quarta-feira, janeiro 22, 2025

32 milhões de pessoas podem precisar sair de suas cidades ou países até 2050 por conta da crise hídrica, aponta BCG 

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O Boston Consulting Group (BCG), em conjunto com o Laboratório de Pacificação e Clima da Universidade de Cambridge, desenvolveu o estudo “To Understand Climate Mobility, Follow the Water”, que retrata a crise hídrica como o principal motor da migração climática nas próximas décadas, exigindo ações urgentes e coordenadas para garantir a segurança hídrica global, especialmente em áreas vulneráveis.

Analisando os riscos relacionados ao clima, com foco nas mudanças nos padrões de água e suas consequências para o deslocamento de pessoas, tanto involuntário quanto voluntário, o levantamento mostra que o aumento contínuo das temperaturas globais já causa impactos significativos, intensificando tempestades, inundações e secas em todos os continentes habitados.

Segundo o BCG, as regiões da América Latina e Sudeste Asiático estão mais suscetíveis a secas severas, enquanto a África, Austrália e Oriente Médio enfrentam riscos crescentes de inundações. Na Europa Central, os dois extremos são igualmente prováveis.

“Interrupções no ciclo natural da água causadas por desastres naturais podem desencadear a quebra de safras, degradar e erodir o solo e as terras ao redor, danificar a infraestrutura e a propriedade e alterar significativamente os ecossistemas, além de afetar a qualidade e a quantidade de água, o que, por sua vez, pode levar à instabilidade econômica e política, interrompendo ainda mais a capacidade de uma sociedade de mitigar e se adaptar aos efeitos do aquecimento global”, explica Santino Lacanna, líder da prática de Social Impact para América Latina no BCG.

Assim sendo, a mobilidade climática ocorre em resposta a um conjunto complexo de fatores econômicos, sociopolíticos e ecológicos com tendência de piora à medida que a temperatura da Terra aumenta. De acordo com o relatório, em 2022, esses eventos impactaram diretamente a disponibilidade e qualidade dos recursos hídricos, impulsionando 99% do deslocamento de pessoas. A pesquisa prevê que, até 2050, de 11 a 32 milhões de pessoas precisem mudar de cidade ou país em busca de segurança, água potável, alimentos e meios de subsistência.

Diante desse cenário, o estudo recomenda ações em três áreas específicas para garantir a segurança hídrica e mitigar os impactos da mudança climática:

  • Aumentar a resiliência hídrica por meio de soluções baseadas na natureza, como infraestrutura verde;
  • Impulsionar a resiliência social, reconhecendo o acesso à água limpa como um direito humano e fornecendo redes de apoio para populações afetadas por desastres;
  • Reduzir a disparidade entre resiliência hídrica e social, investindo em tecnologias inovadoras, como plataformas digitais para monitoramento de recursos hídricos, irrigação de precisão e agricultura regenerativa.

“A implementação dessas medidas exige mecanismos de financiamento inovadores, incluindo investimentos do setor privado, para apoiar a adaptação e a resiliência, principalmente em países em desenvolvimento. A colaboração entre governos, sociedade civil e o setor privado é fundamental para garantir um futuro sustentável para todos”, afirma Lacanna.

Contudo, a pesquisa indica que apenas 67 dos mais de 700 compromissos relacionados à água registrados durante a Conferência da ONU sobre Água de 2023 estão em andamento. Globalmente, 10% das terras agrícolas irrigadas utilizam fontes não renováveis de água subterrânea e 1,8 bilhão de pessoas dependem de latrinas de fossa, que contaminam os lençóis freáticos. A indústria agrícola global, responsável por 72% do consumo global de água doce, opera com um preço da água que não sinaliza adequadamente o seu custo real.

“A falta de ação coloca em risco a vida de milhões de pessoas e exige um compromisso global com a segurança hídrica e a justiça climática. Devemos usar e gerenciar o suprimento de água do mundo de forma mais eficaz e implementar uma série de ações e políticas socialmente benéficas, com os devidos sinais e incentivos econômicos, que possam mitigar os impactos relacionados à água e ajudar as pessoas a se adaptarem a eles”, finaliza o especialista.

O estudo completo está disponível, em inglês, no site do BCG.

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