As mudanças climáticas e os riscos cibernéticos são desafios significativos que afetam o setor de seguros, tanto no Brasil quanto globalmente. O aumento da frequência e intensidade de eventos climáticos extremos, como inundações, furacões e incêndios florestais, tem gerado perdas financeiras substanciais para as seguradoras. Em 2024, o Brasil enfrentou catástrofes naturais, como a que ocorreu em abril no Rio Grande do Sul, onde mercado segurador teve valores de cerca de R$ 8,9 bilhões em indenizações. Globalmente, eventos como os furacões nos Estados Unidos e as inundações na Espanha também evidenciam a vulnerabilidade do setor. De acordo com um relatório da Verisk, empresa especializada em modelagem de riscos, os desastres naturais podem custar até US$ 151 bilhões por ano ao setor de seguros global.
Além dos riscos climáticos, os ataques cibernéticos têm se tornado uma preocupação crescente. Com o aumento da digitalização, as seguradoras estão mais expostas a fraudes, vazamentos de dados e interrupções nos serviços. Um exemplo é o ataque de ransomware que afetou a seguradora americana CNA Financial em 2021, levando a perdas significativas e comprometendo a confiança dos clientes. No Brasil, o quadro de insegurança cibernética vem se acentuando ano a ano; segundo o Centro de Prevenção, Tratamento e Resposta a Incidentes Cibernéticos de Governo (CTIR.Gov), desde 2020, foram mais de 50 000 casos, incluindo registros de violações de segurança das redes federais e alertas de vulnerabilidades emitidos pelo CTIR.
Diante desse cenário, inovações tecnológicas, como a Inteligência Artificial (IA) e, em particular, a IA generativa, surgem como ferramentas promissoras para mitigar esses riscos. A IA pode ser utilizada para analisar grandes volumes de dados climáticos e prever tendências, permitindo uma melhor precificação dos seguros e uma resposta mais ágil a eventos adversos. Por meio do uso de algoritmos de aprendizado de máquina, as seguradoras podem aprimorar seus modelos de risco e ajustar suas políticas com base em dados em tempo real.
A IA generativa pode desempenhar um papel significativo na mitigação de riscos cibernéticos no setor de seguros, especialmente devido à complexidade e frequência dos ataques cibernéticos modernos, como simulação de cenários de ataques e análise de riscos, análise e identificação de vulnerabilidades, detecção e análise de fraudes em reivindicações de sinistros, dentre outros.
No mercado de seguros, o conceito de underwriting, ou subscrição de riscos, passou por uma grande evolução nos últimos anos, resultando no que chamamos hoje de underwriting dinâmico. Esta evolução, que combina uma grande quantidade de dados – históricos e em tempo real – para ajustar a análise de risco de forma contínua e automática, é um exemplo de como a tecnologia atua como agente transformador no setor de seguros.
Essa abordagem permite que as seguradoras ajustem as condições das apólices de forma contínua, com base em informações atualizadas sobre riscos, incluindo mudanças climáticas e dados cibernéticos, e isso não apenas melhora a precisão nas avaliações de risco, mas também proporciona maior flexibilidade e personalização para os segurados.
Em suma, a intersecção entre a mudança climática, os riscos cibernéticos e as inovações tecnológicas apresentam desafios e oportunidades para o setor de seguros. A adoção de tecnologias como a IA pode não apenas ajudar as seguradoras a enfrentar esses desafios, mas também a criar um modelo de negócios mais resiliente e adaptável às novas realidades do mercado.
Gustavo Pereira, gerente de Seguros da NTT DATA Brasil.