água da chuva. As áreas verdes funcionam como esponjas, ajudando a infiltrar a água no solo e reduzindo o volume de escoamento superficial. A falta dessas áreas contribui para o aumento dos alagamentos e inundações.

Para enfrentar o problema das inundações, São Paulo tem investido na modernização do sistema de drenagem urbana, com a construção de piscinões, canalização de córregos e implantação de sistemas de retenção e infiltração de água. Essas medidas visam aumentar a capacidade de escoamento e reduzir o risco de alagamentos.

 A Prefeitura de São Paulo lançou o PlanClima SP, um plano de ação climática que estabelece metas e estratégias para reduzir as emissões de gases de efeito estufa e adaptar a cidade aos impactos das mudanças climáticas. O plano inclui medidas como a ampliação de áreas verdes, a promoção de transportes sustentáveis e a implementação de sistemas de alerta precoce para eventos climáticos extremos.

 A cidade de São Paulo não está preparada para enfrentar os impactos das mudanças climáticas, especialmente no que diz respeito às fortes chuvas. A infraestrutura existente é insuficiente e inadequada, e a urbanização desordenada aumentou a vulnerabilidade da cidade e a gestão e os investimentos têm sido deficientes. Para mudar esse cenário, é necessário um esforço conjunto e coordenado, com investimentos em infraestrutura, planejamento urbano integrado e ações preventivas. A resiliência climática deve ser uma prioridade, garantindo que a cidade esteja preparada para enfrentar os desafios impostos pelo o que só agora estamos entendendo como “novo normal” e proteger a população dos impactos das fortes chuvas.

Gustavo Araújo, engenheiro civil com MBA em Gerenciamento de Projetos e  pós-graduação em Gerenciamentos de Empreendimentos da Construção Civil e Administração de Empresas. Diretor Técnico na Sin! Incorporadora.

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