domingo, março 23, 2025

Solidariedade e organização: pesquisa revela a importância de planejamento e gestão estruturada na atuação de voluntários após enchentes no Sul

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As enchentes que atingiram o Rio Grande do Sul em 2024 mostraram como a solidariedade pode fazer a diferença em momentos de crise, ao mesmo tempo em que trouxeram aprendizados e expuseram questões significativas na gestão de voluntários em situações de emergência. A análise da pesquisa “Modelo a toda Terra: o voluntariado nos abrigos das enchentes do RS – Estratégia emergente de gestão de voluntários e alto engajamento”, elaborada pela MGN, revela a necessidade de um planejamento mais robusto por parte das organizações que auxiliam vítimas de tragédias, incluindo estratégias para a captação e o treinamento prévio de voluntários. Apesar da experiência, 76% das organizações que foram mobilizadas na ocasião não têm um plano específico para gestão de voluntários em situações de emergência ou crise.

Segundo os dados, a maioria dos abrigos contou com voluntários espontâneos (64%), que se apresentaram no local para oferecer apoio. O recrutamento por meio das redes sociais foi utilizado por 30% dos abrigos. Entretanto, em um cenário de crise, 58% dos abrigos não utilizaram critérios específicos para selecionar voluntários ou priorizaram habilidades específicas (54%), e a maior parte (66%) dos participantes não passou por capacitações formais. Ainda assim, os voluntários demonstraram um nível intermediário de preparação – numa classificação de 1 a 5, a média ficou em 3,13 pontos – e um bom engajamento, mostrando que, mesmo sem planejamento detalhado, o espírito de colaboração prevaleceu.

Distribuição de alimentos e água (91%), organização de doações e suprimentos (86%), logística e transporte (72%), apoio emocional e acolhimento aos abrigados (66%) e preparo de refeições e apoio na cozinha (65%) foram as atividades nas quais os voluntários mais se envolveram.

“Tendo em vista um futuro com desastres socioambientais, movimentos de refugiados e eventos climáticos severos cada vez mais frequentes, a sociedade civil deve se organizar para não depender apenas de boa vontade. A solidariedade é fundamental, mas as enchentes do Rio Grande do Sul mostraram que a magnitude das situações de emergência cobrará planejamento”, disse Marcelo Nonohay, fundador da MGN e especialista em voluntariado.

Apesar da falta inicial de estrutura, a pesquisa destaca que estratégias emergentes de gestão rapidamente ganharam espaço. A maioria dos abrigos implementou controle de entrada (77%), presença (60%) e atividades dos voluntários (55%), além de realizar avaliações de desempenho diariamente (39%) e semanalmente (14%) e de manter uma comunicação eficaz com as equipes, com 55% satisfeitos e 37% muito satisfeitos. O WhatsApp foi o principal meio de comunicação utilizado para coordenar os voluntários, citado por 64%.

“Esses elementos contribuíram para que a gestão fosse amplamente avaliada de forma positiva, reforçando a capacidade de adaptação das lideranças das Organizações da Sociedade Civil (OSCs) e coletivos que gerenciavam os abrigos em situações críticas”, destaca Nonohay.

O alto nível de engajamento não se limitou aos voluntários. A pesquisa também aponta comportamentos marcantes de doação, reforçando a mobilização coletiva durante a crise. Entre os principais parceiros de ajuda aos abrigos estão: a população local (76%), empresas locais (58%), organizações religiosas (54%), prefeituras (47%) e organizações não governamentais (43%).

“Embora o foco da pesquisa tenha sido as Organizações da Sociedade Civil, governos, empresas e cidadão também precisam participar – a responsabilidade é de todos”, aponta.

Quase todos os respondentes (97%) destacaram a importância de formalizar redes de organizações e voluntários para situações de emergência. Contudo, apenas cerca de 24% das organizações que gerenciaram abrigos possuem planos específicos para a gestão de crises. O dado evidencia uma lacuna que pode ser preenchida com iniciativas mais estruturadas, especialmente considerando os desafios climáticos cada vez mais recorrentes.


Metodologia

A pesquisa, realizada entre 05 e 25 de novembro de 2024, utilizou uma combinação de dois métodos: CATI – que reúne o mapeamento de listas de abrigos que circularam durante as enchentes, levantamento de contatos das organizações responsáveis pelos abrigos, contato para convite para participar da pesquisa e entrevistas por telefone – e WEB – por meio da publicação de chamados nas redes sociais e em mailings com o link da pesquisa e o preenchimento de formulário online. Ao todo, foram entrevistadas 77 organizações por telefone. O link da pesquisa online foi respondido por 23 organizações. Não foram encontradas diferenças significativas entre os respondentes das duas abordagens.

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