sábado, dezembro 28, 2024

Pesquisa expõe a invasão de microplásticos no corpo humano e os riscos à saúde

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A presença de microplásticos, partículas plásticas menores que 5 milímetros, está sendo detectada em locais cada vez mais preocupantes, incluindo o corpo humano. Esses materiais podem se alocar em órgãos, sangue, placenta e até mesmo em fetos, além de estarem disseminados no meio ambiente. Ainda que um problema pouco popular, especialistas alertam para os potenciais riscos à saúde e para a necessidade urgente de políticas públicas e práticas mais sustentáveis.

Uma pesquisa conduzida pela Universidade de Plymouth, no Reino Unido, revelou que as pessoas podem ingerir microplásticos durante o jantar, seja ao consumir alimentos ou ao inalar por meio de resíduos em tapetes, estofados ou roupas. Amostras de cérebros coletadas em autópsias realizadas em 2024 pela Universidade do Novo México, nos Estados Unidos, também mostraram que 0,5% do peso cerebral analisado era composto por microplásticos.

Na China, o Hospital Anzhen identificou partículas como essas em cinco tecidos cardíacos distintos de pacientes submetidos a cirurgias. Já no Brasil, a Universidade de São Paulo (USP) detectou microplásticos em pulmões humanos, indicando que eles são inevitavelmente consumidos. A dimensão do problema é vasta e também se estende ao sistema circulatório.

Pesquisadores da Universidade Livre de Amsterdã, na Holanda, descobriram que 77% dos doadores de sangue analisados carregavam grandes quantidades de microplásticos nas amostras. Em paralelo, a Sociedade Brasileira de Pediatria reportou a presença em sangue, vísceras, fezes, urina e até em fetos humanos, reforçando os riscos potenciais de exposição ainda na gestação, já que um estudo da Universidade de Marche, na Itália, observou microplásticos em placentas, com a possibilidade de malformações fetais e impactos no desenvolvimento infantil.

Esses achados evidenciam a complexidade do problema e a necessidade de mais estudos para entender os efeitos a longo prazo dessa contaminação. Samara Oliveira, oceanógrafa e sócia do negócio de impacto socioambiental Marulho, destaca a gravidade do cenário: “O fato de esses fragmentos de plástico estarem presentes em praticamente todas as vidas na Terra é um alerta claro de que precisamos melhorar”.

Além dos impactos na saúde, os microplásticos representam uma ameaça significativa ao meio ambiente. Redes de pesca perdidas ou descartadas, por exemplo, fragmentam-se em pequenas partículas devido à exposição ao sol, sal e movimento no mar, liberando microplásticos que contaminam o ecossistema marinho. “Essas partículas são ingeridas por organismos aquáticos e acabam na cadeia alimentar humana, trazendo riscos às espécies, além de prejudicarem o próprio oceano. O benefício de combater esse mal atinge o ecossistema como um todo”.

A solução, de acordo com Oliveira, exige ações coordenadas, como o fortalecimento da economia circular, o estímulo à reciclagem e a criação de materiais sustentáveis, além de políticas públicas rigorosas para limitar o uso de plásticos. “O processo para melhorar pontos como esse parece tão longo que algumas pessoas acabam desistindo de agir. Mas a transformação é possível. Basta que haja esforços coletivos pelo bem-estar comum”, finaliza.

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