A última edição do estudo International Business Report (IBR) apresenta um aumento recorde de 80% nas intenções de investimento das companhias de médio porte brasileiras em ações voltadas para ESG, o maior desde o começo do levantamento, em janeiro de 2024. Segundo o relatório trimestral conduzido pela Grant Thornton, uma das maiores empresas de consultoria e auditoria do mundo, e realizado com 4 mil empresários de 31 países, o dado representa um crescimento de 2 p.p. em relação ao último período, acima da média global, 60%, e da América Latina, 62%.
Segundo a líder de ESG da Grant Thornton Brasil, Glória Lucena, o número demonstra a relevância do tema globalmente, dadas as novas exigências de divulgação de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade. “Estamos acompanhando as constantes publicações da CVM e o avanço estratégico para ampliar a visibilidade das empresas brasileiras no mercado de capitais, com a promoção do aumento de transparência e governança em relação à pauta de sustentabilidade. O Brasil foi pioneiro na adoção das normas IFRS S1 e S2, emitidas pelo International Sustainability Standards Board, sobre como empresas de capital aberto devem divulgar informações financeiras sobre sustentabilidade e isso pode nos colocar como referência para outras jurisdições”, explica a especialista.
Principais mudanças e os impactos para as empresas:
Normas IFRS S1 e S2: Normas internacionais, emitidas pelo International Sustainability Standards Board (ISSB) em 26 de junho de 2023, que estabelecem padrões de divulgação de informações sobre sustentabilidade. IFRS S1 aborda a divulgação de temas financeiramente materiais relacionados à sustentabilidade, envolvendo estratégia, governança, gestão de risco e oportunidades, metas e métricas, enquanto a norma de IFRS S2 regula a divulgação de informações sobre os riscos e oportunidades climáticas de uma empresa.
Resolução CVM n° 193: dispõe sobre a elaboração e divulgação do relatório de informações financeiras relacionadas à sustentabilidade, com base no padrão internacional emitido pelo International Sustainability Standards Board – ISSB.
Resolução CVM nº 217: Aprova o Pronunciamento Técnico CBPS nº 01 – Requisitos Gerais para Divulgação de Informações Financeiras relacionadas à Sustentabilidade, emitido pelo Comitê Brasileiro de Pronunciamentos de Sustentabilidade – CBPS, em linha com a Norma Internacional de Sustentabilidade – IFRS S1
Resolução CVM nº 218: Aprova o Pronunciamento Técnico CBPS nº 02 – Divulgações Relacionadas ao Clima, emitido pelo Comitê Brasileiro de Pronunciamentos de Sustentabilidade – CBPS, em linha com a Norma Internacional de Sustentabilidade – IFRS S2.
Resolução CVM nº 219: altera o art. 5 da Resolução CVM 193 para definir novos prazos de entrega das informações financeiras relacionadas à sustentabilidade nos exercícios sociais de adoção voluntária.
Resolução CVM 223: A partir de janeiro de 2025, as empresas brasileiras de capital aberto passam a ser obrigadas a seguir a Orientação Técnica OCPC 10, detalha como as empresas devem reconhecer, mensurar, apresentar e divulgar créditos de carbono em seus relatórios financeiros, garantindo maior transparência e comparabilidade das informações sobre o impacto ambiental das empresas.
Resolução CFC nº 1.710, de 25 de outubro de 2023: tratando da adoção das Normas Brasileiras de preparação e asseguração de Relatórios de Sustentabilidade convergidas a padrões internacionais IFRS S1 e IFRS S2. A Resolução estabelece que, a partir do ano-calendário 2026, os padrões dispostos no documento serão obrigatórios. “Tal determinação valerá sempre que a entidade divulgar Relatório de Informações de Sustentabilidade. Ao publicar essa Resolução, o Conselho Federal de Contabilidade promove o alinhamento com as organizações internacionais de Contabilidade e pautas globais de sustentabilidade”, comenta a executiva. Em linha com a CVM, a resolução também faculta a adoção voluntária antecipada das normas IFRS S1 e IFRS S2, para publicação de relatórios referentes aos exercícios 2024 e 2025.
Nesse cenário, o principal desafio para as empresas está em integrar processos. Os requisitos de reporte das normas IFRS S1 e S2 exigem uma gestão integrada de informações, que envolvem diferentes expertises, departamentos e comitês, e incentivam que a pauta seja vista de forma multidisciplinar. Comunicar de maneira eficaz as ações e resultados, esclarecendo as correlações entre as informações de sustentabilidade materiais e as demonstrações financeiras, é fundamental para demonstrar o compromisso com práticas de menor impacto socioambiental e construir uma relação maior de confiança com os públicos de interesse.
Atender às novas exigências tem demandado grande esforço das empresas. “Há bastante trabalho a ser feito para que as companhias de médio porte consigam se estruturar para os novos requisitos dos normativos, tanto em implementação de práticas, adequação de processos e formalização do ambiente de controle. Um grande desafio é mapear riscos de sustentabilidade e de clima, além de entender os efeitos financeiros destes riscos no negócio. Por outro lado, essa adequação representa também uma excelente oportunidade para ampliar a vantagem competitiva internacional”, finaliza Glória.