domingo, fevereiro 23, 2025

Estudo Stato Intoo/Mackenzie revela que 77,3% dos entrevistados veem colaboradores mais velhos como confiáveis, mas 44% apontam resistência à mudança no trabalho

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Uma pesquisa recente da Stato Intoo, unidade de gestão de carreira da Gi Group Holding, multinacional italiana do setor de recursos humanos, em parceria com a Universidade Presbiteriana Mackenzie, revelou que o etarismo, ou as atitudes etaristas, que são formadas por estereótipos, preconceitos e discriminação relacionados à idade das pessoas, persistem como um obstáculo significativo para a promoção da diversidade etária nas empresas brasileiras. De acordo com o estudo, profissionais com mais de 50 anos sofrem com uma série de estereótipos, alguns bastantes negativos, que dificultam suas chances de recolocação profissional, promoções ou estabilidade nas companhias.

De acordo com a pesquisa, 70% dos entrevistados – pessoas do gênero masculino, com mais de 40 anos, ensino superior completo, que ocupam cargos de gerência em organizações do setor de serviços na iniciativa privada – concordam que trabalhadores mais velhos recebem menos oportunidades de promoção e, frequentemente, são pressionados a se aposentar quando ocupam cargos de gerência a fim de que abram espaço para pessoas mais jovens. Apesar do crescente envelhecimento da população, com 15,6% de brasileiros já acima dos 60 anos, as empresas ainda relutam em integrar esses profissionais.

“A visão de que profissionais mais velhos têm dificuldade de adaptação às novas tecnologias limita o aproveitamento da experiência que eles poderiam compartilhar com a equipe”, comenta Candice Fernandes, diretora da Stato Intoo e membro do pilar sênior do comitê de diversidade da Gi Group Holding. “É necessária uma mudança cultural nas organizações, em que os gestores valorizem o profissional sênior como um ativo, por sua vivência e também por sua capacidade de motivar e ensinar os mais jovens.”

Os estereótipos positivos e negativos contra os trabalhadores mais velhos

Entre as atitudes etaristas consideradas mais positivas ou menos negativas, destacam-se os estereótipos do “bom velhinho”, que retratam profissionais mais velhos como pessoas boas, dóceis e plenamente confiáveis. Os resultados da pesquisa revelam que a maioria dos entrevistados tem uma visão positiva dos trabalhadores mais velhos, considerando-os amigáveis (80,7%), confiáveis (77,3%), generosos (75,8%) e afetuosos (74,4%). Além disso, para 50,6% dos respondentes, a confiabilidade é a característica que mais se destaca em profissionais de mais idade.

As características negativas atribuídas aos trabalhadores mais velhos incluem a baixa especialização, citada por 34,2% dos entrevistados. Além disso, quase metade (44%) concorda que esses profissionais são resistentes a mudanças, enquanto 24% acreditam que eles não são capazes de trazer ideias inovadoras. Outros dados revelam que 77% dos entrevistados veem pessoas mais velhas no ambiente corporativo como resistentes à flexibilidade e 34% como acomodados. Esses resultados indicam que uma parcela significativa dos entrevistados percebe os trabalhadores mais velhos como menos adaptáveis e dinâmicos, características altamente valorizadas no mercado de trabalho atual.

“O profissional mais experiente é visto como alguém apegado a suas convicções e que não tem mais nada a aprender ou sequer vontade de absorver novos conteúdos”, explica Candice. “Mas, ao mesmo tempo, eles são vistos como pessoas pacientes, boas para se conversar e que têm muito a ensinar aos mais jovens. É muito injusto que pessoas com essas características sejam preteridas para promoções ou tenham dificuldades para se recolocar por conta de estereótipos que, na prática, não se provam verdadeiros”.

Etarismo também afeta os mais jovens

A executiva reforça que existem dois casos distintos no etarismo: os profissionais 50+ e os 25-. Ela explica que o preconceito etário não afeta apenas os mais velhos; os mais jovens também enfrentam estigmas. “Profissionais acima dos 50 anos são frequentemente vistos como mais lentos e resistentes ao aprendizado de novas tecnologias e à adaptação em geral. Já os profissionais com menos de 25 anos carregam a imagem de serem imaturos, inexperientes, impacientes e inconstantes. Ambos enfrentam estigmas e preconceitos que podem impedir seu desenvolvimento profissional”, explica.

Para enfrentar o etarismo e promover um ambiente verdadeiramente inclusivo, é fundamental que as organizações incentivem líderes que valorizem tanto os profissionais 50+ quanto os 25- e que sejam capazes de enxergar o valor único que cada geração oferece. Para isso, é necessário não apenas integrar os mais experientes, mostrando como sua vivência e paciência podem fortalecer as equipes, mas também acolher os profissionais mais jovens, liberando sua energia, inovação e disposição para aprender. A solução para o etarismo passa pela criação de espaços onde diferentes gerações possam trocar conhecimentos e experiências, construindo juntos um ambiente de trabalho mais diverso e equilibrado, onde a troca intergeracional se torne um diferencial que impulsione o crescimento de todos.

Metodologia da pesquisa

A pesquisa foi coordenada pela profa. Dra. Darcy M. M. Hanashiro do Programa de Pós-Graduação em Administração da Universidade presbiteriana Mackenzie. A metodologia foi estruturada em duas fases: uma etapa qualitativa inicial e uma subsequente análise quantitativa. A pesquisa começou com uma fase qualitativa, realizando 31 entrevistas em profundidade com profissionais variados em idade, profissão, setor e área funcional. O objetivo foi levantar insights que subsidiassem a criação de itens para o desenvolvimento de escalas de medição (questionários), algumas inéditas e outras adaptadas da literatura. Essas escalas foram aplicadas para avaliar trabalhadores de três faixas etárias: jovens (18-29 anos), trabalhadores de meia idade (30-49 anos) e profissionais mais velhos (50 anos ou mais). Na fase quantitativa, as escalas foram validadas e submetidas a análises descritivas e inferenciais, incluindo um modelo de proteção estrutural, com uma amostra final de 269 entrevistados. A maioria dos participantes é composta por homens (61,3%) brancos (85,4%) com mais de 50 anos (64,7%), pós-graduados (73,8%) e gestores (66,9%) do setor privado (94,4%).

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