O secretário-geral da ONU discursou na abertura do Fórum Econômico Mundial em Davos, na Suíça, destacando que muitos problemas globais estão piorando e deixando a humanidade sem rumo. Segundo António Guterres, “é hora de acordar para os desafios existenciais e enfrentá-los de frente”.
O perigo da inteligência artificial desgovernada
Ao abordar o tema do encontro, “Colaboração para a Era Inteligente”, Guterres disse que a inteligência artificial, IA, representa uma promessa “incalculável” para a humanidade.
A nova tecnologia já está trazendo resultados palpáveis em áreas como aprendizado, diagnóstico de doenças, rendimento agrícola, remoção de minas terrestres e direcionamento de ajuda em tempos de crise.
Por outro lado, ela também representa riscos imensos caso não seja devidamente governada. As ameaças incluem desestabilização de economias e mercados de trabalho, perda de confiança nas instituições, aprofundamento das desigualdades e efeitos assustadores nos campos de batalha.
Alfabetização digital e direitos humanos
O secretário-geral pediu aos líderes, reunidos no encontro, mais investimentos para o acesso universal à internet, alfabetização digital e infraestrutura que permita a cada país aproveitar o potencial da IA, superando a divisão digital que existe atualmente.
Ele apelou ainda para que os direitos humanos sejam o foco dos sistemas de IA, em linha com o Pacto Digital Global. O acordo, adotado em setembro nas Nações Unidas, é considerado o primeiro sobre a governança da inteligência artificial que envolve todos os países.
Vício autodestrutivo em combustíveis fósseis
Guterres se referiu ao caos climático como outra ameaça existencial e expôs o que chamou de “ironia sombria”, citando uma análise que aponta que 13 dos maiores portos de navios superpetroleiros serão afundados pela subida do nível do mar.
O chefe das Nações Unidas destacou que o aumento dos oceanos é causado pelo aumento das temperaturas, que por sua vez é gerada, em grande parte, pela queima de combustíveis fósseis.
Ele afirmou que o “vício em combustíveis fósseis é um monstro Frankenstein, que não poupa nada nem ninguém”.
O secretário-geral lembrou que 2024 marcou o ano e a década mais quentes da história, com possibilidade de ser o primeiro ano civil a ultrapassar 1,5 C° acima dos níveis pré-industriais.
O lado errado da história
Ao se referir às instituições financeiras e indústrias que estão recuando em seus compromissos climáticos, Guterres disse que essa é uma atitude “míope, egoísta e autodestrutiva”.
Ele afirmou que este é o lado errado da história e da ciência, além de representar um afastamento em relação aos consumidores que clamam por mais sustentabilidade.
Tendo em vista a Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, COP30, que será realizada no Brasil no final do ano, o chefe da ONU lembrou aos líderes mundiais que devem cumprir a promessa por novos planos nacionais de ação climática.
Ele enfatizou que os países em desenvolvimento precisam de um “aumento no financiamento” para a ação climática, ele declarou, pedindo não apenas aos governos, mas a todas as empresas e instituições financeiras que criem planos de transição robustos e responsáveis.
António Guterres pretende mobilizar os líderes reunidos em Davos para colocarem rapidamente seus esforços coletivos e melhorem a colaboração para lidar com as ameaças da crise climática e da inteligência artificial desgovernada.
O chefe da ONU deve se encontrar com líderes governamentais e empresariais, setor privado e comunidade filantrópica. Os organizadores da reunião anual agendaram dezenas de eventos focados nos principais desafios globais e regionais.
Promoção do progresso
O documento recém-adotado visa garantir que a tecnologia esteja em benefício de toda a humanidade, lidando com barreiras para minimizar os riscos, ao mesmo tempo em que se amplificam os benefícios.
Com o marco multilateral, as Nações Unidas defendem a promoção do progresso, da igualdade, da dignidade para todos os países e pessoas.
Ainda nesta quarta-feira, 22, o secretário-geral participou de um jantar organizado pela aliança Investidores Globais para o Desenvolvimento Sustentável que apoia os países em desenvolvimento.