A padronização das métricas de sustentabilidade que devem ser divulgadas, inclusive aquelas que passam a estar regidas pelos reguladores financeiros, contribui para melhorar a cobertura e efetividade dos relatórios publicados pelas instituições financeiras brasileiras e latinoamericanas, de acordo com a nova edição da Pesquisa Long Term Value (LTV), realizada pela EY, uma das principais auditorias e consultorias do mundo. As métricas padronizadas – aquelas que sofrem influência da regulação ou dos padrões de reporte de sustentabilidade – apresentaram as maiores variações positivas em relação à edição anterior do estudo publicada no ano passado. Para chegar a essa constatação, foram analisados os relatórios de divulgação de informações não financeiras publicados em 2023, referentes a 2022, de 21 instituições financeiras (IFs) brasileiras, sendo 11 que também estavam na pesquisa anterior, e 12 companhias da América Latina.
Um dos pontos fortes desta edição foram as divulgações envolvendo as métricas recomendadas pela SASB (Sustainability Accounting Standards Board), com destaque para os temas Dados e Informações, Fatores ESG na Tomada de Decisão e Ética nos Negócios, que tiveram divulgações melhores, com maior e melhor cobertura por parte das instituições financeiras avaliadas.
Esta evolução indica que a padronização das métricas, seja por influência de reguladores, como CVM e Banco Central, ou por recomendações de organizações, contribuem efetivamente para melhorar as divulgações financeiras. “Por outro lado, aspectos como Biodiversidade e Saúde Financeira do Consumidor que não apresentam padronização definida, acabam sendo mais suscetíveis às preferências de reporte de cada instituição e apresentaram pior desempenho no estudo”, explica Rafael Schur, sócio da EY e líder do segmento de Mercado de Serviços Financeiros para o Brasil da EY.
Sobre o tema Fatores ESG na Tomada de Decisão, houve um aumento da dispersão da métrica com o crescimento da base de instituições analisadas, o que indica que várias instituições reportam esse tema de maneira considerada ótima. Segundo o executivo, “as instituições financeiras divulgam mais suas informações acerca da integração de aspectos ESG em negócios, como crédito, investimentos e seguros, por exemplo”.
Percebe-se também uma crescente demanda por produtos financeiros que considerem critérios ESG, estimulando que as companhias do setor destaquem essas práticas em seus relatórios de sustentabilidade, visando atrair clientes e investidores interessados em sustentabilidade. “Nesse sentido, o tema de Finanças Sustentáveis, adjacente ao de Fatores ESG em Negócios também demonstrou ter a atenção do mercado, que têm divulgado algumas de suas ações nesse aspecto: frameworks de finanças sustentáveis, carteiras de crédito, investimentos, captações e produtos sustentáveis, com o intuito de demonstrar seu comprometimento e impacto positivo, reduzindo impactos socioambientais e promovendo o desenvolvimento sustentável”, detalha.
Outro comparativo relevante entre a primeira edição do estudo e a atual é que as métricas que lideraram o estudo anterior perderam algumas posições neste ano: Emissão de Carbono, Diversidade e Composição da Força de Trabalho e Confiança do Consumidor. Para Schur, “essa mudança pode indicar que avanços nessas temáticas demandam melhorias mais desafiadoras nos processos que as sustentam”. Em contrapartida, as métricas com pior performance seguem mal reportadas e são elas: Saúde Financeira dos Consumidores e Biodiversidade e Uso da Terra, confirmando que seguem recebendo pouco destaque nos reportes.
indústrias dentro do setor financeiro, como os bancos, seguradoras, entidades de pagamento. Como cada mercado é regulado por entidades diferentes, as normas ESG vêm sendo implementadas com enfoques e cronogramas distintos ao longo do tempo. “Esse é um ponto importante a se considerar, além da própria maturidade de cada setor e companhia. Os bancos, por exemplo, tiveram uma exigência de uma política de responsabilidade socioambiental que aconteceu em 2014, com a reformulação e o lançamento de novas normas pelo BACEN em 2021. Já no mercado segurador, a SUSEP instituiu a primeira norma sobre o tema em 2022, com implementação faseada até 2025”, reforça o executivo.
O setor bancário tem divulgado melhor as métricas em relação aos demais, com resultados mais elevados, porém com uma maior dispersão. Já as entidades de pagamentos registram resultado um pouco menor e maior dispersão. Enquanto as seguradoras possuem menor divulgação relativa das métricas, mas com a menor dispersão, sinalizando um desempenho mais homogêneo do segmento. Schur completa que “os resultados sugerem que as melhores divulgações são impulsionadas pelas maiores instituições de cada segmento nos países e que os grandes bancos brasileiros se destacam nessa agenda. Por outro lado, isso também indica que há ampla oportunidade de melhoria para o reporte de sustentabilidade das demais instituições financeiras”.
