Desastres naturais recentes, como o furacão Milton nos Estados Unidos, as intensas chuvas no Rio Grande do Sul e as queimadas no Brasil, ressaltam a necessidade urgente de inovações tecnológicas para reduzir os impactos climáticos no agronegócio. Durante a reunião do G20 no Rio de Janeiro, o tema do desenvolvimento sustentável evidenciou o potencial de tecnologias como inteligência artificial (IA) e robótica para criar um setor agrícola mais resiliente e sustentável, em conformidade com os três pilares ESG.
Estão cada vez mais presentes as discussões sobre soluções de impacto global, como a adoção de IA para prever eventos climáticos extremos e melhorar a tomada de decisões no campo. Estudos da FAO (Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura) mostram que a eficiência agrícola pode ser elevada em até 20% com o uso de IA para monitorar condições meteorológicas, gerenciar solos e otimizar colheitas, tornando-se uma ferramenta crucial para prevenir perdas de safra e garantir segurança alimentar.
Como a tecnologia pode prever desastres ambientais
Segundo a Organização Meteorológica Mundial (OMM), a IA e a robótica são ferramentas essenciais para a prevenção de desastres e a implementação de sistemas de alerta. A inteligência artificial, por exemplo, possibilita a otimização do uso de recursos naturais, como água e fertilizantes, minimizando o desperdício e a emissão de gases poluentes. Sensores de solo e drones monitoram as condições do campo em tempo real, auxiliando os agricultores a prever problemas e a adotar decisões mais sustentáveis. Isso não apenas aumenta a produtividade, mas também contribui para uma agricultura com menor impacto ambiental.
O especialista em dados e inovação e professor de MBA da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Kenneth Corrêa, explica que as catástrofes evidenciam os riscos associados às mudanças climáticas e aos fenômenos extremos. “A IA pode ajudar na prevenção e mitigação desses desastres ao analisar dados em tempo real. Isso permitiria alertar autoridades e comunidades vulneráveis com antecedência para evacuação e preparação adequada”.
Para o CEO da Advisor10X AgileTech e especialista em tecnologia e negócios, Antônio Muniz, a IA pode integrar sistemas de monitoramento e controle de infraestruturas críticas, como barragens, usinas nucleares e oleodutos. “Essa abordagem holística e tecnologicamente avançada é crucial para enfrentar os desafios das mudanças climáticas e garantir a segurança e resiliência das comunidades afetadas por desastres naturais”, declara.
Tecnologia robótica no campo
A robótica está transformando a agricultura com automação e precisão. Robôs agrícolas empregam sensores para avaliar a saúde das plantas e as condições do solo, enquanto robôs de colheita executam tarefas complexas de maneira eficiente, sem necessidade de intervenção humana. Essas máquinas conseguem reduzir o uso de fertilizantes e pesticidas químicos em até 50%, conforme a FAO, diminuindo o impacto ambiental e contribuindo para uma produção mais sustentável.
Esta tecnologia também oferece soluções para o manejo de animais. Robôs de ordenha automatizam o processo, aumentando a produtividade e monitorando a saúde dos animais em tempo real, detectando precocemente sinais de doenças e ajustando a frequência de ordenha conforme a necessidade de cada animal. Isso não só melhora a eficiência, mas também reduz os custos operacionais e promove o bem-estar animal.
“A robótica está permitindo que o agronegócio vá além da simples automação de tarefas. Com o uso de robôs equipados com sensores e algoritmos avançados, os agricultores podem tomar decisões mais precisas e sustentáveis. Esses robôs não apenas reduzem o uso de insumos, mas também ajudam a preservar ecossistemas ao minimizar o impacto ambiental das operações agrícolas,” afirma Rodrigo. “A eficiência trazida pela robótica está moldando uma nova era na agricultura, onde sustentabilidade e produtividade andam de mãos dadas.”
Demanda tecnológica no agronegócio
Empresas do agronegócio estão investindo pesado em tecnologias inovadoras para aprimorar suas operações e maximizar os resultados. Dados da Statista apontam que o mercado de IA no setor agrícola movimenta cerca de US$1,7 bilhão por ano, com previsão de alcançar US$ 4,7 bilhões até 2028. Esse fluxo de investimentos está promovendo uma verdadeira revolução digital no campo, transformando a forma como as empresas operam.
O Diretor de Desenvolvimento de Negócios da Keyrus, Rodrigo Cruz, destaca que a inteligência artificial tem um papel estratégico ao longo de toda a cadeia produtiva do agronegócio. “A cadeia do agronegócio é dividida em três fases: antes da porteira, dentro da porteira e depois da porteira e a IA pode ser aplicada em todas elas. A inteligência artificial apoia todos os elos dessa cadeia, seja na detecção de pragas utilizando as imagens de drones e satélites, que beneficiam a aplicação de insumos correta, gerando maior eficiência ao produtor, ou dando maior poder para os times comerciais da cadeia de distribuição de insumos, que com seus assistentes pessoais, agilizam e melhoram a qualidade do processo de vendas. E claro, para as empresas que estão depois da porteira, por exemplo, ganhando eficiência no processo de originação”.
