Mudanças do clima e crises econômicas e políticas, juntamente com as disparidades sociais crescentes, compõem um cenário global que exige ações urgentes e estruturadas. Na América do Sul, essa realidade é bastante evidente, tanto que, no Brasil, por exemplo, a desigualdade social é apontada como a principal preocupação para sete em cada dez brasileiros, segundo recente pesquisa da Ipsos.
A propósito, dados do IBGE indicam que, entre os países do G20, o Brasil tem a quarta maior taxa de desemprego entre os homens entre 15 e 24 anos. De forma mais ampla, o relatório “Tendências Globais de Emprego para Jovens 2024”, da Organização Internacional do Trabalho (OIT), aponta que a taxa de jovens brasileiros entre 15 e 24 anos que não estão empregados, estudando ou em treinamento – conhecidos como “nem-nem” – ficou em 20,6% em 2023, com pouca melhora em relação aos 20,9% observados em 2022.
Esse panorama no Brasil ilustra os desafios enfrentados pelos demais países sul-americanos. Esse mesmo índice, na Argentina, está em 15%, enquanto no Chile chega a 15,3% e na Bolívia a 9,5%, reforçando a necessidade de políticas públicas e privadas mais eficazes para inclusão dos jovens no mercado de trabalho em toda a região.
É preciso olhar com mais atenção para as ações sociais como um meio de capacitar e empoderar indivíduos e comunidades. Se, por um lado, a energia é vital para o funcionamento e o bem-estar da vida humana, por outro a educação e a qualificação profissional são essenciais para o progresso das novas gerações e o avanço socioeconômico.
Ao oferecer ensino de competências técnicas, trabalho voluntário, incentivo e colaboração com parcerias locais, as empresas podem preparar as pessoas e as comunidades para um futuro melhor. Iniciativas educacionais bem estruturadas, quando acompanhadas por mentorias de profissionais experientes, podem transformar vidas – especialmente aquelas em situação de vulnerabilidade social.
O impacto positivo de projetos de capacitação profissional é ainda mais evidente em regiões nas quais o acesso a essas oportunidades é escasso. Nesses casos, os treinamentos técnicos proporcionam habilidades práticas voltadas ao desenvolvimento econômico e com a finalidade de promover a equidade social. Por isso, esses programas não são uma simples transmissão de conhecimento; eles abrem portas para um futuro que parecia distante ou incerto.
Não se trata apenas de uma questão de adquirir competências. É uma chance de romper o ciclo da pobreza e da exclusão oferecendo às comunidades a possibilidade de prosperar. Nesse sentido, o engajamento voluntário, somado ao apoio das empresas comprometidas com capacitação, representa uma combinação poderosa que prepara as novas gerações para os desafios do mercado de trabalho, que segue em constante transformação.
Grandes organizações em todo o mundo têm assumido metas para treinar um número expressivo de pessoas nos próximos anos, demonstrando que há, de certa forma, um compromisso com a sustentabilidade e a inclusão social. Essas companhias acreditam também que o voluntariado corporativo vai além de uma simples ação altruísta, se tornando parte integral da estratégia de empresas que entendem a importância de colaborar ativamente para reduzir as desigualdades e instruir a sociedade para um amanhã mais justo e equilibrado.
No entanto, ainda nos deparamos com barreiras nesse movimento. O Censo do Voluntariado Corporativo 2023, conduzido pelo Conselho Brasileiro de Voluntariado Empresarial (CBVE), apontou um aumento de ações de empresas globais e diminuição de nacionais, e queda no investimento em capacitação de Organizações da Sociedade Civil. Por outro lado, esses programas contribuem para a criação de um legado positivo e o desenvolvimento sustentável das comunidades onde as empresas atuam.
Da mesma forma, profissionais que dedicam seu tempo e conhecimento para mentorear jovens e apoiar programas de treinamento são agentes de transformação que oferecem – adicionalmente às habilidades técnicas – inspiração e orientação. Essas ações mostram, na prática, como a colaboração agrega mudanças significativas e prosperidade.
A criação de programas focados no progresso de jovens deve ser estimulada em todas as esferas para garantirmos que as novas gerações tenham em mãos as ferramentas necessárias para superar as disparidades e urgências sociais. A Fundação Schneider Electric atua globalmente em iniciativas de equidade social e desenvolvimento sustentável por meio da capacitação de jovens e comunidades vulneráveis.
Em celebração aos seus 25 anos, completados em 2024, a instituição – apoiadora de mais de 1.500 projetos – ativou a campanha global “Youth Innovation For A Sustainable Future”, em parceria com a Ashoka, para incentivar propostas que mudam realidades e promover uma transição energética justa e responsável. Este é um exemplo claro do empenho de que o mundo precisa para lidar com os desafios ambientais e sociais de forma colaborativa e eficaz.
Rafael Segrera, presidente da Schneider Electric para a América do Sul.