O Brasil tem as melhores instituições financeiras quando analisamos os reportes, mas também as piores. No recorte das 10 melhores, cinco são brasileiras, duas são chilenas, uma colombiana, uma mexicana e uma peruana. Já entre as 10 piores, nove são brasileiras e uma chilena.
Durante as análises percebe-se que, de modo geral, temas relacionados ao clima já estão mais presentes na regulação das instituições financeiras, principalmente bancos, e a médio prazo, espera-se que as divulgações relacionadas à carbono também avancem ainda mais, influenciadas por dois fatores: padrões ISSB, por meio das normas IFRS S1 e S2 e regulação bancária nacional, que teve uma consulta pública concluída pelo Banco Central, que prevê novas métricas para risco climático. “Mesmo que esses padrões sejam obrigatórios no Brasil apenas para companhias abertas a partir de 2026, ele se torna um benchmark para as divulgações de sustentabilidade em todos os setores e segmentos da economia”, afirma.
Em contrapartida, com a biodiversidade seguindo como a segunda pior dimensão reportada nas duas edições do estudo, reforça que as companhias ainda reportam de forma subjetiva ou sem destaque esse tema. “Mesmo com alguns avanços nessa agenda pela criação da Taskforce on Nature-related Financial Disclosure-TNFD (Força-Tarefa para divulgação relacionado à natureza), a divulgação de riscos financeiros relacionados à natureza não está definitivamente instituída nos padrões de reporte de sustentabilidade e não foi incorporada formalmente nas regulações nacionais no Brasil, de modo que as IFs ainda estão se desenvolvendo em relação ao assunto. Dessa forma, os relatórios existentes ainda são muito embrionários”, pontua Schur.
A análise desse ano também incluiu o critério de Cadeia de Suprimentos/Fornecedores como avaliação, que apareceu com uma pontuação de destaque. “Isso reforça que as companhias estão entendendo na prática todos os temas que abrangem o pilar social da agenda ESG e a importância de ter fornecedores alinhados com as estratégias da companhia para reforçar os negócios, credibilidade e reputação”, diz.
Por fim, as regulações, sugestões e obrigatoriedades devem funcionar para o espelhamento de tendências que se refletem amplamente no mercado nacional, promovendo o alinhamento dos relatórios de sustentabilidade do setor com práticas internacionais, maior comparabilidade e transparência, especialmente no que se refere à divulgação de impactos financeiros de sustentabilidade. “Ao falar da relevância dos temas ambientais e climáticos, as instituições financeiras serão desafiadas a desenvolver indicadores mais claros e relatórios mais detalhados, integrando estratégias de negócio e de comunicação com sustentabilidade. Afinal, transparência e percepção da criação de valor junto aos stakeholders são primordiais em um tema tão caro ao core business das instituições e fundamental para um desenvolvimento sustentável”, finaliza.
Metodologia e realidade brasileira
Essa metodologia de análise criada pela EY está fundamentada na divulgação de informações não financeiras e, a partir dos relatórios divulgados para o mercado, são analisadas mais de 100 métricas. “Dentre elas, consideramos o Fórum Econômico Mundial (WEF), Coalizão para o Capitalismo Inclusivo (EPIC), além da Sustainability Accounting Standard Board (SASB)”, conta o executivo.
O estudo identifica três tipos de alavancas de valor que contribuem para a geração de valor de longo prazo: pilar Humano, pilar Sociedade e pilar Consumidor. O primeiro avalia o impacto que uma empresa tem do ponto de vista social, ambiental e climático, considerando cadeia de suprimentos, regulação, comunidade e economia. O Humano, voltado para os colaboradores, avalia o valor criado por meio do emprego e desenvolvimento de pessoas, no que diz respeito à cultura, engajamento, liderança, expertise e habilidades. Já o Consumidor avalia o desenvolvimento e entrega de serviços que atendam às necessidades do consumidor, com ênfase em inovação, confiança e impactos positivos em suas vidas.
Além disso, para cada um dos indicadores selecionados, o time de analistas da EY Global atribuiu scores individualizados de 0 a 1 baseados na cobertura e efetividade da divulgação desses indicadores nos relatos integrados, relatórios anuais e relatórios de ESG e Sustentabilidade, quando existentes, de 2023 (ano base 2022) e 2022 (ano base 2021).
Os resultados do processo de pontuação das dimensões de divulgação das informações de sustentabilidade foram apresentados e validados junto às instituições financeiras analisadas. O recorte Brasil analisou 21 instituições financeiras brasileiras, entre bancos, cooperativas, seguradoras e gestoras de ativos, além de 12 companhias da América Latina (Chile, Colômbia, Peru e México).