Há décadas, a comunidade científica tem alertado sobre os efeitos das emissões crescentes e recordes de concentração de gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera, como o aquecimento da temperatura média global e os consequentes eventos extremos ligados às mudanças climáticas, provocados principalmente pelo consumo de combustíveis fósseis e mudanças no uso do solo. O ano de 2024 trouxe três grandes marcos em relação às mudanças climáticas.
Vivemos eventos extremos, como as chuvas no Rio Grande do Sul, que atingiram mais de 400 municípios e afetaram cerca de 2 milhões e 300 mil pessoas, de acordo com os dados da Defesa Civil do Estado, no mesmo ano em que a região Norte do país registrou uma seca histórica. Na Espanha, chuvas torrenciais afetaram diversas cidades na região de Valência, com 216 mortes registradas. Nos Estados Unidos, os furacões Helene e Milton atingiram intensidades nunca vistas anteriormente, para citar apenas alguns exemplos. Em termos geopolíticos e econômicos, a COP29, que aconteceu em Baku, no Azerbaijão, sofreu muitas críticas, com poucos avanços nas negociações e um resultado tímido na agenda de financiamento climático. O montante que os países ricos se comprometeram a investir para que os países em desenvolvimento possam avançar em adaptação e mitigação foi infinitamente menor que o esperado. E, por fim, um passo importante foi dado pelo Brasil com a sanção da Lei 15.042 pelo Governo Federal em 12 de dezembro, que regula o mercado de créditos de Carbono, após um longo período de tramitação na Câmara e no Senado.
Essa nova lei representa um avanço de governança relevante para o Brasil e os próximos dois anos serão cruciais para a regulamentação desse mercado. Nesse período devem ser definidos os critérios de limites de emissões, alocação das permissões, as metas para cada setor industrial e os trâmites sobre como medir, reportar e como serão auditadas as emissões de CO2, entre outras questões importantes para o bom funcionamento do mercado. Posteriormente, haverá uma fase de testes para as empresas para que haja a adaptação ao sistema. De forma prática, as indústrias devem começar a sentir o efeito da regulação do carbono a partir de 2029/2030, como mais uma ferramenta para estimular o desenvolvimento de iniciativas de descarbonização. Temos a expectativa de que esse sistema seja uma injeção de eficiência na indústria brasileira e um instrumento importante para pavimentar o papel do Brasil como a potência ambiental que lhe cabe.
A sanção da nova legislação é a oportunidade de demonstrar o compromisso do Brasil com a agenda global de descarbonização, especialmente com a Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas de 2025 – COP30 – às portas do evento que acontecerá em novembro em Belém, no Pará. A COP 29 em Baku, no Azerbaijão, gerou expectativas ainda maiores para a COP no Brasil, dado que a última conferência acabou sem uma meta ambiciosa de financiamento e sem planos concretos para limitar o aumento da temperatura global a 1,5 °C, como um compromisso necessário de eliminação do uso de combustíveis fósseis.
Com o crescimento de mercados regulados de carbono e a crescente demanda por produtos mais sustentáveis, as indústrias mais competitivas serão aquelas mais eficientes e com menor intensidade de emissão de gases de efeito estufa. Com todos os desafios que temos pela frente, aqui na Votorantim Cimentos seguimos com uma agenda importante de investimentos em transição energética e na economia de baixo carbono, entendendo que somos parte da solução para a descarbonização do planeta.
Nossa estratégia de descarbonização está pautada em quatro grandes pilares: o coprocessamento (que é a utilização de materiais alternativos ao combustível fóssil), o uso de cimentícios, que é a substituição do clínquer – o principal responsável pela emissão de CO2 no processo produtivo de cimento – por subprodutos vindos de outras indústrias, a eficiência energética e uso de fontes renováveis de energia, com hidrelétricas próprias e investimentos em energia solar e eólica, e o desenvolvimento de tecnologias, com uso de processos inovadores, novos materiais e captura de carbono. Também sabemos da importância de olhar para o potencial de ganho de eficiência em toda a cadeia de valor da construção, otimizando o uso de cimento e concreto, oferecendo produtos de alto desempenho e reduzindo desperdícios nas obras.
Entre 1990 (ano ponto de partida utilizado na indústria de cimento) e 2023, a Votorantim Cimentos reduziu as emissões de CO2 por tonelada de cimento produzido em 27%. Encerramos 2023 com resultado global de missões de 556 kg de CO2 por tonelada de cimento produzido, uma redução de 4% na comparação com 2022 (579 kg de CO2/tonelada de cimentícios).
Dessa forma, seguimos avançando em nossa estratégia de descarbonização, com um montante financeiro relevante planejado para investimento nos próximos cinco anos, buscando atingir nosso compromisso público de chegar a 475kg CO2/tonelada de cimentícios até 2030.
Nos próximos anos também teremos um esforço relevante em transparência e governança para atender às novas diretrizes de sustentabilidade trazidas pelo IFRS (International Financial Reporting Standards) e pelo CSRD (Corporate Sustainability Reporting Directive). Assim como seguiremos investindo na pesquisa de novas matérias-primas alternativas para substituir o calcário no processo de produção, além dos materiais que já são utilizados. Parcerias e cocriação, com iniciativas e novos produtos de baixo carbono que impactem positivamente a cadeia de construção civil, agregando valor para as construtoras, também são tendências que devem crescer nos próximos anos.
Diante da emergência climática, que impacta não só os setores produtivos, mas também os países e toda a população global, a mudança necessária exige um esforço conjunto para transformar a realidade e promover a descarbonização do nosso planeta.
Fabio Cirilo, gerente de Ecoeficiência e Energia da Votorantim Cimentos, é formado em Engenharia Mecânica pela Universidade Estadual Paulista (UNESP), com MBA em Gestão de Negócios pela FIA Business School.