Considerado o quarto país do mundo a gerar mais lixo plástico, segundo dados do Banco Mundial, o Brasil reciclou pouco mais de 8% das 81 milhões de toneladas de resíduos sólidos urbanos produzidos em 2023, conforme cálculo da Abrema (Associação Brasileira de Resíduos e Meio Ambiente). E embora esses dados apontem para um cenário de melhora na gestão destes resíduos, em comparação aos anos anteriores, ainda estamos muito distantes das metas estabelecidas pela Política Nacional de Resíduos Sólidos, que, entre outras frentes, previa a erradicação de lixões até agosto de 2024 no país.
Como alternativa viável para revertermos esses índices, a economia circular, há pouco tempo considerada uma tendência, passou a ser uma necessidade e realidade praticada por muitos negócios que entenderam sua carga de responsabilidade nesse ecossistema de geração, coleta, reciclagem e reaproveitamento de resíduos. Trata-se de uma iniciativa que requer algo crucial, especialmente quando pensamos no legado sustentável que deixaremos às próximas gerações: o trabalho colaborativo entre empresas e consumidores.
É somente a partir da união de todos os elos de uma cadeia que a circularidade se torna possível – uma jornada que se inicia na matéria-prima e vai até a reintrodução dos resíduos na cadeia produtiva, passando pelo correto descarte por parte do consumidor. É quando pensamos em cada etapa produtiva, a partir de uma visão completa do seu ciclo de vida, que conseguimos entender, otimizar e evoluir a maneira como a circularidade acontece e impacta todos os meios diretos e indiretos.
Pensando nessas etapas, para que a economia circular se consolide, de fato, é preciso traçar metas práticas, a começar pelo design – ou ecodesign – das embalagens e produtos desenvolvidos. A adoção do ecodesign garante que o descarte dos produtos não se torne um problema ainda maior. Ao priorizar matérias-primas recicladas e/ou recicláveis, essa abordagem contribui para o reaproveitamento dos resíduos e a preservação dos recursos naturais.
A propósito, o processo de ecodesign envolve a análise de guias de reciclagem, a busca por materiais de menor impacto ambiental e a compreensão de todo o ciclo de vida do produto, desde a produção até o descarte, considerando fatores como a distribuição geográfica e a infraestrutura de destinação de resíduos. Soluções, como rótulos e etiquetas que promovem a integração entre o físico e o digital, são também uma escolha eficiente para a redução de desperdícios.
Para todos os efeitos, a tecnologia deve ser vista como uma grande aliada na gestão de resíduos e no movimento para a economia circular. Ela é essencial quando aplicada ao desenvolvimento de soluções cada vez mais sustentáveis, mas também, quando pensamos na integração circular de todos os envolvidos na cadeia operacional e de consumo.
Um bom exemplo disso é o Programa AD Circular, na América Latina, que ganhou uma plataforma online na qual qualquer usuário interessado em reciclar seu resíduo gerado na cadeia de rotulagem pode, de forma muito fácil, encontrar recicladores parceiros e fazer o contato direto com eles para esse tipo de iniciativa.
Aos negócios que implementam práticas de economia circular, posso dizer que os benefícios são percebidos já no curto prazo, através da redução de resíduos e dos custos para descarte, além da preservação de recursos naturais e da imagem da corporação. Somado a isso, a implementação de soluções que promovam a economia circular, por sua vez, geram novos negócios que se refletem em vendas no médio e longo prazo. Essas iniciativas, juntas, fortalecem a marca e atraem clientes e talentos.
Ao considerarmos o custo futuro, relativo à escassez de insumos e matérias-primas, a migração para uma economia circular se mostra como uma solução, que visa a preservação dos recursos e a recuperação dos ecossistemas como um todo. Não é uma tarefa fácil; há anos produzimos e pensamos de forma linear e essa mudança não será natural, requer esforço para reaprender, arriscar e inovar.
A grande vantagem de nosso tempo é que não precisamos começar do zero: temos tecnologias avançadas que nos permitem unir o físico e o digital rumo a um futuro mais limpo e sustentável. Seguimos dispostos a colaborar para essa evolução em nosso setor, certos de que cada vez mais parceiros, fornecedores, marcas, comunidade e planeta, se juntem a nós nessa jornada.
Cecília Mazza, gerente regional de sustentabilidade da Avery Dennison para a América Latina.