Para o especialista, os principais benefícios estão na eficiência operacional e na experiência dos stakeholders, incluindo o produtor rural. A tecnologia desempenha um papel fundamental no desafio de aumentar a produção em áreas limitadas, levando em conta a sustentabilidade ambiental e a qualidade dos produtos. Um dos principais benefícios dessa ferramenta é sua capacidade de otimizar processos e incrementar a produtividade. Por meio de algoritmos avançados, é possível analisar grandes volumes de dados e gerar insights estratégicos em tempo real, o que facilita a tomada de decisões rápidas e bem fundamentadas.
Tecnologia no auxílio ao combate de queimadas e incêndios
Os incêndios no Brasil estão devastando as florestas e ameaçando a biodiversidade e a vida de comunidades inteiras. Em setembro de 2024, o WWF-Brasil relatou que Amazônia, Cerrado e Pantanal registraram recordes de queimadas. Comparado ao período homólogo, houve um aumento de 56% nos pontos de fogo na Amazônia, enquanto no Cerrado os registros subiram 121%; o Pantanal enfrenta a pior situação, com um aumento de 620% nos focos de incêndios. Se não contivermos o fogo agora, ele poderá devastar ainda mais.
Drones, satélites e sensores equipados com IA são capazes de monitorar extensas áreas em tempo real, detectando focos de calor antes que se transformem em grandes incêndios. Além disso, robôs terrestres podem ser usados para criar aceiros (barreiras de contenção), reduzir a vegetação em áreas de risco e até combater o fogo em locais onde seria perigoso para os bombeiros humanos.
Sistemas de análise de dados baseados em IA podem prever padrões de incêndio considerando fatores climáticos, como vento e umidade, além de históricos de queimadas. Essas tecnologias ajudam as equipes a planejar estratégias de prevenção e resposta, reduzindo danos ambientais e riscos para a população. No Brasil, iniciativas de monitoramento via satélite, como as do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), já são amplamente utilizadas e têm mostrado eficácia, embora precisem ser continuamente aprimoradas para acompanhar a intensidade crescente das queimadas.
“Essas inovações não são apenas soluções emergenciais, mas também representam uma transformação para o futuro do agronegócio. A combinação de inteligência artificial e robótica permite criar um setor agrícola mais eficiente, capaz de enfrentar os desafios climáticos e ambientais que ameaçam a segurança alimentar global e a sustentabilidade dos recursos naturais”, pontua Rodrigo Cruz.
No Brasil, onde as mudanças climáticas e os desastres naturais afetam diretamente as cadeias produtivas e as comunidades, investir em tecnologia para o setor agro é essencial. Empresas e instituições de pesquisa já desenvolvem soluções que incorporam inovações avançadas, impulsionando um agronegócio mais sustentável e preparado para o futuro.
Seguro no agronegócio e proteção de alto valor
Além das inovações tecnológicas, a contratação de seguros corporativos de alto valor tem se mostrado uma estratégia crucial para a mitigação de riscos no agronegócio, especialmente em grandes propriedades e operações de grande porte. O aumento na frequência e severidade de eventos climáticos extremos, como secas, enchentes e tempestades, reforça a necessidade de uma proteção robusta para equipamentos, instalações e colheitas. Sem essa cobertura, muitos produtores rurais correm o risco de interrupção de suas atividades, resultando em prejuízos financeiros que podem comprometer suas operações no longo prazo.
Em países como os Estados Unidos e o Brasil, o mercado de seguros agrícolas tem experimentado um crescimento significativo, impulsionado pela crescente conscientização sobre as vulnerabilidades do setor. Segundo dados da Federação Nacional de Seguros (FENASEG), a procura por seguros especializados para propriedades rurais aumentou cerca de 25% nos últimos cinco anos, refletindo uma maior percepção de risco por parte dos produtores. Em resposta a essa demanda, as seguradoras têm desenvolvido soluções cada vez mais personalizadas, que vão além da cobertura tradicional, incluindo também riscos relacionados à volatilidade dos mercados e às perdas produtivas.
“Os seguros especializados funcionam como uma camada adicional de proteção indispensável, complementando o uso de tecnologias e fortalecendo a resiliência das empresas agrícolas frente às mudanças climáticas,” explica a cofundadora da multinacional Vitae Group Insurance, Julia Queiroz Primo. Este tipo de abordagem integrada tem se mostrado fundamental para assegurar a continuidade e sustentabilidade das operações no setor.
Ao unir inovação e sustentabilidade, o Brasil pode não só mitigar os impactos das mudanças climáticas, mas também liderar uma revolução verde que alia produtividade e preservação ambiental. “A adoção dessas ferramentas, portanto, é urgente para que o setor agrícola continue prosperando e garantindo a segurança alimentar, mesmo diante de um cenário climático cada vez mais desafiador”, finaliza Rodrigo Cruz.