sexta-feira, março 21, 2025

Lideranças precisam ser estratégicas para conquistar avanços definitivos

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O custo para lidar com os impactos das mudanças climáticas cresce exponencialmente, exigindo respostas urgentes e eficazes. Para enfrentar esse cenário, é indispensável criar modelos que gerem capital de forma sustentável, alimentando um ciclo virtuoso de transformação. Não basta adotar soluções paliativas; é necessário repensar modelos econômicos e operacionais que mitiguem impactos e preparem sociedades e negócios para as mudanças inevitáveis.

O setor financeiro nunca teve uma responsabilidade tão grande. Além de gerenciar os riscos de portfólios, é fundamental garantir financiamentos direcionados a setores críticos. Isso não se trata apenas de sobrevivência, mas de liderar a transição para um futuro mais sustentável. Essa liderança exige decisões estratégicas que integrem inovação, investimento e impacto social em uma escala sem precedentes.

Na COP29, realizada em Baku, ficou evidente a disparidade entre os recursos destinados à mitigação climática e o custo projetado das adaptações necessárias. Com um PIB global de cerca de 100 trilhões de dólares, investir apenas 300 bilhões de dólares por ano até 2035 para combater uma crise que pode comprometer até 18% da economia mundial em 2040 reflete um descompasso preocupante. A transição para uma economia de baixo carbono, cujo custo é estimado entre 250 e 300 trilhões de dólares até 2050, requer planejamento rigoroso e colaboração entre governos e o setor privado.

Os números revelam um paradoxo. Apesar de parecerem significativos, os investimentos atuais em soluções climáticas são insuficientes frente às demandas reais. Isso aponta um viés de alocação que privilegia paliativos em vez de transformações sistêmicas. É como focar na instalação de catalisadores em automóveis sem abordar a necessidade de reinventar motores e combustíveis.

Setores de alto impacto, como energia, mineração e agroindústria, emergem como prioridades. A combinação de recursos naturais abundantes e tecnologias emergentes nesses setores pode gerar retornos sociais e ambientais em escala. No entanto, a transição requer superar a desarticulação entre políticas públicas, mercado financeiro e iniciativas empresariais.

Nesse contexto, o papel de articuladores torna-se fundamental. Integramos análises setoriais, métricas ESG, tecnologia e estratégias para desenvolver soluções alinhadas às demandas globais e locais. Quando combinamos esses fatores com inovação e governança, os recursos naturais podem se transformar em uma poderosa alavanca para a descarbonização.

A COP na Amazônia

A COP30, que será realizada em Belém (PR), oferece uma oportunidade única para reposicionar o país como líder global em sustentabilidade. Para isso, o debate precisa ir além do financiamento de transições e se concentrar em uma visão de transformação. O foco deve estar no longo prazo, estruturando economias resilientes e inclusivas, em vez de limitar-se a soluções pontuais para adaptações.

Com compromisso contínuo, inovação tecnológica e articulação estratégica, o Brasil tem o potencial de inspirar soluções globais enquanto enfrenta desafios locais. Essa abordagem pode redefinir a sustentabilidade e a prosperidade para as próximas gerações.

Ricardo Assumpção, sócio-líder de Sustentabilidade e ESG para a América Latina e diretor de Sustentabilidade da EY.

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