Favelas e comunidades urbanas estão entre as áreas mais impactadas pelos atuais efeitos da crise climática. Entre elas, as chamadas comunidades hiper vulnerabilizadas, onde as moradias ainda são feitas de restos de madeira e sucata, as vias de terra e o acesso à água e saneamento é escasso, seguem sem políticas públicas pensadas para a sua realidade. É neste contexto que a TETO Brasil, organização que se dedica desde 2006 à superação da pobreza por meio da construção de casas e soluções de infraestrutura emergenciais nas favelas mais invisibilizadas do país, dá início ao projeto de construção de moradias resilientes. O novo modelo adotado pela ONG tem o objetivo de oferecer maior conforto e segurança aos moradores. A construção será feita no dia 24 de novembro, com moradores da comunidade City, no Campo Limpo, em São Paulo.
“Os moradores das favelas hiper vulnerabilizadas são os primeiros atingidos por tragédias ambientais como as que aconteceram do Sul ao Norte do país neste ano. Por isso, o projeto de moradias resilientes é tão urgente e revolucionário. Não podemos mais ignorar a emergência diária na qual as pessoas sobrevivem e precisamos promover condições de vida melhores às famílias que precisam parar de morar num piso de terra, em um barraco feito de restos de sucata e madeira. Sem soluções como esta, resistentes às ondas de chuva e calor que já chegaram, as famílias estão correndo risco de vida, detalha Camila Jordan, diretora executiva da TETO Brasil.
Antes da construção que vai ocorrer em São Paulo, a TETO fez uma versão piloto do projeto em uma comunidade em Recife, Pernambuco. Neste momento foram testadas as metodologias de construção para que então o voluntariado jovem mobilizado pela organização passe a multiplicar essas construções. Agora, a construção deve ocorrer com total protagonismo do voluntariado e da comunidade, na City, uma favela no Campo Limpo, que enfrenta alagamentos severos. Por lá, moradores relatam que à água que entra nas suas casas chegam a até 1m de altura.
Assim como em todos os projetos da organização, a participação das comunidades é indispensável. O projeto foi desenvolvido para promover a participação dos moradores na construção ou adaptação de suas próprias casas, empoderando as comunidades para enfrentar os desafios das mudanças climáticas.
Desenvolvida em parceria com a iniciativa Roof Over Our Heads e o Bank of America, a moradia resiliente também está sendo construída pela TETO| TECHO em outros países da América Latina. No Brasil, seu custo é um pouco mais elevado, cerca de 40% maior do que o custo da moradia emergencial tradicionalmente construída pela organização. Entretanto, ao longo do tempo essa diferença diminui para 10%, em razão da maior durabilidade dos materiais.
Para Camila, “o desafio da adaptação climática vai além de soluções técnicas; é a construção coletiva de soluções resilientes que fortalece o nosso futuro nas cidades”. A diretora da ONG complementa: “A questão da moradia precisa ser central para a construção de cidades adaptadas aos desafios climáticos que já estamos enfrentando e vamos enfrentar cada vez mais. A moradia é uma das peças centrais do imenso quebra-cabeça”.
Como é a moradia resiliente?
A moradia resiliente reúne diversas características que a tornam resistente às mudanças climáticas. Ela foi projetada com materiais e técnicas que oferecem maior conforto térmico e segurança aos moradores. Entre as principais características estão:
Estrutura Elevada (Pilotis): Eleva a moradia, reduzindo o impacto de alagamentos e ajudando a prevenir a entrada de insetos e roedores;
Painéis Plastificados: Melhoram o conforto térmico e proporcionam resistência a eventos extremos, como fortes chuvas e ventos;
Telhas Recicláveis: Contribuem para o conforto térmico e acústico, e o uso de materiais reciclados diminui o impacto ambiental;
Ventilação Natural: “Efeito chaminé” e ventilação cruzada controlam a umidade e reduzem a propagação de doenças, mantendo a temperatura agradável;
Modularidade e Sustentabilidade: O design modular facilita o transporte, reduz a pegada de carbono e permite a expansão da casa conforme a necessidade das famílias.
As moradias resilientes são parte de um modelo inovador, que busca não apenas mitigar o impacto dos desastres ambientais, mas também empoderar as comunidades para enfrentarem o futuro. “Essas soluções não resolvem todas as necessidades, mas representam um passo essencial para proteger as famílias de novos eventos extremos”, enfatiza Camila.