sábado, dezembro 7, 2024

59% das residências brasileiras separam resíduos antes do descarte, superando a média global

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Apesar do nível de separação de resíduos, o estudo aponta que essa prática é muito mais comum nas áreas urbanas, onde a coleta de resíduos é mais eficiente. Já as áreas rurais ainda carecem de serviços adequados, o que contribui para a queima de lixo a céu aberto. Esses dados foram obtidos pelo relatório global “Um Mundo de Resíduos: Riscos e Oportunidades na Gestão de Resíduos Domésticos”, desenvolvido com base em informações do World Risk Poll, produzido pela Lloyd’s Register Foundation em colaboração com especialistas do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (UNEP) e Engineering X. Os dados foram coletados pela empresa global de pesquisa Gallup, que conduziu 147 mil entrevistas em 142 países e territórios ao redor do mundo, e descobriu que algumas regiões, incluindo o Brasil, apresentam divisões marcantes entre faixas etárias na separação de resíduos.

No Brasil, a coleta de resíduos é muito mais frequente em áreas urbanas (97%) do que em áreas rurais (59%), refletindo uma desigualdade na infraestrutura de gestão de resíduos entre as regiões. Em áreas urbanas, quase nenhuma residência (menos de 5%) afirma queimar seus resíduos, enquanto, nas áreas rurais, mais de um terço (36%) das famílias ainda recorrem à queima. Esse contraste demonstra que as áreas urbanas no país estão mais avançadas nos processos de gestão de resíduos e este modelo precisa ser estendidos às regiões rurais.

No entanto, a desigualdade na coleta de resíduos não pode ser atribuída ao poder aquisitivo das famílias, uma vez que a maioria delas recebe serviços públicos de descarte de lixo. A expansão desses serviços para as áreas rurais, especialmente para as famílias mais pobres, seria uma medida essencial para reduzir a prática da queima a céu aberto.

Desafios de gestão de resíduos no Brasil

No Brasil, altos níveis de queima a céu aberto são observados em estados densamente florestados no norte do país, com metade (50%) das residências no Maranhão relatando que queimam seus resíduos. O Pará exibe práticas semelhantes, com 41% dos lares adotando a queima a céu aberto para o descarte de resíduos. Ambos os estados enfrentam desafios de infraestrutura similares aos de Assam, na Índia, onde a geografia e a distribuição populacional agravam os problemas de gestão de resíduos. No entanto, a aparente ausência de queima a céu aberto em domicílios no estado do Amazonas indica que soluções eficazes são possíveis nessa região.

Outro dado importante é que residências rurais com maior poder aquisitivo no Brasil têm maior probabilidade de contar com serviços públicos de coleta de resíduos e, consequentemente, são menos propensas a queimar seus resíduos. Isso evidencia a necessidade de expandir o acesso a esses serviços para promover maior equidade na gestão de descartes. Por outro lado, grandes áreas urbanas do sudeste, como Rio de Janeiro e São Paulo, não registram queima a céu aberto de resíduos domésticos. Entretanto, a gestão de resíduos em favelas informais enfrenta desafios específicos, que diferem das áreas urbanas formalizadas e das regiões rurais. A coleta irregular nessas comunidades é influenciada por fatores como geografia, acessibilidade e questões de segurança.

Para que a coleta de resíduos tenha seu valor máximo, é fundamental que os materiais sejam separados em diferentes contêineres. Essa prática pode contribuir diretamente para as metas de mitigação climática, reduzindo emissões de gases de efeito estufa e conservando recursos naturais. Separar os resíduos é crucial para maximizar o potencial da reciclagem e diminuir o volume de materiais destinados aos aterros.

Nancy Hey, Diretora de Evidências e Insights da Lloyd’s Register Foundation, destacou: “O descarte seguro e sustentável de resíduos é uma infraestrutura essencial, seja para o lixo doméstico ou para a desativação de grandes projetos de engenharia. No Brasil, a maioria das famílias já tem seus resíduos coletados, o que oferece uma oportunidade para que governo e população colaborem, separando os materiais antes do descarte para aumentar a sustentabilidade.”

O relatório aponta a necessidade urgente de desenvolvimento de uma infraestrutura de coleta aprimorada, que promova o descarte controlado de resíduos. “Medidas educativas ou incentivos só podem ter sucesso se houver uma infraestrutura adequada para lidar com materiais recicláveis após a coleta”, acrescenta Hey.

Plástico e orgânicos

No Brasil, os resíduos alimentares (orgânicos) são uma parte significativa dos resíduos domésticos (60%), no entanto, o descarte de plástico (30%) também está aumentando, especialmente nas regiões mais urbanizadas.

Segundo um estudo da Fundação Ellen MacArthur, se as tendências atuais continuarem, o volume anual de plástico despejado nos oceanos quase triplicará, passando de 11 milhões de toneladas em 2016 para 29 milhões em 2040. A quantidade total de plástico nos oceanos quadruplicará, chegando a mais de 600 milhões de toneladas — o que nos coloca a caminho de um cenário em que haverá mais plástico do que peixes nos oceanos até 2050.

Essas descobertas são apresentadas em um contexto alarmante no relatório, que destaca a escala global do descarte descontrolado de resíduos. Mundialmente, mais de dois em cada cinco indivíduos (41%) descartam seus resíduos de forma inadequada, enquanto apenas um terço (33%) das famílias separa seus resíduos e os têm coletados. Cerca de 14% das famílias no mundo relataram queimar seus resíduos como forma de descarte.

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