A importância da discussão e ações voltadas para a sustentabilidade nas cadeiras de alto escalão das empresas é indiscutível e vai além do altruísmo. Afinal, investidores, consumidores e talentos estão de olho e cada vez mais exigem isso das empresas. E, claro, a economia de energia, incluindo água e eletricidade, se tornou primordial, tanto sob a perspectiva da disponibilidade destes recursos quanto de custos.
A chave para a melhoria da sustentabilidade está na Contabilidade de Impacto, que pode tornar as empresas mais responsáveis ao aumentar a resiliência ao risco, aprimorando a reputação, o recrutamento e a retenção.
A necessidade de contabilizar de forma diferente
A questão é que o cenário atual tornou ainda mais desafiador atingir as metas de sustentabilidade, principalmente com a ascensão da IA e seu consumo voraz de energia e água em data centers. Outro desafio notável é relacionado aos padrões fragmentados para relatórios ambientais. A infinidade de opções é confusa e corre o risco de as empresas gastarem mais tempo e recursos em relatórios do que em impulsionar mudanças ou entregar oportunidades de negócios.
Os custos de energia do data center são altos, estão aumentando e chegarão a níveis sem precedentes com o processamento de IA. Inclusive, de acordo com o Fórum Econômico Mundial, o poder de computação necessário para sustentar a IA dobra aproximadamente a cada 100 dias. Isso também está no topo do uso estimado de eletricidade de data centers de 1% a 2% globalmente, com o armazenamento de dados consumindo de 20% a 25% disso. Enquanto isso, o consumo de eletricidade dos data centers será o dobro entre 2022 e 2026, de acordo com a Agência Internacional de Energia (AIE).
No entanto, os impactos da atividade empresarial transcendem os balanços financeiros, e é cada vez mais importante contabilizar isso. Por exemplo, os custos mais amplos acumulados ao fazer negócios, especialmente em equipamentos, conforme são adquiridos, fabricados, usados e descartados. A contabilidade de impacto busca abordar isso, colocando um número nos aspectos da atividade empresarial que vão além do lucro e da perda e contabilizam o impacto ambiental e social de forma mais ampla.
Relatórios fragmentados
Outro desafio notável é relacionado aos padrões fragmentados para relatórios ambientais. A infinidade de opções é confusa e corre o risco de as empresas gastarem mais tempo e recursos em relatórios do que em impulsionar mudanças ou entregar oportunidades de negócios O cenário de relatórios ESG é uniforme em apenas um sentido: agora a maioria das grandes empresas o faz. De acordo com um relatório da KPMG, 96% das 250 empresas globais relatam métricas de sustentabilidade ou ESG.
Mas sem um conjunto padrão de métricas de relatórios, o cenário é confuso. Existem várias estruturas voltadas para empresas e investidores, incluindo GRI, TCFD, IIRC, NFRD, entre muitas outras siglas reconhecidas e amplamente usadas.
Embora não sejam obrigatórias, estruturas como a oferecida pelos padrões da Aliança de Equilíbrio de Valor (VBA) – que foram desenvolvidas com a Harvard Business School – permitem que uma organização traduza impactos ambientais e sociais em dados financeiros com comparativos.
Investidores: a chave para as mudanças em ESG
Os dois aspectos que abordei têm impacto comercial real. Primeiro; enquanto a IA impulsiona um enorme crescimento no consumo de energia do data center, as mudanças se direcionam para o aumento da adoção da IA em todos os aspectos das nossas vidas, o que significa aumento do consumo de eletricidade. Segundo, a regulamentação e a contabilidade eficazes na política e prática ESG, em nível governamental e supragovernamental, ganharam ampla adoção, apesar de natureza fragmentada.
Não é só a criação de regulamentações por criar, os investidores também exigem isso. De acordo com a PwC, 73% dos investidores acreditam que o desempenho de sustentabilidade das empresas é importante para mitigar riscos.
Apesar das diversas discussões em torno disso, desconsiderar o ESG é encarar o risco de ficar para trás em um mundo onde a maioria das empresas assinou alguma forma de padrões e relatórios. E, tão importante quanto: dar o “check” em metas sustentáveis sem uma abordagem honesta à responsabilidade de uma empresa corre o risco de causar danos graves à reputação. Lembra do escândalo das emissões da Volkswagen?
Então, não se responsabilizar em termos de sustentabilidade é um risco. Os investidores não gostam de risco; eles querem estabilidade, crescimento e lucratividade de longo prazo, e a sustentabilidade aumenta tudo isso. Muitas vezes se torna difícil trazer as preocupações ESG para a agenda, especialmente com conselhos “tradicionais”, mas essa importância não pode ser negada. Os clientes e potenciais talentos também preferem empresas que agem de forma ética em relação ao meio ambiente.
É por isso que a contabilidade de impacto que relata o efeito mais amplo das atividades de uma empresa pode torná-la mais resiliente a riscos, melhorar a reputação e as vendas e melhorar o recrutamento e a retenção.
Contabilidade de impacto e o processo de transformação
Historicamente, o mercado impulsiona o crescimento econômico usando métricas baseadas em – e limitadas a – custos, renda e lucro. A contabilidade de impacto amplia o balanço para incluir custos indiretos que as empresas impõem à sociedade, mas que não aparecem nas demonstrações financeiras ou nas especificações do produto. As métricas podem incluir:
- Total de gases de efeito estufa produzidos direta e indiretamente pela atividade da empresa
- Emissões produzidas ao longo do ciclo de vida de um produto
- Exposição da empresa aos riscos impostos pelas mudanças climáticas
- Consumo de recursos naturais
- Como uma empresa lida com resíduos, reciclagem e descarte
- Investimento em tecnologia e energia renovável para reduzir o impacto ambiental.
Veja um exemplo de três estágios:
- Uma empresa que fabrica hardware para data centers pode contabilizar o material e a energia que entram na cadeia de suprimentos e na fabricação de vários componentes.
- Um modelo de contabilidade de impacto pode quantificar os custos das emissões de gases de efeito estufa, materiais, água, resíduos e uso da terra em toda a cadeia de valor, com valores monetários atribuídos a eles.
- Esta empresa pode fornecer uma análise detalhada de suas linhas de produtos, com dados sobre consumo de energia e pegada de carbono durante a fabricação e uso ao longo da vida útil, usando estruturas como a fornecida pelo VBA.
Este processo pode se tornar uma vantagem competitiva em um mercado que mede cada vez mais o efeito ambiental de todas as atividades comerciais. As empresas podem se beneficiar ao implementar a contabilidade de impacto ESG e fazer negócios com outras que o fazem. Não só porque parece bom, mas porque os impactos medidos por um parceiro são transferidos para os produtos e serviços desenvolvidos nessa parceria e podem melhorar o posicionamento em relação à concorrência.
A contabilidade de impacto deve se tornar uma forma essencial para as empresas medirem e rastrearem seu progresso ambiental. Além disso, deve criar um campo mais nivelado e aberto que permita que investidores, clientes e a talentos tomem decisões informadas sobre as empresas com as quais interagem e trabalham. Um ganha-ganha para cada empresa e, claro, para o planeta.
Paulo de Godoy, country manager da Pure Storage.