quarta-feira, março 12, 2025

A importância do ESG na Era Trump

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A ascensão de Donald Trump ao poder nos Estados Unidos trouxe diversas mudanças na abordagem governamental em relação a questões ambientais, sociais e de governança (ESG). Desde o início de sua administração, houve um claro enfraquecimento das regulamentações ambientais, uma postura menos rigorosa quanto a questões sociais e uma ênfase na desregulamentação do mercado.

No entanto, mesmo diante desse cenário político adverso, o conceito de ESG tem mantido sua relevância e pode continuar a crescer, impulsionado pelo mercado financeiro, investidores institucionais e consumidores.

A administração Trump promoveu uma série de medidas que enfraquecem regulamentações ESG, principalmente no âmbito ambiental. Entre as principais ações, destacam-se:

a) A saída dos Estados Unidos do Acordo de Paris, enfraquecendo compromissos climáticos globais;

b) O relaxamento de normas da Agência de Proteção Ambiental (EPA), reduzindo restrições sobre emissões industriais e exploração de recursos naturais;

c) A revogação de regras que exigiam transparência de empresas em relação a impactos socioambientais.

Essas ações sinalizam um recuo na agenda ESG sob o ponto de vista governamental. No entanto, paradoxalmente, esse movimento pode gerar uma resposta mais forte do setor privado e dos mercados internacionais, que tendem a reforçar suas próprias diretrizes ESG.

A União Europeia (UE) tem sido uma das regiões mais ativas na criação de regras para garantir que empresas operem de forma sustentável e responsável. Um dos principais marcos regulatórios é a Diretiva de Relatórios de Sustentabilidade Corporativa (CSRD – Corporate Sustainability Reporting Directive), que obriga empresas a divulgar informações detalhadas sobre suas práticas ESG.

Além disso, há outras normas importantes:

a) Taxonomia da UE – Define critérios para classificar atividades econômicas sustentáveis;

b) Regulamento de Divulgação de Finanças Sustentáveis (SFDR – Sustainable Finance Disclosure Regulation) – Obriga investidores e instituições financeiras a informar o impacto ESG de seus investimentos;

c) Lei de Diligência Devida em Sustentabilidade Empresarial – Exige que empresas que operam na UE realizem auditorias para garantir que sua cadeia de suprimentos esteja em conformidade com normas ambientais e de direitos humanos.

Apesar do desmonte regulatório promovido pelo governo federal, empresas e investidores perceberam que ignorar ESG poderia gerar riscos financeiros e reputacionais. Grandes fundos de investimentos passaram a exigir maior transparência ESG, considerando que fatores ambientais, sociais e de governança impactam diretamente a rentabilidade no longo prazo.

Além dos investidores, os próprios consumidores desempenham um papel crucial na manutenção da relevância do ESG durante a era Trump. As novas gerações também demonstram sua preferência pelo ESG no ambiente de trabalho. Os millennials e a Geração Z escolhem empregos não apenas pelo salário, mas pelo alinhamento da empresa com seus valores.

As novas gerações fazem escolhas de consumo baseadas em valores e impactos socioambientais. Segundo um estudo da Bain & Company, empresa de consultoria de gestão, mais de 70% dos millennials estão dispostos a pagar mais por produtos sustentáveis. A Geração Z segue a mesma tendência, sendo ainda mais exigente com marcas que demonstram compromisso real com ESG. Ou seja, preferem consumir de marcas alinhadas com princípios sustentáveis e socialmente responsáveis. Esse fator pode incentivar as empresas a manterem estratégias ESG, independentemente da postura do governo.

Desde o início do governo Trump, houve uma série de ações que visam desmantelar ou reduzir a eficácia de programas de diversidade e inclusão no setor público. O governo Trump adotou uma postura crítica em relação a várias iniciativas voltadas para a promoção de diversidade racial, étnica e de gênero no âmbito federal, muitas das quais haviam sido fortalecidas nas administrações anteriores.

O objetivo de muitas dessas ações foi, conforme defendido por seus apoiadores, eliminar o que chamavam de “preferência racial” ou “discriminação reversa”. No entanto, essas ações geram controvérsias significativas, com defensores da diversidade argumentando que o governo está retrocedendo nos avanços conquistados ao longo dos anos.

O desmonte dos programas de diversidade e inclusão enfrenta resistência dentro do próprio governo federal. Diversas agências, como o Departamento de Defesa, continuaram a realizar treinamentos sobre diversidade de forma independente, e alguns líderes públicos protestaram contra as ordens de Trump, defendendo a importância de uma força de trabalho diversificada e inclusiva para o governo e as agências federais.

Além disso, algumas organizações da sociedade civil e defensores dos direitos humanos contestaram judicialmente várias dessas ações, argumentando que violavam direitos constitucionais e leis que promovem a igualdade de oportunidades. Entretanto, com o apoio de figuras políticas conservadoras, as mudanças implementadas por Trump tiveram um impacto significativo na redução de recursos e na adoção de políticas mais inclusivas no setor público.

Mesmo com um governo que busca enfraquecer os programas de ESG, o conceito permanece relevante, impulsionado por investidores, consumidores e regulamentações internacionais.

A era Trump demonstra que, embora decisões governamentais possam afetar a velocidade da adoção ESG, o mercado global e a sociedade continuam a exigir transparência, sustentabilidade e responsabilidade social. Empresas que ignoram essa tendência podem enfrentar riscos reputacionais e financeiros, enquanto aquelas que mantiverem um compromisso ESG podem se fortalecer no cenário global.

Patricia Punder, advogada e compliance officer com experiência internacional. Professora de Compliance no pós-MBA da USFSCAR e LEC – Legal Ethics and Compliance (SP). Uma das autoras do “Manual de Compliance”, lançado pela LEC em 2019 e Compliance – além do Manual 2020.

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