quarta-feira, fevereiro 5, 2025

A diversidade como catalisadora de transformação social e empresarial

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Em um mundo cada vez mais plural e interconectado, as empresas desempenham um papel indispensável na promoção de um ambiente mais igualitário, onde todas as  identidades, origens e trajetórias são reconhecidas, respeitadas e valorizadas. A diversidade, nesse sentido, vai além da inclusão de minorias ou da contratação de grupos historicamente marginalizados. Ela implica a construção de uma cultura organizacional que, de fato, democratiza o acesso às oportunidades e contribui para a transformação das estruturas sociais mais amplas.

Historicamente, grupos como mulheres, negros, indígenas, pessoas com deficiência e da comunidade LGBTQIA+ enfrentam barreiras significativas no acesso a empregos, educação e oportunidades de carreira. Dessa forma, a implementação de políticas de diversidade e inclusão no ambiente corporativo não deve ser vista apenas como uma medida de modernização ou de imagem, mas como uma ação concreta para corrigir essas distorções e promover a equidade.

A disparidade entre diferentes grupos sociais em termos de acesso a empregos de qualidade, salários e oportunidades de liderança permanece evidente, mesmo em economias desenvolvidas. No Brasil, a realidade das mulheres negras no mercado de trabalho é ainda mais alarmante, com uma taxa de desemprego maior que o dobro que a de homens não negros, conforme dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS).

Como CEO negro, eu experimentei diretamente as barreiras invisíveis e os preconceitos que muitas vezes não são reconhecidos no mercado de trabalho. Fui o único aluno negro na minha sala da faculdade de engenharia, hoje sou um dos únicos líderes negros dentro do setor de infraestrutura, a estranheza com a minha presença nos espaços de tomada de decisão tem diminuído, mas ainda existe e são muitos os casos de tentativa direta de prejudicar a empresa sem explicação como por exemplo quando um novo gerente de banco após me conhecer bloqueia sem explicação o acesso a um financiamento que sempre esteve pré aprovado em sistema, ou quando após o gestor de uma grande empresa me conhece e automaticamente a MMF Projetos não é mais convidada para participar das concorrências. Ao longo do tempo, aprendi que, para alcançar uma posição de liderança, além das competências, é necessário um esforço constante para quebrar preconceitos e estereótipos.

Outra dificuldade que enfrentei foi a escassez de pares e mentores que compartilhassem a mesma experiência. Em muitas situações, eu me via em ambientes de trabalho onde, embora tivesse capacidade e determinação, não havia muitas pessoas com quem eu pudesse me identificar ou com quem pudesse trocar experiências de forma genuína. A ausência de representatividade em cargos de liderança fez com que, em alguns momentos, eu sentisse que o caminho para o topo era mais desafiador, porque as referências eram poucas e, muitas vezes, distantes.

Por isso, a adoção de iniciativas que promovem a diversidade no recrutamento, a capacitação e o desenvolvimento de lideranças contribuem significativamente para mitigar essas desigualdades, criando uma rede de oportunidades que permita o ascenso social daqueles que, historicamente, foram excluídos dos processos de tomada de decisão.

Ademais, quando indivíduos de diferentes origens, identidades e trajetórias ocupam posições de poder nas empresas, isso não impacta somente a dinâmica interna, mas, sobretudo, serve de inspiração para outras pessoas que veem suas histórias representadas nas figuras de liderança. A representatividade é um passo fundamental para transformar as normas sociais e combater estereótipos e preconceitos, criando um ciclo virtuoso de inclusão.

Quando fundei minha empresa, meu primeiro pensamento foi que uma das minhas missões era justamente mudar essa realidade, criando um ambiente onde mais pessoas pudessem se sentir representadas e ter a chance de crescer.

Vale destacar também que, embora o foco social seja o grande motor na promoção da diversidade e inclusão, não se pode ignorar o impacto direto que ela tem no desempenho organizacional. Empresas que integram esse pilar em seus processos de tomada de decisão são mais propensas a ter uma visão mais abrangente e a adotar estratégias mais eficientes, uma vez que a pluralidade de perspectivas permite uma análise mais rica e multifacetada das questões corporativas, bem como na identificação de falhas ou lacunas nos planos de negócios, o que é essencial para a competitividade de longo prazo.

Estudos acadêmicos e pesquisas corporativas, como os realizados pela McKinsey  &Company, evidenciam que essa heterogeneidade nas equipes de trabalho está diretamente associada ao aumento da capacidade inovadora de uma organização.

Tudo isso é particularmente relevante em tempos de mudança acelerada, como a digitalização e a transformação tecnológica, quando a flexibilidade e a capacidade de responder rapidamente às novas demandas do mercado tornam-se cruciais para o sucesso.

Em síntese, a diversidade no ambiente corporativo vai além de uma questão ética; ela é essencial para a promoção da justiça social. Essa mudança, quando efetivamente incorporada, reverbera positivamente na sociedade, criando desenvolvimento, impacto duradouro na vida das pessoas e nas estruturas sociais.

Ao mesmo tempo, é inegável que isso também representa uma vantagem estratégica para as organizações, que se tornam mais resilientes e inovadoras, capazes de se adaptar melhor às mudanças do mercado e de atender a um público plural.

Cabe a nós, líderes empresariais, a responsabilidade de impulsionar essa mudança de paradigma, transformando a cultura organizacional, garantindo que as iniciativas sejam eficazmente implementadas de forma transversal e criando ambientes nos quais todas as pessoas sejam verdadeiramente reconhecidas e valorizada.

Luciano Machado, CEO da MMF Projetos de Infraestrutura

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