Recentemente estava lendo uma matéria sobre a Ziel Cosmetics que abordava a técnica de Upcycling – processo para transformar resíduos ou produtos descartados em novos materiais ou produtos de maior valor, o que reduz o desperdício e promove a economia circular.
O termo upcycling, segundo o Ecycle foi cunhado pelo ambientalista alemão Reine Pilz, em 1994. Em 2002, popularizou-se com a publicação do livro Cradle to cradle: rethinking the way we make things (no Brasil, Cradle to cradle: criar e reciclar ilimitadamente), escrito pelo arquiteto americano William McDonough em parceria com o químico Michael Braungart.
A brasileira Ziel Cosmetics é pioneira no conceito de upcycling beauty, reaproveitando subprodutos da vinicultura (como sementes de uva) para criar cosméticos, o que minimiza o desperdício e reduz a pegada de carbono. Além disso, a empresa colabora com comunidades locais, não realiza testes em animais, e adota embalagens sustentáveis, reforçando seu engajamento com práticas éticas e ambientais responsáveis (Ziel Natural Cosmetics).
Upcycling e reputação empresarial
Percebemos que a relação entre upcycling e reputação empresarial é cada vez mais relevante, especialmente em um contexto em que a sustentabilidade é um dos fatores importantes para a relação entre consumidores, investidores e parceiros de negócios com as empresas ou suas marcas.
A própria presença desse conceito expresso na marca, fortalece seu manifesto ao associar valores em relação à responsabilidade social e engajamento com causas ambientais, tão necessárias atualmente. Por outro lado, isso contribui para ampliar seu relacionamento com os stakeholders de forma a trazer resultados mais atraentes para a companhia.
Colaboradores – Um bom lugar para se trabalhar: Práticas de upcycling podem impactar positivamente os colaboradores, especialmente da geração mais jovem, que valorizam empresas que demonstram preocupação com o impacto ambiental;
Governo e Órgãos Reguladores – Compliance e reconhecimento público: As empresas podem alinhar suas operações com legislações e regulamentos ambientais, ganhando reconhecimento positivo de governos e órgãos reguladores. Algumas regiões oferecem benefícios fiscais ou selos verdes para empresas que demonstram práticas sustentáveis, o que contribui para fortalecer sua reputação;
Fornecedores e Parceiros –cadeia de suprimentos sustentável: Ao optar por fornecedores que utilizam upcycling em seus processos, a empresa pode fortalecer suas parcerias comerciais e criar uma cadeia de valor sustentável, o que pode levar a um efeito cascata, incentivando outros fornecedores a adotar práticas semelhantes. Além da possibilidade de desenvolvimento conjunto de produtos. Um exemplo é a parceria entre a Adidas e a Parley for the Oceans, que transforma plástico retirado dos oceanos em produtos esportivos. Isso fortalece tanto a reputação da marca quanto a dos parceiros envolvidos. Outro exemplo que podemos citar é a empresa brasileira Mush – que utiliza subprodutos orgânicos da agroindústria e transforma em uma nova matéria-prima moldável e que pode ser descartada direto na natureza. Com essa nova matéria prima é possível desenvolver peças de decoração, materiais de construção civil e até mobiliário;
Investidores – aumento de valor de mercado – Essas práticas ambientais e de economia circular tendem a ser mais valorizadas no mercado financeiro e aumentam a atratividade no mercado quando adotadas e comunicadas em seus relatórios de ESG;
ONGs e Instituições de Sustentabilidade – desenvolvimento de parcerias. Empresas podem colaborar com ONGs que promovem a sustentabilidade ao fornecer materiais recicláveis ou ao co-criar projetos de upcycling. Por exemplo, uma empresa de moda pode doar sobras de tecidos para uma ONG que ensina costura para comunidades carentes, promovendo inclusão social e geração de renda;
Comunidades Locais – empresa promotora do desenvolvimento social – Uma empresa pode se envolver com comunidades para desenvolver projetos que beneficiem diretamente a economia local. Por exemplo, uma fábrica de alimentos pode doar restos de embalagens para artesãos da região, que os transformam em produtos vendáveis, gerando emprego e renda. As Empresas podem promover eventos ou workshops nas comunidades onde operam, ensinando técnicas como reciclagem de móveis ou moda sustentável;
Clientes – fortalecimento do relacionamento e aumento de vendas: criação de programas que incentivam os clientes a devolverem produtos antigos ou usados para serem reciclados ou transformados em novos produtos por meio do upcycling. Empresas de calçados, como a Timberland, fazem isso, atraindo consumidores com consciência ecológica e melhorando a reputação da marca.
Esses fatores, combinados, ajudam a consolidar uma reputação sólida e confiável no mercado, o que pode gerar vantagens competitivas a longo prazo.
Claudia Bouman, especialista em reputação de marca e sócia da Percepta Reputação Empresarial. Mestre em Comunicação, pós-graduada em Marketing pela ESPM e Flórida International University, com mais de 25 anos de experiência no mercado atuando, principalmente, nas áreas de Planejamento, Marketing e Comunicação em diversos perfis de empresas. Professora e Palestrante para cursos de graduação e pós-graduação. É coautora do Livro: Um Profissional para 2020 – Editora B4.