A engenharia e os projetos de infraestrutura desempenham um papel central no desenvolvimento sustentável e na transformação econômica de qualquer sociedade. Porém, além dos aspectos técnicos e econômicos, é essencial discutir as dinâmicas de liderança nesse setor. Incentivar as mulheres a ocuparem os cargos de liderança oferece benefícios tangíveis para a inovação, a diversidade de pensamento e o fortalecimento das estratégias ESG (Ambiental, Social e Governança).
Para quem lê esse texto, pode ser estranho entender que eu, como um homem, propor essa conversa. Mas gostaria que a sociedade e o mercado entendessem que também é papel dos homens debater sobre esse assunto e contribuir para um setor mais igualitário e justo.
Dados recentes do World Economic Forum revelam que empresas com maior diversidade de gênero na liderança são 21% mais propensas a superar a média de rentabilidade do mercado. No setor de engenharia, historicamente dominado por homens, a inclusão de mulheres em posições de liderança tem mostrado impacto direto em abordagens mais holísticas e colaborativas, características essenciais em projetos de grande escala e alta complexidade, como aqueles voltados para infraestrutura.
A atuação de mulheres em posições estratégicas em empresas de engenharia promove uma mudança cultural relevante. Estudo da McKinsey de 2020 aponta que empresas com maior diversidade de gênero em cargos executivos têm 25% mais chances de superar a média de lucratividade do mercado. Isso ocorre porque diferentes perspectivas estimulam soluções mais criativas para desafios técnicos e organizacionais. No contexto de infraestrutura, em que decisões impactam diretamente o meio ambiente e a qualidade de vida de comunidades inteiras, essa diversidade é uma vantagem estratégica.
Além disso, a presença feminina em cargos de liderança fortalece práticas alinhadas aos critérios de ESG. Mulheres líderes tendem a priorizar a inclusão de soluções sustentáveis e de longo prazo, ao invés de estratégias puramente baseadas no retorno financeiro imediato. O artigo “How Diversity Can Drive Innovation” (em tradução livre, Como diversidade pode levar a inovação) divulgado pela Harvard Business Review em 2013, já alertava que empresas com diversidade étnica, cultural e de gênero são 45% mais propensas a expandir sua participação no mercado.
Por exemplo, empresas lideradas por mulheres frequentemente adotam tecnologias mais verdes, como infraestrutura resiliente a mudanças climáticas ou soluções que promovem a integração de ecossistemas naturais nos projetos. Dentro da área geotécnica, por exemplo, demanda-se uma visão integrada que leve em conta tanto a estabilidade estrutural, quanto os impactos ambientais e sociais das soluções adotadas.
Desafios e a necessidade de políticas de incentivo
Embora os benefícios da liderança feminina sejam claros, o caminho ainda é desafiador. Apenas 16% dos engenheiros registrados no Brasil são mulheres, segundo o Conselho Federal de Engenharia e Agronomia (CONFEA) em 2020. Esse número reflete não só a disparidade de gênero no setor, mas também a subrepresentação em cargos de liderança.
Portanto, é necessário investir em programas que incentivem a entrada de mulheres na engenharia, além de criar ambientes corporativos mais inclusivos e acolhedores. Governos, associações profissionais e empresas privadas têm um papel fundamental nesse processo, seja por meio de políticas públicas, mentorias ou práticas organizacionais que priorizem a equidade de gênero.
Empresas de engenharia e consultoria de infraestrutura lideradas por mulheres não apenas desafiam paradigmas históricos, mas também oferecem novas perspectivas para a construção de um futuro mais sustentável e resiliente. A integração de lideranças diversas alinha o setor às demandas contemporâneas por inovação, sustentabilidade e impacto social positivo.
A participação de mulheres negras na engenharia representa um desafio ainda maior dentro da questão da equidade de gênero e diversidade racial no Brasil. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), apenas 3% das mulheres negras que ingressam no ensino superior optam por carreiras nas áreas de ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM, na sigla em inglês).
Este dado reflete barreiras históricas e estruturais, como a falta de acesso a uma educação de qualidade, estereótipos de gênero e raça, e a sub-representação em setores altamente técnicos. No mercado de trabalho, essa desigualdade é ainda mais acentuada: um estudo da Associação Brasileira de Recursos Humanos (ABRH) aponta que mulheres negras ocupam menos de 1% dos cargos de liderança em setores técnicos e de engenharia.
É fundamental reconhecer o impacto positivo que a inclusão de mulheres negras pode trazer para a engenharia, especialmente no contexto de diversidade de pensamento e inovação. O estudo “Diversity in Tech” conduzido pelo Kapor Center em 2021 mostra que a inclusão de profissionais negros, especialmente mulheres, melhora a compreensão das necessidades de comunidades sub-representadas e promove soluções mais inclusivas e eficazes em projetos.
No Brasil, iniciativas como o programa “Mulheres na Engenharia”, desenvolvido em parceria com universidades e a Sociedade Brasileira de Engenharia de Televisão (SET), têm buscado ampliar o acesso de mulheres negras à formação técnica e ao mercado de trabalho. Avançar nessa questão requer, além de incentivos educacionais, a promoção de ambientes corporativos inclusivos, onde essas profissionais possam crescer e liderar.
Luciano Machado, CEO da MMF Projetos de Infraestrutura.