A economia circular é um sistema econômico que conta com abordagem sistêmica para manter o fluxo circular de recursos. Ela recupera, retem ou agrega valor aos recursos, ao mesmo tempo que contribui para o desenvolvimento sustentável. Sim, temos agora um consenso sobre a definição internacional para o termo na nova norma técnica ABNT NBR ISO 59004, lançada recentemente pela Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), em parceria com a Confederação Nacional da Indústria (CNI), na Casa Firjan da Federação das Indústrias do Estado do Rio
de Janeiro.
A norma ISO 59004 conta com 92 termos, 6 princípios e 25 possíveis ações sobre economia circular, além de uma visão de futuro para o tema e de um processo flexível para guiar sua implementação. A norma foi desenvolvida para ser utilizada por empresas de qualquer tipo (públicas ou privadas), tamanho, localização e posição dentro de uma cadeia de valor. E foi um trabalho intenso e muito gratificante que tive o prazer de coliderar com a minha colega francesa Ann-
Sophie Coince.
O desenvolvimento da norma foi marcado por vários desafios, pois além da complexidade de chegar em um consenso entre mais de 300 especialistas, de 102 países, tivemos a ocorrência da pandemia do COVID-19. As discussões virtuais não foram simples e outras duas normas estavam sendo desenvolvidas em paralelo: uma focada em modelos de negócio (ISO 59010) e outra na mensuração e avaliação do desempenho em economia circular (ISO 59020).
Mas conseguimos superar os desafios e não posso deixar de ressaltar a presença de especialistas de diversas áreas durante esse processo. Tivemos profissionais do setor industrial, membros da academia, integrantes de consultorias, ONGs e organizações multilaterais. Essa alta diversidade foi importante para que alcançássemos um resultado que atendesse ao escopo abrangente que desejávamos. E digo isso, pois, a implementação da economia circular exige a participação da sociedade como um todo.
Compromisso de todos
A circularidade é o caminho necessário para alcançarmos o uso eficiente e eficaz dos recursos naturais. Na Braskem, já desenvolvemos várias iniciativas neste sentido, como por exemplo o primeiro Centro de Desenvolvimento de Embalagens para Economia Circular do Brasil, localizado em São Paulo. O chamado Cazoolo é um hub de inovação que promove toda a jornada de desenho de embalagens, considerando os impactos desde a sua produção até o momento após o seu uso. É um espaço aberto para clientes, brand owners, designers, startups e universidades que podem criar e cocriar projetos, visando a completa circularidade e o menor impacto ambiental de seus produtos.
Além disso, a Braskem entende a importância do lado social da economia circular. Temos, por exemplo, a iniciativa Plastitroque. Criado em 2019, o projeto tem foco no engajamento das comunidades no processo de coleta e na segregação dos produtos para a reciclagem. A iniciativa já arrecadou mais de 100 toneladas de resíduos plásticos nas edições realizadas no entorno das unidades
da companhia.
Outro destaque que muito nos orgulha é o ser+. Criada em 2013, a iniciativa promove a inclusão socioeconômica dos catadores e, anualmente, cerca de 1.000 pessoas organizadas em torno de 25 cooperativas são apoiadas pela Braskem. E vamos além. No lado industrial, a Braskem também investe em economia circular. Quando falamos de reúso de água, o projeto Água Viva – que garante o reaproveitamento de parte da água do polo industrial de Camaçari, e o Aquapolo – que produz água de reúso para o complexo industrial do ABC, em SP, são dois exemplos importantes da força da economia circular.
Mas é fundamental entendermos que tais movimentos são apenas os primeiros passos. Voltando ao conceito de economia circular, isso se trata de um sistema econômico que utiliza abordagem sistêmica. Ou seja, é necessário que todos entendam a importância de trabalharmos em uma verdadeira rede. É um fluxo que deve contar com empresas, governos (em todos os níveis), ONGs, academias, consumidores e a sociedade.
As recentes normas ISO foram criadas com o objetivo de espalhar conhecimento de centenas de especialistas em prol da circularidade. Agora, devemos aproveitar tal conhecimento ao máximo e caminhar rumo a um futuro melhor. Somente assim teremos uma nova economia e poderemos dar passos concretos rumo ao desenvolvimento sustentável.
Jorge Soto, diretor de Desenvolvimento Sustentável da Braskem e integrante da companhia há mais de 30 anos. Formado em Engenharia Química pela Universidade Federal da Bahia (UFBA), Soto possui mestrado em Engenharia Química e doutorado em Planejamento Ambiental ambos pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
