Os incêndios florestais são uma ameaça crescente em diversas partes do mundo, refletindo o impacto da crise climática e da má gestão ambiental. Los Angeles, na Califórnia, é um exemplo emblemático. Com seu clima árido, ventos Santa Ana e um histórico de urbanização em áreas florestais, a cidade sofre anualmente com incêndios que devastam comunidades, aumentam emissões de carbono e desestabilizam economias locais e globais.
Essa realidade encontra um paralelo nas queimadas criminosas que ocorreram no Brasil em 2024. Esses eventos, apesar de ocorrerem em contextos distintos, destacam a urgência de políticas internacionais eficazes e o papel estratégico do ESG no comércio e na prevenção de riscos.
Em Los Angeles, os incêndios florestais têm implicações devastadoras. Além de ceifar vidas e destruir propriedades, eles geram perdas econômicas bilionárias, com impactos no turismo, na saúde pública e na agricultura. As emissões de carbono provenientes desses incêndios contribuem significativamente para o aquecimento global, colocando os Estados Unidos em uma posição delicada nas negociações climáticas internacionais.
Adicionalmente, a crescente frequência e intensidade dos incêndios florestais na Califórnia têm efeitos comerciais globais. Por exemplo, os incêndios prejudicam cadeias de suprimentos, especialmente em setores agrícolas e tecnológicos, fundamentais para a economia americana. Produtos agrícolas como amêndoas e vinho, exportados em grande escala, sofrem quedas de produção, enquanto a logística internacional enfrenta atrasos devido a infraestrutura comprometida.
Diante do caráter global dos impactos das queimadas, políticas internacionais têm ganhado relevância. Os acordos multilaterais, como o Acordo de Paris, buscam mitigar as emissões de gases de efeito estufa, enquanto instituições como o Banco Mundial incentivam práticas sustentáveis através de financiamentos condicionados ao cumprimento de metas ambientais.
Essas políticas têm reflexos diretos no comércio internacional. Países e blocos econômicos, como a União Europeia, têm adotado critérios ambientais mais rígidos para importação de produtos. Isso inclui barreiras tarifárias para produtos de cadeias produtivas associadas ao desmatamento ou à destruição ambiental. Para regiões como a Califórnia, onde o impacto ambiental das queimadas pode prejudicar a competitividade dos produtos no mercado global, a gestão sustentável torna-se imperativa.
Como o ESG pode contribuir para a prevenção e mitigação dos danos socioambientais causados pelas queimadas? Em Los Angeles, empresas e governos devem investir em tecnologias de monitoramento ambiental e sistemas de alerta precoce, além de políticas de reflorestamento em áreas de risco. O uso de drones e inteligência artificial, por exemplo, já tem mostrado resultados promissores no combate a incêndios.
Além disso, políticas públicas e privadas podem promover o manejo sustentável de terras e florestas, reduzindo os fatores de risco. No Brasil, por exemplo, o envolvimento do setor agrícola no combate às queimadas demonstra o potencial de ações conjuntas.
Destaca-se que as empresas que adotam práticas ESG têm maior acesso a mercados internacionais. Produtos agrícolas da Califórnia e do Brasil podem ser valorizados em mercados internacionais, como a Europa, se acompanhados de certificações de sustentabilidade.
Por fim, adoção de relatórios de sustentabilidade alinhados a padrões globais, como os critérios do Task Force on Climate-Related Financial Disclosures (TCFD), fortalece a confiança de investidores e parceiros comerciais.
Outro ponto de extrema relevância é que a integração de práticas ambientais no comércio internacional é um dos caminhos mais eficazes para pressionar por mudanças. Governos podem utilizar acordos comerciais para exigir maior transparência e comprometimento ambiental de parceiros. Ademais, sanções e incentivos econômicos são ferramentas poderosas para alinhar interesses comerciais a metas ambientais globais.
Assim, as queimadas em Los Angeles e no Brasil revelam que desastres ambientais não respeitam fronteiras e têm impactos globais. Além dos danos locais, os efeitos reverberam no comércio internacional, na saúde pública e na estabilidade climática. Políticas internacionais alinhadas a práticas de ESG e Compliance Ambiental não são apenas ferramentas de prevenção, mas também estratégicas para fortalecer a competitividade econômica no cenário global.
Ao adotar práticas sustentáveis, tanto Los Angeles quanto no Brasil podem transformar desafios em oportunidades, promovendo cadeias de valor resilientes e um futuro mais equilibrado. As cinzas do presente devem servir como um lembrete para construir um amanhã mais verde e sustentável.
Larissa de Castro Coelho, advogada nos Núcleos de Ações Coletivas, Direito Ambiental e ESG da Nelson Wilians Advogados.