Rascunho de acordo indica que valor seria pago por países ricos e poderia aumentar para US$ 1,3 trilhão até 2035; especialistas criticam falta de substância a respeito da origem de recursos adicionais; ativistas ressaltam preocupação com soluções baseadas em empréstimos que podem piorar crise da dívida em países pobres.
Nesta sexta-feira, 22, foi divulgado o rascunho de um novo acordo financeiro global na 29ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança Climática, COP29, em Baku, Azerbaijão.
O texto propõe que os países ricos destinem US$ 250 bilhões por ano para ajudar as nações vulneráveis a lidar com as mudanças climáticas e acelerar a transição para energias renováveis.
US$ 1,3 trilhão até 2035
A proposta preliminar estabelece como meta alcançar “pelo menos US$ 1,3 trilhão até 2035”. No entanto, o documento não especifica se os recursos serão provenientes de doações, empréstimos ou do setor privado, deixando uma lacuna importante em como esses fundos serão obtidos.
As negociações iniciadas há duas semanas, estavam previstas para terminar nesta sexta-feira, mas devem continuar durante o fim de semana.
Representantes da sociedade civil e ativistas ambientais reagiram rapidamente ao novo rascunho. A representante da ONG 350.org, Namrata Chowdhary, classificou o resultado como “no mínimo, decepcionante”.
As equipes de negociação na COP29 em Baku, Azerbaijão, estão trabalhando para chegar a um acordo sobre um novo acordo de financiamento climático
“Um tapa na cara”
Para ela, a postura dos países ricos equivale a “um tapa na cara, um insulto”, pois estão “jogando com as vidas das pessoas em nações em desenvolvimento e em pequenas ilhas”.
A representante do Movimento dos Povos da Ásia sobre Dívida e Desenvolvimento, Lidy Nacpil, também expressou decepção, ressaltando que “o financiamento climático não deve vir na forma de empréstimos, porque isso aumenta o peso da dívida”.
Ela afirmou que “uma das questões que impedem países do Sul Global de realizar ações climáticas urgentes e de fornecer serviços essenciais às populações é o fardo da dívida”.
O ativista da Rede Internacional de Ação Climática, Jacobo Ocharan, enfatizou que todos os países em desenvolvimento devem “manter a coragem nas negociações para continuar pressionando, porque este acordo é terrível”. Para ele, nenhum acordo é melhor do que um acordo ruim.
O que está em jogo
A COP29 é também conhecida como “COP do Financiamento Climático”, pois é esperado como resultado central o estabelecimento de uma nova meta global, designada de Novo Objetivo Coletivo Quantificado.
Ela substituirá o atual objetivo de US$ 100 bilhões anuais, que expira em 2025.
Especialistas climáticos defendem que a nova meta anual fique entre US$ 1 trilhão e US$ 1,3 trilhão, valor que ajudaria as nações vulneráveis a enfrentar perdas e danos causados pelas mudanças climáticas. Os recursos também apoiariam esforços de adaptação a desastres e desenvolvimento de sistemas de energia limpa.
Na semana passada, em apoio a uma nova meta de financiamento, bancos multilaterais de desenvolvimento anunciaram um aumento significativo no financiamento climático para países de baixa e média renda. O valor atingirá US$ 120 bilhões anuais até 2030, com mais US$ 65 bilhões mobilizados do setor privado e projeções de crescimento desses valores até 2035. Com informações da Agência ONU.